A safra brasileira de soja 2015/16, que está sendo plantada e será colhida no primeiro semestre do ano que vem, deverá alcançar 99,5 milhões de toneladas, com uma alta de 3,4 por cento ante 2014/15, menor crescimento em quatro temporadas, mostrou na sexta-feira uma pesquisa da Reuters.
A projeção é uma média de 14 estimativas de consultorias, empresas e órgãos do setor, com previsões que variaram entre 97 milhões e 102 milhões de toneladas, com o menor crescimento da área plantada em relação aos últimos anos, num cenário de preços mais baixos no mercado internacional.
Em 2014/15, o Brasil colheu 96,2 milhões de toneladas, o que representou um avanço de quase 12 por cento ante a safra anterior, segundo dados oficiais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
"Mesmo no cenário de incertezas políticas e no mercado financeiro, o produtor vai plantar. Ele não sabe fazer outra coisa, não vai deixar dinheiro em banco ou no colchão. Ele vai produzir", disse o analista Flávio França Jr., da França Junior Consultoria.
O período com plantio autorizado em importantes Estados produtores como Mato Grosso e Paraná começou em 15 de setembro, mas os primeiros dias da temporada foram marcados por bastante cautela dos produtores, devido a uma escassez de chuvas.
Em Mato Grosso, as precipitações ainda não chegaram com força, o que deve ocorrer apenas a partir da semana que vem, permitindo uma aceleração do plantio.
No Paraná, contudo, as chuvas já chegaram e o plantio ganhou ritmo. Segundo o relatório mais recente do Departamento de Economia Rural (Deral), 5 por cento da área de soja do Estado já está semeada.
A temporada 2015/16 será marcada por uma forte incidência do fenômeno climático El Niño, que de maneira geral favorece o desenvolvimento das lavouras do Centro-Oeste e do Sul do Brasil, com chuvas em bons volumes, e prejudica os produtores do Nordeste, que deverão enfrentar um período mais seco que a média.
"O produtor (do centro-sul) conta com a possibilidade de um clima mais regular para os padrões brasileiros. O El Niño está forte e ele tem uma correlação com safra brasileira cheia", destacou França Junior, justificando uma relativa confiança dos produtores e a projeção de boas produtividades para a nova temporada.
INCERTEZAS
Se o El Niño deve favorecer o nível de produtividade em boa parte das regiões produtoras de soja do país, a volatilidade do câmbio, o aperto no crédito e uma redução no uso de fertilizantes são fatores que levam um pouco de incerteza para a evolução da safra e para as projeções dos analistas.
"A alta taxa de juros e a dificuldade de acesso ao crédito com taxas de juros subsidiadas deverão desacelerar a expansão de área", destacou a Lanworth, serviço da Thomson Reuters, em seu mais recente prognóstico para a safra.
Em relação ao uso de fertilizantes, a consultoria Agroconsult projetou que as vendas deste tipo de insumo --crucial para a produtividade das lavouras-- cairão 2 por cento em 2015 o ano passado. Mesmo assim, o estoque de nutrientes acumulado em muitas lavouras nos últimos anos deverá fazer com que o potencial produtivo não seja afetado neste momento.
O aumento da cotação do dólar, que rompeu esta semana a barreira dos quatro reais, adiciona incerteza à condução da safra pelos agricultores, principalmente porque eleva os custos com alguns insumos. Neste momento de início de plantio, praticamente todos os fertilizantes já estão comprados, mas os defensivos, adquiridos de acordo com a necessidade e o tipo de infestação enfrentada, poderão ter seu uso impactado pelo câmbio.
A pesquisa da Reuters também apontou que a safra 2015/16 deverá ficar em 83,8 milhões de toneladas, volume 1,1 por cento abaixo dos 84,7 milhões de 2014/15, segundo a média de 10 projeções.
Menos analistas se arriscam a prever a safra total de milho neste momento, uma vez que a chamada "safrinha" do cereal, plantada após a colheita da soja, ainda está bastante indefinida.
Há consenso de que haverá queda na área dedicada ao milho no plantio de verão, em que o cereal concorre com a soja. Também há indicativos de aumento do cultivo de milho na safra de inverno.
"Minas Gerais, por exemplo, que foi líder na produção do cereal no verão, deve plantar mais soja na primeira safra e tem a intenção de aumentar a área de milho na 'safrinha'", disse a analista Ana Luiza Lodi no mais recente relatório de previsão de safra da consultoria INTL FCStone.
Fonte: Reuters
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