De acordo com a Consultoria Trigo & Farinhas, a vida dos moinhos em 2016 não foi fácil, exigindo malabarismos comerciais e financeiros para sobreviver. “Não foi à toa que alguns moinhos fecharam. Alguns não conseguiram, ou saíram muito arranhados. Chegar ao fim de dois anos de dificuldades imensas e sobreviver não é para poucos”, avalia o analista sênior da T&F, Luiz Carlos Pacheco.
Por um lado, os preços das matérias primas caíram no ano mais do que o preço das farinhas. O trigo doméstico caiu ao redor de 21% e o trigo pão caiu ao redor de 14%, contra média de 4,63% das farinhas industriais e 20% das farinhas de panificação. No entanto, os demais componentes dispararam, tais como energia (52%), combustíveis (47%) e salários (10-12% líquidos).
Segundo Pacheco, as dificuldades maiores vieram da cadeia de farinhas industriais, que tiveram uma retração de 50% na demanda em 2015 e mantiveram este percentual em 2016, ambos em relação a 2014, à medida que o país atingia 12 milhões de desempregados.
“A dificuldade, porém, foi maior do que isto, porque as fábricas de biscoitos e massas, além da redução de metade da sua demanda, sofreram também com a inadimplência, que colocou em risco a sua saúde financeira e a dos moinhos que lhes forneceram farinha. Com uma demanda retraída, a saída das indústrias (erradamente) sempre foi a de conseguir preços menores para atrair o consumidor (que não funcionou, como vimos). A solução era o marketing: quem fez, se deu bem e até aumentou os negócios”, comenta.
Já as farinhas de panificação tiveram uma redução de demanda menor: 5% em 2015 e 8% em 2016. Dois fatores contribuíram para isto: a) o pãozinho e as farinhas de 1kg são itens mais ou menos essenciais no café da manhã do brasileiro ou como matéria prima de quem perde o emprego (o primeiro impulso sempre é fazer doces e salgados para vender); b) geralmente as padarias aceitam melhor e conseguem repassar melhor os aumentos de preço do que as indústrias de massas e biscoitos.