09
ago
2011
Trigo abaixo do preço de custo
Após quebras climáticas, Paraná enfrenta rentabilidade abaixo da esperada. Redução no plantio limitou oferta, mas não elevou preços

Cassiano Ribeiro

Às vésperas da colheita, os produtores de trigo do Paraná se deparam com preço abaixo do custo. O plantio foi reduzido em 13% e, com as quebras climáticas (por geada e chuva), a produção tende a cair 27%. Porém, mesmo com a redução de 920 mil toneladas – que vai limitar a safra paranaense a 2,5 milhões de toneladas, conforme a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) –, o valor pago ao produtor não alcança o mínimo estipulado pelo governo federal (R$ 28,62 por saca de 60 kg, tipo 1 pão). A cotação segue entre R$ 25 e R$ 26/sc, diante de um custo avaliado em R$ 30/sc pelo setor.

Maior produtor nacional, com 52% da colheita, o Paraná não recebe do mercado estímulo para ampliar o cultivo, apesar de o país precisar importar metade das 10,5 milhões de toneladas que consome. A influência da produção paranaense nos preços tem sido reduzida, a ponto de a comercialização ficar travada na hora da colheita, quando os moinhos se dizem abastecidos e o produtor prefere armazenar o cereal a vender pelo preço médio.

O cenário de preço abaixo do custo, neste ano, é atribuído ao aumento da oferta mundial do produto. A tendência, segundo especialistas, é que essa pressão prevaleça até a colheita.

“A quebra do Paraná deve passar quase despercebida pelo mercado, porque a maior influência dos preços vem de fora. Como a produção global está crescendo, acredito que o preço mínimo estipulado pelo governo deverá ser um bom valor de venda”, avalia Élcio Bento, analista da Safras e Mercado, de Porto Alegre (RS). Ele considera que a colheita de 5,4 milhões de toneladas de trigo esperada para esta temporada não mudará a situação no país. “A vocação do Brasil é importar trigo”, sentencia.

A previsão de produção do país de 5,4 milhões de toneladas tende a ser revisada para baixo, pelas perdas registradas no Paraná. A Companhia Nacio­­nal de Abastecimento (Conab) já admite redução de 400 mil toneladas e divulgará novo levantamento nos próximos dias. O Rio Grande do Sul, segundo maior produtor, com 37% da safra, deve compensar parte da quebra paranaense. Ampliou o plantio em 7% e pode ter colheita 6% maior, de 2 milhões de toneladas. Nos dois estados líderes em produção, no entanto, ainda podem haver perdas em dois terços das lavouras – que estão em fase de floração e frutificação – pela ocorrência de geada ou chuva em excesso.

O quadro está fazendo com que os agricultores desistam do trigo. Não se trata mais só de amaeça. Depois de uma sequência de prejuízos, José Roberto Mortari, de Londrina (Norte), abandonou o cereal. “Sempre plantei com seguro, mas, mesmo assim, enquanto o custo de produção estiver acima de R$ 30 por saca e o governo pagar preço mínimo equivalente, plantar dá prejuízo. Para garantir rotatividade de culturas na fazenda, Mortari planta milho e aveia no inverno.

Diante das dificuldades vividas pelos agricultores, o agrônomo Robson Mafioletti, assessor técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), chama a atenção para a importância do trigo. “Apesar dos custos elevados, o produtor não pode parar de produzir no inverno. Se a produção acabar no Brasil, a dependência externa aumenta e isso pode inviabilizar os moinhos.”

Ele argumenta que o trigo brasileiro tem qualidade. Mesmo assim, somente produtividades de 3 mil quilos por hectare estariam sustentando a triticultura. A marca média do Paraná ano passado foi de 2,95 mil quilos por hectare, mas tende a cair a 2,58 mil nesta safra. Neste sentindo, ainda há um longo caminho pela frente. Em países líderes em produtividade, como a França, o clima ga­­­rante mais de 10 toneladas por hectare.

Fonte: Gazeta do Povo
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