02
mai
2012
Seca reduz oferta de semente “de ponta”
Produtores vão às compras mais cedo e se deparam com escassez e reajuste de 30% nos preços do insumo

Cassiano Ribeiro

Com as cotações da soja batendo recordes regionais, os produtores arregaçam as mangas e tentam antecipar a compra de insumos para a safra 2012/13, mas se deparam com escassez de semente “de ponta” e alta de 30% nos preços. A procura pelo insumo da lavoura começou dois meses antes do normal no Paraná. As variedades mais procuradas já estão em falta.

A Coamo Agroindustrial, com sede em Campo Mourão (Centro-Oeste do estado, antecipou o programa de venda de insumos a seus associados. O ‘plano safra’ da cooperativa, que geralmente sai entre junho e julho, foi lançado na semana passada. De acordo com o superintendente técnico da empresa, José Varago, a expectativa é que até o meio desta semana sejam comercializadas entre 85% e 90% das sementes da safra 2012/13.

“O produtor está mais entusiasmado. Quer definir as contas logo porque já sabe quanto a safra vai custar pra ele”. Ele diz, no entanto, que as variedades mais utilizadas pelos produtores no Paraná estão em falta. “Estamos substituindo por outras, que são indicadas para cada região.” Varago calcula que cerca de 20% da demanda da cooperativa por alta tecnologia deixará de ser atendida. Neste ano, a Coamo pretende comercializar 1,1 milhão de sacas de 50 quilos de sementes de soja para seus associados.

No rastro da valorização da soja nos mercados internacional e brasileiro, os preços das sementes estão cada vez mais salgados e a tendência é que subam ainda mais. Hoje, o quilo mais barato do grão equivale ao preço do produto mais caro da safra passada. De acordo com a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), enquanto no ano passado os valores variavam de R$ 1,40 a R$ 2 por quilo, hoje estão entre R$ 2 e R$ 3. “Acredito que suba porque o custo da semente na composição da lavoura ainda é muito pequeno. Além disso, o produtor está vendo que investir em semente é sinônimo de produtividade”, afirma Narciso Barison, presidente da entidade.

Ele diz que a oferta reduzida de sementes de alta tecnologia não deve chegar ao ponto de reduzir a área com soja no país e, apesar de a seca ter prejudicado boa parte das regiões sementeiras do Sul, o abastecimento não será comprometido. “No Sul o quadro será mais apertado, mas não vai faltar semente, porque os estados se auxiliam”, lembra o executivo.

Paraná precisa “importar” um terço da demanda

Segundo maior produtor nacional de soja, atrás apenas de Mato Grosso, o Paraná demanda anualmente cerca de 300 mil toneladas de sementes, conforme a Abrasem. A demanda é um terço maior que a produção, fazendo com que os produtores paranaenses dependam de outros estados.

Com o cultivo de sementes estimado em 190 mil toneladas para este ano e as 15 mil toneladas que restaram da safra passada, a Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas (Apasem) avalia que o quadro é de equilíbrio, ou seja, que não deve haver redução de área por falta de variedades próprias para o cultivo na safra 2012/13.

“Mesmo com a estiagem [que afetou os campos sementeiros de Santa Catarina, importantes para a Região Sul], vai haver oferta de sementes de ciclo precoce no mercado. O que pode ocorrer é que será mais difícil de encontrar”, diz Eugênio Borrati, diretor da entidade. As variedades de ciclo precoce se tornaram uma tendência nos últimos dois anos e continuam sendo as preferidas dos produtores. Assim como os agrônomos, Borrati recomenda que o agricultor faça um escalonamento de variedades para que a produção não dependa só do rendimento das sementes de ciclo curto.

“Opções não faltam. É importante que o produtor alinhe com seu agrônomo variedades que se ajustam ao tipo de solo da fazenda. Dependendo da variedade é preciso acertar também o número de sementes por metro”, acrescenta o agrônomo Robson Mafioletti, assessor técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).

Comércio da próxima safra também começou

Com dois terços da safra atual vendidos, os agricultores começam a comercializar a produção esperada para 2012/13. Os contratos permitem garantir renda para cobrir os custos da próxima temporada fazendo valer as melhores cotações dos últimos tempos.

“Estima-se que 800 mil toneladas de soja da safra que vem [que será plantada no último trimestre deste ano] já foram comercializadas. Diante desse número, você tem dúvida de que o Brasil vai aumentar a área com soja no próximo ano?”, avalia Aedson Pereira, analista da informa Economics FNP. Os produtores tendem a fazer das vendas antecipadas uma espécie de seguro de preços.

Geraldo Fróes, que produz soja e milho na região de Londrina (Norte do Paraná), comprometeu 20% da produção esperada. “Quando o preço chegou a R$ 52 por saca de soja, eu vendi. Mas não dá para vender mais porque é muito arriscado”, diz ele. Ele alançou até R$ 54/sc.

Fonte: Gazeta do Povo
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