Produtores do Paraná contestam previsão oficial para o plantio de trigo no Estado. Muitos produtores deram mais espaço ao milho devido aos preços satisfatórios. Eles reclamam da falta de estímulo do governo para a triticultura.
Produtores reclamam da falta de rentabilidade
Produtores rurais paranaenses contestam as informações divulgadas pela Secretaria de Agricultura do Estado, que prevê aumento na produção de trigo este ano. A estimativa do Departamento de Economia Rural (Deral) é de que a produção quase dobre e que a área de plantio aumente 20%. Os produtores, no entanto, não estão tão otimistas.
A quantidade de trigo que será plantada na propriedade de Maurício Okimura, na região de Londrina, já foi definida há mais de um ano. No planejamento de safra, Okimura, de olho no mercado, preferiu investir menos no trigo.
– Como o Mato Grosso perdeu bastante área de milho, de plantio, e nós tínhamos áreas vagas, fomos plantando milho e, consequentemente, isso vai reduzir a área trigo.
O produtor vai começar a plantar o cereal pelo dia 10 de abril. Faz pouco mais de uma semana que ele colheu a soja, e a terra ainda não foi preparada para a nova cultura. O trigo deve ocupar 360 hectares da propriedade, 20% menos do que no ano passado. A previsão do produtor não é a mesma da Secretaria de Agricultura do Estado do Paraná. O último relatório de safra divulgado pelo Deral, no início do mês, é otimista demais na avaliação dos produtores.
Pelo levantamento, a produção de trigo no Estado será de 3,5 milhões de toneladas na próxima safra, praticamente o dobro da anterior, que não passou de 1,8 milhão de toneladas. A área de plantio deve ser 20% maior. O relatório dos técnicos da Secretaria aponta que as lavouras ocuparão mais de 1 milhão de hectares.
Na região de Londrina, já se produziu muito mais trigo do que se produz hoje. Os agricultores relatam que o cereal ocupava 70% da área plantada. Hoje, a semeadura não chega nem a metade desse número. Os produtores da região relatam que não há estímulos para plantar trigo: sem investimentos em pesquisas para novas variedades e uma instabilidade muito grande de comercialização.
O produtor Adão de Pauli, há oito anos, reservava pelo menos 400 hectares para o trigo em sua propriedade. Neste ano, a área prevista não ultrapassa 100 hectares.
– Hoje, se promete uma coisa para o trigo no início, mas no final é outra coisa. A questão do preço é complicada. Outra coisa é a incidência de doenças e a questão do seguro. Eles consideram peso, não consideram a qualidade. Isso é um desestímulo. Por que plantar? – questiona o triticultor.
O presidente do Sindicato Rural de Londrina, Narciso Pissinati, tem uma explicação para a diferença entre os números da Secretaria de Agricultura e a realidade da lavoura. Ele afirma que os números precisam ser revistos.
– Em novembro, quando o preço do trigo estava bom e o do milho, ruim, o produtor deu essa informação: olha, vou plantar trigo porque vai ser rentável. Durante esse período aconteceram outras coisas. Nós tivemos uma melhora do preço da comercialização do milho, inclusive com exportação, e aí ficou aquela dúvida: como vou plantar trigo se não tenho uma política de governo que garanta essa segurança? – explica Pissinati.
Com o fim da colheita da soja, ainda se vê no norte do Paraná áreas sem plantio. O cenário mais comum, no entanto, é o de verde, com lavouras de milho.
– Se planta trigo daqui de Londrina para o sul, o Rio Grande do Sul, porque é opção favorável pelo clima, não temos outra. Mas aqui na minha região, a tendência é acabar – sugere Pauli.
Fonte: Canal Rural
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