12
fev
2014
Safra pede água
Após plantio sem sustos, produtividades da soja e do milho são ameaçadas por altas temperaturas e falta de chuvas
Igor Castanho
Depois de encontrar clima favorável durante o plantio, os produtores brasileiros entram na fase crucial de desenvolvimento das lavouras de verão monitorando de perto termômetros e pluviômetros. A combinação de altas temperaturas e poucas chuvas – que se intensificaram no último mês – acende o sinal de alerta para a soja e o milho em importantes regiões produtoras do país. Em meio a quebras pontuais já confirmadas, técnicos e produtores consideram que a semana é decisiva para a produtividade das lavouras.
O veranico é generalizado e atinge os campos de Goiás, Bahia e boa parte do Centro-Sul do país. No Paraná o perigo é maior no Oeste, Norte e nos Campos Gerais, onde está concentrada a maior parte da produção de grãos do estado.
Na região central, já há casos em que o potencial produtivo da temporada foi comprometido. É o caso do produtor Pedro Stunder, de Laranjeiras do Sul. “A produtividade vai cair de 3,4 toneladas (56 scs/ha) para 3,2 toneladas (53 scs/ha). São três sacas a menos, uma perda de aproximadamente 10%”, calcula. Nas áreas mais tardias dos 240 hectares que planta com soja, as plantas estão secando no topo, limitando o número de vagens.
A incerteza também preocupa o produtor de Maurício Okimura, de Londrina (Norte). Ele explica que as lavouras atravessaram bem a estiagem de dezembro, mas metade dos 720 hectares de soja ainda depende de chuva. “No início da temporada, quando as plantas estão pequenas, até dá para seguir com pouca água. Mas o duro é uma seca agora, e as chuvas estão muito localizadas”, disse o produtor, que já vendeu metade da colheita prevista. Mesmo com as plantas mostrando vigor, ele não arrisca dizer qual será a produtividade. “Espero que toda a preocupação com manejo e com o solo façam a diferença.” O produtor Gilberto Van Den Boogaard, de Carambeí, acrescenta: “o que está em jogo são os altos investimentos que fizemos.” Dono de 1,5 mil hectares, ele conta que adubou a safra para colher 4 toneladas de soja por hectare e 12,1 toneladas de milho, mas agora “preciso do clima para alcançar essa marca”, ressalta.
Previsão
A previsão da meteorologia não é das melhores. “Uma frente fria deve chegar por volta de quarta ou quinta-feira [12 e 13] à região Sul, mas sem muita força”, revela Luiz Renato Lazinski, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Os especialistas explicam que um bloqueio atmosférico está impedindo a entrada de frentes frias e a ocorrência de chuvas, especialmente no Sul do Brasil. Como neste ciclo o clima está neutro – sem a ocorrência dos fenômenos El Niño ou La Niña, os veranicos já eram esperados, mas não nessa proporção. “Em anos neutros não tem meio termo, ou é demais ou de menos”, resume Lazinski.
Além do Paraná, calor atinge outras importantes regiões produtoras
Bahia
Na região Oeste do estado, que concentra a maior parte da produção de grãos, as lavouras enfrentam 20 dias com poucas chuvas, mas o impacto sobre a produtividade ainda é minimizado. A Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) reduziu a previsão de 163 para 145 sacas por hectare para o milho e de 56 para 50 sacas por hectare na soja.
Goiás
Conforme a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), o estado sofre com a falta de chuvas desde o dia 15 de dezembro. A produção de soja pode cair 15%, conforme a entidade. Com isso o prejuízo do estado chegaria a R$1,3 bilhão. Até agora as perdas chegam a 6% da área da oleaginosa.
São Paulo
O estado é um dos mais afetados pela falta de chuvas. Técnicos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo (SAA-SP) estimam que a quebra pode chegar a 40% da produção de soja no estado, estimada em 1,7 milhão de toneladas.
Rio Grande do Sul
Os efeitos da estiagem ainda não geraram quebras, mas criam apreensão entre os gaúchos. Conforme a Emater local, a grande maioria das lavouras está em fase de floração e formação de grãos (80%), críticas em relação à falta de umidade. A continuidade desse cenário poderá afetar de significativamente a produção”.
Mercado ainda está focado na oferta norte-americana
O clima quente e seco no Brasil ainda não causa influência sobre os preços internacionais da soja e do milho. Conforme o analista de mercado da Informa Economics FNP, Aedson Pereira, a forte demanda pela safra norte-americana tem sido o aspecto mais relevante para os investidores neste momento.
Ele salienta que a oferta brasileira deve se intensificar em março, quando os efeitos do clima poderão ser avaliados com maior precisão. “Caso a quebra se confirme, pode haver uma valorização”, explica.
Para o especialista, o mercado ainda não trabalha pressionado por notícias referentes à uma redução na produção de soja e milho do Brasil. Os preços das duas commodities negociados na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT) seguem valorizados, mas em função de um aperto no quadro de oferta e demanda nos Estados Unidos.
30ºC é o limite de temperatura suportado pelas plantas. Acima disso, o impacto é imediato. Com a uma redução no metabolismo e o abortamento de flores, os grãos de soja e as espigas de milho têm crescimento comprometido.
