No momento em que o plantio de verão caminha para a segunda metade da área brasileira, a meteorologia dá sinais de que o clima pode não ser tão bom quanto os agricultores esperavam.
O consenso entre os especialistas é que o fenômeno El Niño, sinônimo de alta produtividade para a agricultura, não vai se formar nesta temporada. Ao menos até o início de 2013, o clima deve passar por um período de neutralidade. O novo prognóstico acende o sinal de alerta por conta da maior imprevisibilidade de chuvas para o campo. “O [clima] neutro é melhor que o La Niña, mas não é o ideal”, sentencia Luiz Renato Lazinski, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
O panorama climático e o ritmo de plantio na América do Sul, especialmente no Brasil e na Argentina, é que definirão a direção das cotações da soja e do milho na Bolsa de Chicago a partir de agora. Segundo analistas, o mercado tem acompanhado diariamente a condição das lavouras nos dois principais países agrícolas do continente, mas ainda não considera que haverá quebra na produção. “Já estamos trabalhando com perspectivas de neutralidade e isso significa safra normal, sem grandes perdas, pelo menos até agora”, diz o analista Stefan Tomkiw, vice-presidente de futuros da The Jefferies Bache, de Nova York.
Para Pedro Dejneka, da Futures, com sede em Chicago, “estamos em pleno mercado climático, de uma safra crucial para o mundo”. Portanto, a volatilidade deve continuar marcando os pregões na bolsa norte-americana. “Com uma forte demanda aqui [EUA], é bem possível que a soja rompa pelo menos os $16 por bushel no curto prazo. Como o clima no Brasil parece estar se normalizando, a atenção do mercado se voltará para a Argentina”, diz ele. A expectativa dos investidores internacionais é de que os produtores sul-americanos retirem do campo cerca de 150 milhões de toneladas de soja. Conforme Dejneka, esse volume pode ser revisto nas próximas semanas, a depender da confirmação de chuvas na Argentina.
Após um período com precipitações abaixo do normal especialmente no Centro-Oeste e Centro-Norte do país, os radares indicam que a umidade voltará a essas regiões a partir desta semana. “Será a primeira grande frente fria a conseguir percorrer todo o país. As anteriores ficaram estacionadas na Região Sul e quando chegavam a São Paulo seguiam para o oceano”, revela Marco Antonio Santos, da Somar Meteorologia. “Novembro deve ser bom de chuva, mas, a partir de dezembro, voltaremos a ter volumes abaixo das médias e irregulares no Sul do Brasil”, avisa Lazinski.
Apesar da inversão nas condições climáticas, o assessor técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) Robson Mafioletti descarta o risco de estiagem. Para ele, o plantio das lavouras está ocorrendo dentro da normalidade e o desenvolvimento dos cultivares tem até o final de dezembro para ocorrer.
“Não acredito que o fantasma da estiagem do ano passado esteja por perto. Até agora as coisas estão boas. Resta torcer para continuar assim”, diz Mafioletti.
Vizinhos
Enquanto parte dos produtores brasileiros vêem pouca chuva no horizonte, na Argentina a situação é totalmente inversa. Segundo a Confederação de Agricultura do país, entre 6 milhões e 8 milhões de hectares estariam inundados e sem condições de receber as máquinas para plantar. As enxurradas atingiram as principais províncias de produção do país e, segundo os meteorologistas, não há previsão de melhora do clima. “Eles terão de segurar o plantio até dezembro ou depois”, aposta Lazinski.
No Paraguai, terceiro maior produtor de grãos da América do Sul, o plantio está ocorrendo dentro do planejado.
Fonte: Gazeta do Povo
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