04
set
2012
Supersafra sem lastro logístico
Armazéns, estradas e portos terão sobrecarga de soja e milho ainda maior do que na última temporada. Agronegócio corre contra o tempo para evitar apagão
José Rocher
O Brasil está se lançando numa supersafra de soja e milho que estabelece novos patamares em todas as fases da produção, da compra de insumos – que já enfrenta filas de navios e atraso nas entregas – ao escoamento dos grãos – que deve perigosamente se concentrar em fevereiro e março. Representantes dos produtores e da indústria correm contra o tempo para evitar um apagão logístico.
Além da expansão da área cultivada, principalmente na soja, o clima previsto é favorável ao cultivo e os agricultores estão investindo alto em tecnologia. O aumento da produção numa época de preços recordes seria motivo de comemoração antecipada para o agronegócio brasileiro, se não fosse o risco de o escoamento ficar travado. Armazéns, estradas e portos enfrentarão sobrecarga ainda maior que a de 2011/12 em todo o país – principalmente no Paraná e em São Paulo, que exportam dois terços da soja e do milho e seus derivados.
E não se trata apenas de um alerta. Em Mato Grosso, a safra de milho de inverno, que rendeu 15,6 milhões de toneladas, está sendo estocada a céu aberto. Montanhas de grãos em volta de silos lotados evidenciam escassez de armazéns e dificuldade no transporte da produção. No verão, quando as chuvas são mais comuns, não será possível deixar a produção sem cobertura.
O plantio da próxima safra começa no meio deste mês, mas o agronegócio tem pouco tempo para evitar que a situação se agrave na colheita, a partir de dezembro. A Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), focada nos problemas mais ligados aos agricultores, e a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), responsável pelo encaminhamento das demandas das processadoras, pressionam o governo para que adie a regulamentação da profissão de caminhoneiro, como medida paliativa.
O temor é de que, além das limitações da malha rodoviária – da qual dependem dois terços do escoamento da produção –, faltem caminhões e motoristas. Pela nova legislação, que começa a ser implantada, os caminhoneiros deverão fazer intervalos de 30 minutos a cada quatro horas. Por dia, vão parar 11 horas (com um descanso ininterrupto de 9 horas). O descumprimento implica em infração grave, multa e retenção do veículo. O quadro, que garante direitos básicos à categoria, ameaça reduzir em um terço o desempenho da frota atual, conforme o setor.
“Com uma produção de 81 milhões de toneladas de soja, o sistema de logística do país será mais testado do que nunca. Os problemas vão transparecer de maneira muito forte”, afirma Fabio Trigueirinho, secretário-geral da Abiove. “A nova legislação é relevante para o caminhoneiro e a segurança no trânsito. A dificuldade é a implementação. Precisamos de pelo menos um ano.”
Em sua avaliação, será necessário um “plano de guerra” para garantir o escoamento da supersafra. Antecipar a contratação de frete não tem sido suficiente para dissolver o risco de a produção ficar retida no campo. A Aprosoja informa que essa programação é sempre parcial e que os preços do frete rodoviário já estão sendo reajustados.
O transporte de uma tonelada de grão de Mato Grosso até os portos de Paranaguá e Santos passou da faixa de R$ 250 para a de R$ 300, conforme a associação. “Estão falando de reajustes de até 50%”, afirma o presidente da Aprosoja e do Movimento Pró-Logística, criado em 2009 para monitorar a infraestrutura acessada pelo setor, Carlos Fávaro.
A concentração do escoamento entre fevereiro e março é dada como certa. Não só pelas vendas antecipadas terem atingido 40% do volume de soja a ser colhido, quatro vezes o índice desta mesma época do ano passado, conforme a consultoria Safras & Mercado. Como os estoques internacionais estão baixos e a produção dos Estados Unidos é menor que a esperada, o mercado estará disputando soja no início de 2013. Quem colher primeiro terá chance de aproveitar os preços de balcão. Confirmada a supersafra no país, maior exportador de soja nesta temporada, as cotações tendem a baixar.
