Com a rentabilidade da temporada 2015/16 atrativa, podendo ser maior que a da anterior, a soja se mantém competitiva em relação a outras culturas, seguindo na liderança em área cultivada no Brasil. Assim, a próxima safra deve bater novo recorde de produção. No final de dezembro, os preços no mercado interno estavam maiores que os de 2014, mas em dólar, bem menores. Segundo levantamentos do Cepea, até dezembro, cerca de 40% de toda a produção da oleaginosa já havia sido comercializada.
No final do último mês, o cultivo de soja estava na reta final, especialmente na região denominada de “Matopiba”, ao mesmo tempo que a colheita no Paraná e em Mato Grosso se aproximava. As poucas chuvas em várias regiões do Cerrado brasileiro entre final de novembro e dezembro, no entanto, causam preocupação.
Em dezembro, a Conab divulgou estimativa de que a soja ocupe 33,2 milhões de hectares na temporada 2015/16, crescimento acumulado de 45,9% nos últimos 10 anos-safra. No mesmo período, a produtividade deu um salto de 27,6%, tomando-se como referência os números previstos para a temporada atual (3.087 kg/ha), o que elevou a oferta em 86,2%, caso sejam confirmadas as 102,5 milhões de toneladas previstas para a safra corrente – todos números recordes.
Da oferta nacional, a estimativa da Conab é de que 44,5 milhões de toneladas sejam processadas internamente e 57,5 milhões de toneladas da soja em grão, exportadas – também recordes. O processamento interno deve gerar 31,19 milhões de toneladas de farelo, sendo que 15,5 milhões de toneladas devem ser consumidas internamente e volume equivalente, exportado. Também devem ser gerados 7,9 milhões de toneladas de óleo de soja, com 6,4 milhões de toneladas sendo direcionadas ao mercado interno e 1,4 milhão de toneladas, exportadas.
No geral, produtores brasileiros apostam que o dólar permanecerá em níveis elevados. De acordo com levantamentos da equipe de custos agrícolas do Cepea, considerando-se a compra de todos os insumos para a cultura da soja a preços de novembro/15 e a venda de toda a produção no mesmo mês, mantendo-se a tecnologia adotada na safra 2014/15, a rentabilidade média seria de 17,2% sobre o custo total. Em novembro de 2014, o rendimento era de 12,5%. Para esses cálculos, foram considerados os custos e receitas das regiões de Carazinho (RS), Londrina (PR), Cascavel (PR), Dourados (MS), Rio Verde (GO), Sorriso (MT), Primavera do Leste (MT), Uberaba (MG) e Barreiras (BA).
Com tais parâmetros, produtores têm se apressado para negociar. Levantamentos do Cepea apontam que cerca de 40% da produção esperada já foi vendida; o Imea indica 55,3% para Mato Grosso (em face de 34% há ano) e o Deral/Seab, 33,4% para o Paraná (contra 10% no final de 2014).
Na última quinzena de dezembro na Bolsa de Chicago (CME Group), o contrato Jan/16 estava cerca de 15% menor que o ano anterior, dificultado a competitividade da soja brasileira. O contrato Nov/16 estava apenas cerca de 2% maior que o Jan/16, indicando que não deve haver mudança expressiva nos patamares naquela Bolsa ao longo ano.
A situação é semelhante para os contratos FOB exportação. Tomando-se como referência as cotações em Paranaguá (PR), os negócios realizados na primeira quinzena deste mês para embarque entre fevereiro e julho de 2016 tiveram média de US$ 19,80/sc de 60 kg, com poucas variações entre os meses. Assim, apesar de os preços recebidos pelos produtores estarem em 18% maiores que no ano anterior e no mercado disponível, 20% superiores, em 2016, provavelmente a taxa de câmbio continuará sendo o fator de maior causa de oscilação de preços.
Segundo o Boletim Focus do Banco Central de meados de dezembro, o dólar pode ter média de R$ 4,20 no final de 2016, o que tenderia a elevar os preços internos. O dólar futuro na BM&FBovespa apontava, no final de dezembro, valores na casa de R$ 4,01 para Mar/16 e de R$ 4,08 para Maio/16, níveis que também seriam favoráveis a vendedores brasileiros.
No cenário mundial, conforme o relatório do USDA, a produção de soja deverá ser de 320,11 milhões de toneladas na temporada 2015/16. Deste total, só os Estados Unidos produziram 108,35 milhões de toneladas e o Brasil, pouco mais de 100 milhões de toneladas - todos volumes são recordes. A Argentina, por sua vez, deve produzir 57 milhões de toneladas de soja, abaixo apenas do colhido na safra passada. O consumo da China deve crescer 7,5% e as importações devem atingir 80,5 milhões de toneladas – também o maior volume da história.
Para o segmento dos derivados, a estimativa do USDA é de que a produção mundial de farelo de soja seja de 214,63 milhões de toneladas, das quais 63,57 milhões seriam produzidas na China, 40,7 milhões nos Estados Unidos, 32,57 milhões na Argentina e 30,96 milhões de toneladas no Brasil. As exportações de farelo dos Estados Unidos devem ceder 9,9%, estimadas em 10,75 milhões de toneladas, enquanto os embarques na América do Sul devem crescer: 7,9% na Argentina (30,8 milhões de toneladas) e 8,41% no Brasil (15,6 milhões de toneladas).
De óleo de soja, a produção mundial deve crescer 4,3% na temporada 2015/16, segundo o USDA. Desse total, 14,36 milhões de toneladas devem ser produzidas na China, 9,91 milhões de toneladas nos Estados Unidos, 7,96 milhões de toneladas na Argentina e 7,68 milhões de toneladas no Brasil. As importações da Índia devem ser 19,7% superiores às da temporada passada.