26
abr
2011
Trigo recua no PR e cresce no RS

Paranaenses se dedicam ao milho enquanto gaúchos apostam na alta das cotações do cereal de inverno devido à redução dos estoques

José Rocher

Mesmo com preços em alta, o trigo deve ter redução significativa de área no Paraná, mostram os números do setor. Levantamento junto a oito cooperativas do estado, que é o maior produtor do cereal no país, indica recuo de 7,7% no plantio. Isso limita o cultivo a 1,08 milhão de hectares nos campos paranaenses. Os números contrastam com o que ocorre no Rio Grande do Sul, onde as projeções técnicas apontam avanço de ao menos 10% na área cultivada, para perto de 870 mil hectares.

Os números se consolidam com o avanço do plantio, que chega perto de 50% na região de Londrina. Em todo o Paraná, perto de 20% das lavouras já foram semeadas. Como a previsão é de queda na produtividade de 2,9 mil para 2,8 mil quilos por hectare, a produção pode despencar 15%, para 2,9 milhões de toneladas.

Os preços internos – que não têm acompanhado as altas internacionais – e os riscos de produção – num inverno com previsão de seca –, empurram os produtores para outras culturas, analisa o assessor técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafio­­­letti. O milho de inverno se mostra vantajoso neste momento e não há incentivo para a produção de trigo, acrescenta.

“O governo reduziu os preços mínimos em 10% e, até poucos dias atrás, não havia prorrogado as novas exigências de padrão (que entram em vigor em 2011)”, aponta. “As cotações do trigo no mercado internacional subiram 60%, mas no mercado interno tiveram reajuste de apenas 15%”, compara.

Essa tendência do mercado internacional tem sido suficiente para estimular os agricultores do Rio Grande do Sul, que não plantam milho de inverno por causa do clima desfavorável, observa o especialista em grãos da Emater gaúcha, Ataídes Jacobsen. As estimativas oficiais sobre o plantio do estado saem nos próximos dias. A alta de 10% é considerada conservadora. Os fornecedores de sementes projetam elevação de área de até 25%, ou seja, para mais de 1 milhão de hectares, praticamente igualando a área gaúcha à paranaense.

Essa expansão ocorre mesmo sem reajuste no preço da saca de 60 quilos pago ao produtor gaúcho, hoje em R$ 24 – R$ 2 a menos do que o oferecido ao produtor no Paraná. A cotação está R$ 4 abaixo da média histórica do Rio Grande do Sul. Os paranaenses mostram-se desestimulados mesmo tendo alcançado produtividade de 2,9 mil quilos por hectare na safra passada, 400 quilos a mais do que nas lavouras gaúchas. A Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento (Seab) projeta recuo de 11% no cultivo, três pontos acima do previsto pelas cooperativas.

Em âmbito nacional, ainda não há previsão sobre o tamanho da safra. Pelos números do Paraná e do Rio Grande do Sul, que concentram 90% da produção do país, área tende a se estagnar na faixa de 2,2 milhões de hectares. Em 2009, foram dedicados ao cereal 300 mil hectares a mais.

A situação mantém a dependência do trigo importado. Como a produção não acompanha o consumo, os estoques podem cair pelo terceiro ano consecutivo. Em 2010, foram consumidas 500 mil toneladas das reservas, sobrando 1,5 milhão de toneladas, o suficiente para um mês e meio de consumo interno. O setor já vinha de uma redução de 680 mil toneladas registrada em 2009, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Em âmbito internacional, os estoques também estão em queda. No último ano, passaram de 198 milhões para 183 milhões de toneladas, conforme o Departa­­mento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA.


Fonte: Gazeta do Povo

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