30
jan
2013
Redução no cultivo de trigo brando pode resultar em nicho de mercado
Na última década, o setor tritícola passou a investir na produção de trigo pão com o objetivo de melhorar a liquidez dos grãos junto à indústria de panificação, mercado responsável por 60% do uso do trigo no Brasil. Contudo, muitos segmentos da indústria dependem do trigo com menor força de glúten (W) para a fabricação de biscoitos, waffer, macarrão instantâneo, pizzas e alimentos infantis. A organização do complexo agroindustrial do trigo para atender novos nichos de mercado foi objeto de discussão na Embrapa Trigo, no dia 22/01.

Em 2006, mais de 60% das cultivares disponíveis no mercado eram de trigo brando, hoje são apenas 6%. No mesmo período, o trigo pão representava 40% das cultivares e hoje corresponde a 80%. “Para se ajustar ao mercado, as empresas de melhoramento passaram a trabalhar voltadas ao desenvolvimento de cultivares de trigo pão, com força de glúten e teor de proteínas cada vez mais altos, capazes de atender tanto a indústria de moagem quanto às padarias”, explica o pesquisador da Embrapa Trigo, Ricardo Lima de Castro.

Durante muito tempo, o trigo brando (também chamado de soft no mercado internacional ou básico nas especificações brasileiras) foi considerado produto de qualidade inferior, com menor remuneração no mercado nacional. Entretanto, com o crescimento da indústria de biscoitos este cenário começa a mudar. O Brasil é o segundo maior produtor mundial de biscoitos, conta com 580 empresas e produção anual de 1,2 milhões de toneladas. O consumo dos brasileiros praticamente dobrou em menos de dez anos, com a média atual de 6,5 kg por habitante ao ano, especialmente de biscoitos recheados (30%) e crackers/água e sal (25%). O segmento de biscoitos e bolachas representa 50% do valor das exportações com derivados de trigo, gerando receitas que chegam a 75 milhões de dólares por ano. Os principais destinos são Angola, Paraguai, Estados Unidos e Uruguai.

No moinho da Cooperativa Agroindustrial Alfa (sede em Chapecó, SC), a capacidade instalada de processamento de trigo é de até 650 toneladas/dia, volume que pode resultar em 480 toneladas/dia de farinha. De acordo com o responsável pelo moinho, Julio Tanilo Bridi, o produto base é o trigo pão, mas a mescla para panificação depende de 20 a 30% da mistura com trigo brando. O valor pago ao produtor pelo trigo brando é igual à cotação do trigo pão. Assim, a cooperativa continua produzindo, em média, 10 mil toneladas de trigo brando a cada safra. “Ainda há resistência do produtor, e até mesmo das instituições de financiamento, no cultivo do trigo brando. Mas sabemos que trigo bom é aquele que tem mercado, seja ele brando, pão ou melhorador”, esclarece o agrônomo da Cooperalfa, Claudiney Turmina.

Nichos

De acordo com a Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Trigo, Ana Christina Sagebin Albuquerque, dimensionar o tamanho do mercado para trigo brando vai permitir a formação de um novo nicho de mercado, especialmente para o pequeno produtor que representa 60% dos produtores de trigo no país, com áreas de até 20 hectares.

Para atender a demanda da indústria, não basta apenas o trigo na classe brando (força de glúten entre 90 e 170). O teor de proteínas dos trigos brasileiros ainda está muito acima dos 11% desejados pela indústria de biscoitos. “Nossos trigos ainda tem o teor de proteína alto demais para produzir biscoitos. O resultado final são biscoitos que se quebram no pacote”, explica pesquisadora da Embrapa Trigo Martha Zavariz de Miranda.

“Com a demanda bem definida, direcionamos a pesquisa para chegar a uma cultivar que atenda a características da indústria de biscoitos, como força de glúten baixa, pouca proteína e baixa absorção de água. O primeiro resultado foi a cultivar BRS 374, lançada em 2011, com teor de proteínas em 11,7%, um dos menores do mercado, glúten em 119, cor de farinha branca, planta de baixo porte e alta produtividade. Outras opções são BRS Louro e BRS Umbu, mas é importante que o produtor escolha a cultivar considerando tanto a demanda do mercado, quanto as características do ambiente e manejo”, conclui a chefe de pesquisa Ana Christina Sagebin Albuquerque.


Fonte: Agrolink com informações de assessoria

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