05
mar
2014
Safra que deveria ser recorde terá 25% menos do que o previsto em Maringá (PR)

De cada quatro sacos de soja que os agricultores da região de Maringá esperavam colher nesta safra, um não vai virar realidade em consequência da estiagem e do forte calor que reinaram nas últimas duas semanas de janeiro e nas duas primeiras de fevereiro. A quebra da safra na região está em 25%, mas pode aumentar na medida em que avança a colheita. A estimativa do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura era que os agricultores do noroeste paranaense colheriam entre 3,2 mil e 3,5 mil quilos de soja por hectare. No entanto, a média está em 2,6 mil quilos.

De acordo com uma prévia das perdas na lavoura de soja divulgada pela Secretaria da Agricultura, o Paraná deverá colher 2,01 milhões de toneladas a menos do que o previsto e o prejuízo financeiro deverá passar de R$ 2 bilhões. Na região de Maringá, segundo cálculos da Cooperativa Agroindustrial Cocamar, serão R$ 200 milhões a menos em circulação.

Na estimativa anterior, o Deral previa uma produção recorde de soja de 16,5 milhões de toneladas. Mas agora reduziu a estimativa de produção para 14,5 milhões de toneladas, menor do que o resultado obtido no ano passado, quando foram colhidas 15,8 milhões de toneladas no Paraná. No Estado, a previsão até agora é de quebra de 20%, mas o porcentual varia de região para região. O noroeste, que ontem atingiu 82% da colheita, a quebra está em 25%, mas pode aumentar na medida em que avançar a colheita na região próxima à divisa com o Estado de São Paulo, onde os danos provocados pela estiagem e o forte calor foram maiores.

Para o técnico Edson Roberto Nascimento, da cooperativa Nova Produtiva, na região do arenito não foi tanto a falta de chuva que provocou o definhamento das plantas. "Foi o calor muito forte por vários dias seguidos que acabou murchando os pés". Segundo ele, como a granação nas vargens ainda não estava completa, o resultado é uma produção de grãos menores, com redução no peso final da safra.

De acordo com produtores tradicionais das regiões de Ivatuba, Doutor Camargo e Floresta, o resultado final está dependendo muito da época em que foi plantada a soja. Quem plantou no final de setembro, por exemplo, enfrentou dias secos logo na sequência, sem grandes prejuízos para a planta; quem plantou no começo de outubro já estava com a planta "pronta" quando aconteceu a estiagem de janeiro e fevereiro, mas a soja plantada no final de outubro e início de novembro ainda estava na fase de preenchimento dos grãos quando foi atingida pela estiagem de praticamente um mês, acompanhada por temperaturas altíssimas. É a soja do fim de outubro a mais atingida e responsável pela quebra da "supersafra".

A Cocamar informou que no início do ciclo a média era calculada em 110 sacas por alqueire. Atualmente, está em 88 sacas. Em alguns municípios da área da cooperativa, como Bela Vista do Paraíso, Primeiro de Maio e Alvorada do Sul, a diminuição deve ultrapassar 50%. "Quanto mais ao norte, a coisa foi piorando. Próximo à represa a coisa foi pior ainda", disse o proprietário da Fazenda Couro de Boi, em Bela Vista do Paraíso, Vitor Almeida. Segundo ele, na região dificilmente alguém colheu mais de 80 por alqueire. Ele foi uma exceção. A propriedade dele, que plantou no início de outubro, fechou com 132 sacas.

Houve caso em propriedades próximas ao Rio Paranapanema em que foram colhidas apenas 40 sacas por alqueire. Lá os produtores esperavam acima de 120.
O presidente Executivo da Cocamar, José Fernandes Jardim Júnior, afirma que "no geral, poucos conseguiram colher o que esperavam". Segundo ele, em alguns lugares a produção é praticamente normal. Em outros, há produtores que ficaram no prejuízo, pois o resultado da colheita sequer vai cobrir o custo de produção.

Embora a colheita já esteja em fase de conclusão em regiões de alta produção, como Itambé, Floresta e Ivatuba, Maringá ainda está colhendo na região do distrito de Floriano, nas proximidades do Aeroporto e na Gleba Guerra. A Placa Pinguim, onde estão as mais antigas fazendas de soja do município, a colheita ainda está no início e os primeiros resultados desagradam.
"A gente vem de duas boas safras e até uns dias atrás contávamos com uma melhor ainda, mas de uma hora para outra vimos que não seria o que esperávamos", disse o plantador Orlando dos Santos, que há 40 anos planta no Pinguim. "Em algumas áreas da mesma propriedade vemos trechos produzir 100 sacas por hectare, outros produzindo 130".

Santos diz que o que colheu ontem ficou próximo de 130 sacas por hectare e, embora esperasse 150, comemorou. Em propriedades vizinhas houve quem mal chegasse às 100 sacas.
O secretário de Agricultura, Norberto Ortigara, em sua análise sobre as perdas deixou claro que os números apresentados até o momento são prévios, pois podem ser bem mais baixos. O Deral, que acompanha a situação em todas as regiões produtoras, pode corrigir as estimativas para baixo.

Segundo os técnicos Moisés Barion Bolonhez e Ivani Marangoni, do Deral em Maringá, além da quebra que já pode ser contabilizada, há ainda o risco de a produção de sementes de soja no Paraná ser comprometida. A região de sementes, que começa em Mauá da Serra e segue até o início dos Campos Gerais, foi uma das mais atingidas pela seca e o calor.

"Na região onde são produzidas as sementes a quebra está variando entre 20% e 40%, mas o problema é a qualidade dos grãos", disse Bolonhez. Segundo ele, para se produzir sementes de qualidade é necessário que de cada 100 grãos 80 sejam viáveis. O problema é que, após sofrer com as variações climáticas, não há como se saber qual a porcentagem de grãos estará em condições de gerar plantas saudáveis. 


Fonte: Diário de Maringá

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