Em relatório divulgado recentemente, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) prevê que, no ano agrícola 2016/17, a Rússia se torne o maior exportador de trigo do mundo, pela primeira vez na história.
A expectativa é que o potencial de exportação do país suba para 30 milhões de toneladas de trigo no período, o que seria recorde absoluto para os últimos anos.
De acordo com o departamento norte-americano, cujo serviço de análise é considerado um dos mais respeitados do mundo, a previsão positiva da Rússia se deve a condições ideais, como o clima ideal para o plantio, a gestão eficaz de logística para transporte de grãos e abastecimento regular durante todo o ano.
Previsão recorde
Segundo a previsão do USDA, a Rússia será capaz de colocar 30 milhões de toneladas de trigo no mercado mundial – isto é, mais do que todos os 28 países da União Europeia juntos. A queda registrada nas safras da França (o maior exportador da UE) e da Itália, por exemplo, abrem novos mercados para a Rússia.
“A Rússia tem e vantagens logísticas e de frete para mercados em crescimento no Norte da África, África Subsaariana e Oriente Médio, e pode facilmente aumentar a sua participação de mercado nessas regiões para substituir parte das exportações reduzidas da UE”, lê-se no relatório dos Estados Unidos.
Enquanto o USDA sugerem que a Rússia produzirá 72 milhões de toneladas de trigo neste ano, o Ministério da Agricultura da Rússia prevê a colheita de 73 milhões de toneladas de trigo, já que também leva em conta a safra obtida na Crimeia.
“A Rússia está quebrando seu próprio recorde histórico de exportação de grãos pelo segundo ano consecutivo”, disse à Gazeta Russa o presidente da União Russa de Grãos, Arkádi Zlotchévski.
De acordo com o Ministério da Agricultura russo, o país exportou 34 milhões de toneladas de grãos no último ano agrícola, incluindo 25 milhões de toneladas de trigo. “Este ano, venderemos de 37 a 40 milhões de toneladas de grãos”, disse Zlotchévski.
A Rússia não é, porém, o único país que teve uma safra recorde este ano. Austrália, Canadá, Cazaquistão, Ucrânia e Estados Unidos também se tornaram líderes agrários, ressalta o relatório do USDA.
Queda dos preços
Segundo o presidente da União, devido à produção recorde de trigo, houve uma queda dos preços no mercado internacional, e os exportadores não estão sendo beneficiados.
O preço do trigo Classe 4 (o principal produto de exportação) caiu em 33%, para US$ 138 por tonelada, de 1º de junho a 26 de agosto de 2016, divulgou o Sindicato Nacional dos Produtores de Grãos.
“Como o consumo não está crescendo na mesma proporção do ritmo de produção, há risco de não conseguirmos vender todo o volume destinado a exportação”, alertou Zlotchévski.
Além de preços baixos, as exportações de trigo são prejudicadas por tarifas protecionistas introduzidas pela Rússia em 2014.
“Por causa da desvalorização do rublo, a exportação tornou-se muito atraente”, diz Natália Chagaida, analista do Centro para Políticas Agrícolas e de Alimentos na Academia Presidencial da Economia Nacional e Administração Pública da Rússia.
“Para evitar aumento da exportação e alta nos preços de grãos e pão no mercado interno, o governo introduziu taxas de exportação sobre o trigo.”
As medidas restritivas diante da queda de rublo colocam os produtores em uma situação difícil e limitam seu potencial de renda, segundo Chagaida.
“Os agricultores foram forçados a gastar mais dinheiro com combustível, equipamentos de proteção, peças para máquinas importadas, já que tudo isso está vinculado à cotação da moeda nacional”, diz a analista.
Com receio de desaceleração nas vendas, o Ministério da Agricultura russo entrou com um pedido junto ao Governo federal, no início de agosto, para anular o imposto de exportação de trigo. No entanto, ainda não houve qualquer decisão a respeito.
“O rublo estabilizou, o que reduz o risco de alto nos preços de grãos. Nesse contexto, espera-se a abolição do imposto”, arremata Chagaida.