Os moinhos independentes no Brasil estão ficando sem matéria prima e sem condição de cumprir seus contratos de farinha. A única opção, no momento, para os moinhos do Paraná, é o trigo paraguaio, que chega a preços razoáveis, mas cujos vendedores também estão elevando as suas pedidas. A informação é do analista sênior da Consultoria Trigo & Farinhas, Luiz Carlos Pacheco.
De acordo com o especialista, isso cria um dilema: “ou pagam o que os vendedores de grão pedem (estourando os seus custos), ou não honram os seus contratos de farinha. Um dos moinhos nos disse que não faz mais contratos longos, mas de no máximo de três meses, para poder renegociar os preços. O problema é que, ao final do contrato, sempre tem outro concorrente com preço mais baixo”.
Pacheco alista as causa do desaparecimento do trigo brasileiro: “Da parte do produtor, como já tem cerca de 85% do trigo comercializado e pagou as contas deste cereal, agora está mais preocupado em colher e aproveitar os excelentes preços do milho (média de R$ 34,00/saca no Paraná, lucro de 28,7% e R$ 36,35 no Rio Grande do Sul, lucro de 37%, contra o custo de produção) e em colher e comercializar a soja (lucro atual de 33,63%) do que em vender o trigo, cujos preços não andam, por conta da retração da demanda de subprodutos de farinhas. Então, ou não coloca oferta no mercado ou pede muito alto (R$ 850,00 FOB, nível no qual ainda não vimos nenhum negócio feito de trigo comum, só para melhorador)”.
“Da parte das cooperativas, há também duas situações: as que tem moinho, estão guardando os lotes para seu próprio uso (porque está difícil conseguir trigo nacional de qualidade para repor e os importados estão muito caros no Sul); as que não tem estão guardando à espera da alta dos preços. Os cerealistas estão à espera da autorização dos agricultores para fechamento de lotes, mas eles estão retraídos, como vimos acima, o que os deixa (os cerealistas) de mãos atadas”, conclui.