Consolidada, a grande maioria da indústria processadora de trigo do Brasil é formada por grupos que estão há décadas no setor, com 40 por cento deles atuando há mais de meio século, mas isso não significa que o parque fabril está desatualizado e despreparado para um eventual aumento da demanda —pelo contrário.
De um total de 67 empresas participantes de uma sondagem para traçar o perfil do setor, 45 por cento investiram em modernização das unidades desde 2015, enquanto 31 por cento realizaram investimentos na modernização dos moinhos entre 2010 e 2014.
“Quando a economia voltar a crescer, vai aumentar o consumo. O setor investiu sem ter maior demanda agora, mas está preparado para quando ela vier”, disse o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, ao comentar os resultados da pesquisa encomendada pela associação e antecipada à Reuters.
As 67 empresas que participaram da pesquisa representam cerca de 85 por cento da moagem nacional de trigo do Brasil, que tradicionalmente importa cerca de metade da matéria-prima utilizada na fabricação da farinha no país.
O crescimento mais forte esperado na demanda, no entanto, ainda não deve ocorrer neste ano, comentou Barbosa, citando a economia brasileira vacilante e a greve dos caminhoneiros, cujos impactos são incertos.
O consumo de farinha de trigo no Brasil teve ligeira retração de 0,4 por cento em 2017, somando um total de 8,4 milhões de toneladas, uma situação que tem sido vista nos últimos anos, com a queda no poder aquisitivo em função dos problemas econômicos levando o brasileiro a rever hábitos de consumo.
Contudo, segundo Ricardo Tortorella, diretor da Abitrigo, as dificuldades da economia nos últimos anos não impediram que o setor realizasse investimentos, até porque se trata de uma indústria consolidada —e saudável perto de outras— que trabalha com produtos básicos.
“Mesmo com a crise, as empresas tiveram faturamento razoável”, completou o diretor da Abitrigo, cuja pesquisa não detalhou o total de investimentos da indústria nos últimos anos.
Segundo Tortorella, quando a renda da população voltar a aumentar de forma consistente, a indústria tem boas oportunidades de crescimento, até pelo fato de o consumo de trigo per capita do brasileiro ser relativamente baixo.
A agroindústria do trigo, que responde por pouco mais de 20 por cento do PIB da cadeia produtiva do cereal, de mais de 25 bilhões de reais (base 2016), ainda conta com uma capacidade ociosa de 28 por cento, que poderia ser ativada para atender a um aumento da demanda.
“O nosso empresário pode acelerar a atividade facilmente, quando tiver a retomada...”, disse o diretor.
Segundo a pesquisa da Abitrigo, a farinha industrial responde pela maior parte das vendas do setor (46 por cento), realizadas para as indústrias de pães, massas, biscoitos, etc.
A farinha doméstica responde por 29 por cento das vendas, enquanto as farinhas para pré-mistura, também utilizadas pelos setores de panificação e bolos, ficam com o restante dos negócios.
MERCADO
O presidente-executivo da Abitrigo afirmou que os produtores da Argentina —que de janeiro a maio responderam por 2,5 milhões de toneladas das 2,6 milhões de toneladas de trigo importado pelo Brasil no período— voltaram a negociar após a turbulência econômica.
Anteriormente, Barbosa havia afirmado que havia riscos de abastecimento de trigo argentino, com os produtores daquele país segurando vendas, o que poderia levar a mais compras fora do Mercosul.
Ele comentou ainda que, com a colheita do Brasil começando em cerca de 60 dias, os produtores e exportadores do país vizinho tendem a vender mais em busca de melhores negócios, antes que os brasileiros tenham acesso à nova safra, que está se desenvolvendo bem até o momento e pode vir com menores custos.
Fonte: REUTERS
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