Pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, indicam que, considerando-se o consumo de trigo relativamente estável no Brasil, a colheita recorde em 2016 (de 6,726 milhões de toneladas, segundo a Conab) indicava uma possível diminuição no volume a ser importado no correr deste ano-safra (agosto/16 a julho/17; o ano-safra considerado pela Conab vai de agosto de um ano a julho do ano seguinte). Porém, nos oito primeiros meses do ano-safra, as importações acumuladas são as maiores em pelo menos 21 anos – período disponível na Secex com a nova Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM).
Diante da maior oferta interna, pesquisadores do Cepea indicam que os preços do trigo, no geral, registram movimento de queda desde agosto de 2016, período que antecede a entrada da safra nacional. De acordo com dados do Cepea, no Paraná, maior estado produtor do cereal, na parcial desta safra (de agosto/16 a março/17), o valor médio do trigo está em R$ 589,16/tonelada no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e em R$ 659,38/t no de lotes (negociações entre empresas), ambos 13% inferiores aos do mesmo período da temporada anterior, em termos reais (valores foram deflacionados pelo IGP-DI).
Quanto às importações brasileiras, entre agosto/16 e março/17, somaram 5,16 milhões de toneladas de trigo, quantidade 46% superior à do mesmo período da safra anterior (de agosto/15 a março/16). Ao somar aos estoques iniciais do ano-safra (Conab), em agosto/16, com a produção de 2016, a disponibilidade interna chega a 12,7 milhões de toneladas, contra 12,23 milhões em toda a safra anterior (agosto/15 a julho/16). Ainda que a Conab estime importações brasileiras de 5,95 milhões de toneladas entre agosto/16 e julho/17, pesquisadores do Cepea comentam que o ritmo das compras externas nos últimos meses indica que o volume deve ser muito maior, considerando-se que ainda restam quatro meses para o encerramento do ano-safra.
Somente em março, as importações cresceram 22% em relação a fevereiro, somando 588,12 mil toneladas, mas foram 7% inferiores às de março/16. Do volume importado, a Argentina respondeu por 85,19%, os Estados Unidos, por 11,33% e o Paraguai, por 3,47% – dados da Secex. Já as exportações diminuíram 40% de fevereiro para março, totalizando 125,63 mil toneladas. Entre agosto/16 e março/17, foram exportadas 526,7 mil toneladas, 43% abaixo do volume embarcado no mesmo período da temporada anterior (de agosto/15 a março/16), de 929,28 mil toneladas, ainda segundo a Secex.
SAFRA 2017 – Pesquisadores do Cepea indicam que, num cenário em que a produção nacional representa pouco mais da metade de demanda doméstica e, ainda assim, vendedores veem nas exportações oportunidades de negócios mais atrativos, certamente há necessidade de alternativas que visem a sustentabilidade da cadeia produtiva. Em 2017, a área com trigo deve se reduzir, justamente devido à baixa liquidez que prevalece na comercialização e também ao fato de que os preços de venda não cobrem nem mesmo os custos operacionais agrícolas – e muito menos os custos fixos, de acordo com estudos do Cepea.
Por enquanto, chuvas em algumas regiões produtoras do Paraná na semana passada devem favorecer o começo e/ou avanço do semeio de trigo da temporada de 2017. Os trabalhos de campo já se iniciaram especialmente no norte do estado. No Rio Grande do Sul, produtores estão preocupados com as menores rentabilidades e liquidez do trigo frente a outras culturas, o que deve resultar em menor área neste ano. No geral, produtores sul-rio-grandenses começam a planejar as atividades.
Fonte: Cepea/Esalq
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