Colaboraram José Rocher e Carlos Guimarães Filho
Igor Castanho
Depois de encontrar clima favorável durante o plantio, os produtores brasileiros entram na fase crucial de desenvolvimento das lavouras de verão monitorando de perto termômetros e pluviômetros. A combinação de altas temperaturas e poucas chuvas – que se intensificaram no último mês – acende o sinal de alerta para a soja e o milho em importantes regiões produtoras do país. Em meio a quebras pontuais já confirmadas, técnicos e produtores consideram que a semana é decisiva para a produtividade das lavouras.
O veranico é generalizado e atinge os campos de Goiás, Bahia e boa parte do Centro-Sul do país. No Paraná o perigo é maior no Oeste, Norte e nos Campos Gerais, onde está concentrada a maior parte da produção de grãos do estado.
Na região central, já há casos em que o potencial produtivo da temporada foi comprometido. É o caso do produtor Pedro Stunder, de Laranjeiras do Sul. “A produtividade vai cair de 3,4 toneladas (56 scs/ha) para 3,2 toneladas (53 scs/ha). São três sacas a menos, uma perda de aproximadamente 10%”, calcula. Nas áreas mais tardias dos 240 hectares que planta com soja, as plantas estão secando no topo, limitando o número de vagens.
A incerteza também preocupa o produtor de Maurício Okimura, de Londrina (Norte). Ele explica que as lavouras atravessaram bem a estiagem de dezembro, mas metade dos 720 hectares de soja ainda depende de chuva. “No início da temporada, quando as plantas estão pequenas, até dá para seguir com pouca água. Mas o duro é uma seca agora, e as chuvas estão muito localizadas”, disse o produtor, que já vendeu metade da colheita prevista. Mesmo com as plantas mostrando vigor, ele não arrisca dizer qual será a produtividade. “Espero que toda a preocupação com manejo e com o solo façam a diferença.” O produtor Gilberto Van Den Boogaard, de Carambeí, acrescenta: “o que está em jogo são os altos investimentos que fizemos.” Dono de 1,5 mil hectares, ele conta que adubou a safra para colher 4 toneladas de soja por hectare e 12,1 toneladas de milho, mas agora “preciso do clima para alcançar essa marca”, ressalta.
Previsão
A previsão da meteorologia não é das melhores. “Uma frente fria deve chegar por volta de quarta ou quinta-feira [12 e 13] à região Sul, mas sem muita força”, revela Luiz Renato Lazinski, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Os especialistas explicam que um bloqueio atmosférico está impedindo a entrada de frentes frias e a ocorrência de chuvas, especialmente no Sul do Brasil. Como neste ciclo o clima está neutro – sem a ocorrência dos fenômenos El Niño ou La Niña, os veranicos já eram esperados, mas não nessa proporção. “Em anos neutros não tem meio termo, ou é demais ou de menos”, resume Lazinski.
Além do Paraná, calor atinge outras importantes regiões produtoras
Bahia
Na região Oeste do estado, que concentra a maior parte da produção de grãos, as lavouras enfrentam 20 dias com poucas chuvas, mas o impacto sobre a produtividade ainda é minimizado. A Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) reduziu a previsão de 163 para 145 sacas por hectare para o milho e de 56 para 50 sacas por hectare na soja.
Goiás
Conforme a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), o estado sofre com a falta de chuvas desde o dia 15 de dezembro. A produção de soja pode cair 15%, conforme a entidade. Com isso o prejuízo do estado chegaria a R$1,3 bilhão. Até agora as perdas chegam a 6% da área da oleaginosa.
São Paulo
O estado é um dos mais afetados pela falta de chuvas. Técnicos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo (SAA-SP) estimam que a quebra pode chegar a 40% da produção de soja no estado, estimada em 1,7 milhão de toneladas.
Rio Grande do Sul
Os efeitos da estiagem ainda não geraram quebras, mas criam apreensão entre os gaúchos. Conforme a Emater local, a grande maioria das lavouras está em fase de floração e formação de grãos (80%), críticas em relação à falta de umidade. A continuidade desse cenário poderá afetar de significativamente a produção”.
Mercado ainda está focado na oferta norte-americana
O clima quente e seco no Brasil ainda não causa influência sobre os preços internacionais da soja e do milho. Conforme o analista de mercado da Informa Economics FNP, Aedson Pereira, a forte demanda pela safra norte-americana tem sido o aspecto mais relevante para os investidores neste momento.
Ele salienta que a oferta brasileira deve se intensificar em março, quando os efeitos do clima poderão ser avaliados com maior precisão. “Caso a quebra se confirme, pode haver uma valorização”, explica.
Para o especialista, o mercado ainda não trabalha pressionado por notícias referentes à uma redução na produção de soja e milho do Brasil. Os preços das duas commodities negociados na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT) seguem valorizados, mas em função de um aperto no quadro de oferta e demanda nos Estados Unidos.
30ºC é o limite de temperatura suportado pelas plantas. Acima disso, o impacto é imediato. Com a uma redução no metabolismo e o abortamento de flores, os grãos de soja e as espigas de milho têm crescimento comprometido.
Colaboraram José Rocher e Carlos Guimarães Filho
Fonte: Gazeta do Povo (AgroGP)