27
mar
2012
Trigo terá redução de área no Paraná
Preço baixo e dificuldade na comercialização são apontados como as principais causas do abandono do cereal. Triticultores mudam para o milho
Carlos Guimarães Filho
Pela terceira safra consecutiva, o trigo terá redução de área no Paraná. Levantamento realizado pela Gazeta do Povo junto a dez cooperativas paranaenses, que detêm 60% das lavouras dedicadas ao cereal, mostra queda de 19,3% no plantio 2012 em relação à safra anterior, quando foram destinados 1,05 milhão hectares à triticultura.
Se depender das cooperativas consultadas, o cultivo de trigo não deve ultrapassar os 850 mil hectares neste ano. O último registro de área inferior a 1 milhão de hectares foi em 2007 – 838 mil hectares.
O setor produtivo é unânime em apontar os baixos preços e a dificuldade de comercialização como os principais problemas enfrentados pelos triticultores paranaenses. Nos últimos anos, centenas de produtores deixaram a triticultura de lado no inverno, optando pelo milho safrinha ou mesmo por alternativas que servem apenas para cobertura do solo.
“Os motivos para a redução já são conhecidos. O pessoal brinca que somente continua plantando quem é teimoso e quer ter fortes emoções”, afirma Robson Mafioletti, analista técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
A cooperativa Integrada, em Londrina, contabiliza, pelo terceiro ano seguido, diminuição no número de triticultores. Em 2010 foram 1.802 produtores e no ano seguinte 1.396. “Esse ano serão pouco mais de 1.200 cooperados”, conta o gerente técnico, Irineu Baptista.
O cenário é semelhante na Castrolanda, em Castro, nos Campos Gerais, onde quem não abandona a atividade reduz a área plantada ao longo dos anos. “Entre 3% e 5% [dos cooperados] reduzem ou abandonam a atividade todo ano”, aponta gerente de Negócios, Márcio Capacheski.
O produtor Fernando Fagundes do Santos, de Campo Mourão, no Centro-Oeste do Paraná, não suportou as irregularidades do mercado e substituiu o cereal por outras culturas. “O trigo virou uma novela”, diz.
Para o plantio, que começa em abril, os 60 hectares que eram cobertos com o cereal até 2010 serão destinados ao milho safrinha e à aveia branca. “Como as culturas de verão foram ruins em função da estiagem, não posso mais perder dinheiro. A expectativa [com milho safrinha e aveia] é diminuir o prejuízo”, ressalta. Santos contabilizou quebra de 20% na produtividade de milho e 22% na soja.
Futuro duvidoso
Apesar do momento crítico, a cadeia produtiva do estado demonstra interesse na recuperação do setor do trigo. Profissionais e produtores acreditam que a adoção de uma política pública estimulante despertaria o interesse pelo cereal. “Nenhuma cultura, por mais benefícios agronômicos que traga, se mantém sem um mínimo de remuneração ao produtor. [Uma política pública] faria com que os produtores dessem uma resposta positiva, plantando e acreditando no trigo”, ressalta Baptista.
O produtor Fernando confirma que retomaria o plantio de trigo. “É uma boa lavoura. Pena que ficou caro plantar, ainda mais sem garantia de retorno”, resume.
Trigo gaúcho
A redução no plantio deve fazer com que o Paraná perca o posto de maior produtor nacional de trigo. O Rio Grande do Sul, segundo no ranking, tem ampliado a área cultivada a cada safra. Com menos chuvas e luminosidade, o estado não planta milho safrinha em escala comercial.
As instituições que monitoram as lavouras gaúchas ainda não têm projeção para o plantio 2012, mas a expectativa é de crescimento sobre os 870 mil hectares de 2011. “Em função da estiagem e das dificuldades financeiras, os produtores devem buscar no trigo um fôlego”, explica Luiz Ataides Jacobsen, assistente técnico da Emater gaúcha.
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Carlos Guimarães Filho
Pela terceira safra consecutiva, o trigo terá redução de área no Paraná. Levantamento realizado pela Gazeta do Povo junto a dez cooperativas paranaenses, que detêm 60% das lavouras dedicadas ao cereal, mostra queda de 19,3% no plantio 2012 em relação à safra anterior, quando foram destinados 1,05 milhão hectares à triticultura.
Se depender das cooperativas consultadas, o cultivo de trigo não deve ultrapassar os 850 mil hectares neste ano. O último registro de área inferior a 1 milhão de hectares foi em 2007 – 838 mil hectares.
O setor produtivo é unânime em apontar os baixos preços e a dificuldade de comercialização como os principais problemas enfrentados pelos triticultores paranaenses. Nos últimos anos, centenas de produtores deixaram a triticultura de lado no inverno, optando pelo milho safrinha ou mesmo por alternativas que servem apenas para cobertura do solo.
“Os motivos para a redução já são conhecidos. O pessoal brinca que somente continua plantando quem é teimoso e quer ter fortes emoções”, afirma Robson Mafioletti, analista técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
A cooperativa Integrada, em Londrina, contabiliza, pelo terceiro ano seguido, diminuição no número de triticultores. Em 2010 foram 1.802 produtores e no ano seguinte 1.396. “Esse ano serão pouco mais de 1.200 cooperados”, conta o gerente técnico, Irineu Baptista.
O cenário é semelhante na Castrolanda, em Castro, nos Campos Gerais, onde quem não abandona a atividade reduz a área plantada ao longo dos anos. “Entre 3% e 5% [dos cooperados] reduzem ou abandonam a atividade todo ano”, aponta gerente de Negócios, Márcio Capacheski.
O produtor Fernando Fagundes do Santos, de Campo Mourão, no Centro-Oeste do Paraná, não suportou as irregularidades do mercado e substituiu o cereal por outras culturas. “O trigo virou uma novela”, diz.
Para o plantio, que começa em abril, os 60 hectares que eram cobertos com o cereal até 2010 serão destinados ao milho safrinha e à aveia branca. “Como as culturas de verão foram ruins em função da estiagem, não posso mais perder dinheiro. A expectativa [com milho safrinha e aveia] é diminuir o prejuízo”, ressalta. Santos contabilizou quebra de 20% na produtividade de milho e 22% na soja.
Futuro duvidoso
Apesar do momento crítico, a cadeia produtiva do estado demonstra interesse na recuperação do setor do trigo. Profissionais e produtores acreditam que a adoção de uma política pública estimulante despertaria o interesse pelo cereal. “Nenhuma cultura, por mais benefícios agronômicos que traga, se mantém sem um mínimo de remuneração ao produtor. [Uma política pública] faria com que os produtores dessem uma resposta positiva, plantando e acreditando no trigo”, ressalta Baptista.
O produtor Fernando confirma que retomaria o plantio de trigo. “É uma boa lavoura. Pena que ficou caro plantar, ainda mais sem garantia de retorno”, resume.
Trigo gaúcho
A redução no plantio deve fazer com que o Paraná perca o posto de maior produtor nacional de trigo. O Rio Grande do Sul, segundo no ranking, tem ampliado a área cultivada a cada safra. Com menos chuvas e luminosidade, o estado não planta milho safrinha em escala comercial.
As instituições que monitoram as lavouras gaúchas ainda não têm projeção para o plantio 2012, mas a expectativa é de crescimento sobre os 870 mil hectares de 2011. “Em função da estiagem e das dificuldades financeiras, os produtores devem buscar no trigo um fôlego”, explica Luiz Ataides Jacobsen, assistente técnico da Emater gaúcha.