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José Rocher
O Brasil está se lançando numa supersafra de soja e milho que estabelece novos patamares em todas as fases da produção, da compra de insumos – que já enfrenta filas de navios e atraso nas entregas – ao escoamento dos grãos – que deve perigosamente se concentrar em fevereiro e março. Representantes dos produtores e da indústria correm contra o tempo para evitar um apagão logístico.
Além da expansão da área cultivada, principalmente na soja, o clima previsto é favorável ao cultivo e os agricultores estão investindo alto em tecnologia. O aumento da produção numa época de preços recordes seria motivo de comemoração antecipada para o agronegócio brasileiro, se não fosse o risco de o escoamento ficar travado. Armazéns, estradas e portos enfrentarão sobrecarga ainda maior que a de 2011/12 em todo o país – principalmente no Paraná e em São Paulo, que exportam dois terços da soja e do milho e seus derivados.
E não se trata apenas de um alerta. Em Mato Grosso, a safra de milho de inverno, que rendeu 15,6 milhões de toneladas, está sendo estocada a céu aberto. Montanhas de grãos em volta de silos lotados evidenciam escassez de armazéns e dificuldade no transporte da produção. No verão, quando as chuvas são mais comuns, não será possível deixar a produção sem cobertura.
O plantio da próxima safra começa no meio deste mês, mas o agronegócio tem pouco tempo para evitar que a situação se agrave na colheita, a partir de dezembro. A Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), focada nos problemas mais ligados aos agricultores, e a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), responsável pelo encaminhamento das demandas das processadoras, pressionam o governo para que adie a regulamentação da profissão de caminhoneiro, como medida paliativa.
O temor é de que, além das limitações da malha rodoviária – da qual dependem dois terços do escoamento da produção –, faltem caminhões e motoristas. Pela nova legislação, que começa a ser implantada, os caminhoneiros deverão fazer intervalos de 30 minutos a cada quatro horas. Por dia, vão parar 11 horas (com um descanso ininterrupto de 9 horas). O descumprimento implica em infração grave, multa e retenção do veículo. O quadro, que garante direitos básicos à categoria, ameaça reduzir em um terço o desempenho da frota atual, conforme o setor.
“Com uma produção de 81 milhões de toneladas de soja, o sistema de logística do país será mais testado do que nunca. Os problemas vão transparecer de maneira muito forte”, afirma Fabio Trigueirinho, secretário-geral da Abiove. “A nova legislação é relevante para o caminhoneiro e a segurança no trânsito. A dificuldade é a implementação. Precisamos de pelo menos um ano.”
Em sua avaliação, será necessário um “plano de guerra” para garantir o escoamento da supersafra. Antecipar a contratação de frete não tem sido suficiente para dissolver o risco de a produção ficar retida no campo. A Aprosoja informa que essa programação é sempre parcial e que os preços do frete rodoviário já estão sendo reajustados.
O transporte de uma tonelada de grão de Mato Grosso até os portos de Paranaguá e Santos passou da faixa de R$ 250 para a de R$ 300, conforme a associação. “Estão falando de reajustes de até 50%”, afirma o presidente da Aprosoja e do Movimento Pró-Logística, criado em 2009 para monitorar a infraestrutura acessada pelo setor, Carlos Fávaro.
A concentração do escoamento entre fevereiro e março é dada como certa. Não só pelas vendas antecipadas terem atingido 40% do volume de soja a ser colhido, quatro vezes o índice desta mesma época do ano passado, conforme a consultoria Safras & Mercado. Como os estoques internacionais estão baixos e a produção dos Estados Unidos é menor que a esperada, o mercado estará disputando soja no início de 2013. Quem colher primeiro terá chance de aproveitar os preços de balcão. Confirmada a supersafra no país, maior exportador de soja nesta temporada, as cotações tendem a baixar.