SÃO PAULO (Reuters) - Produtores de soja das duas principais regiões de plantio do país entram nesta terça-feira no período autorizado para semear a oleaginosa cheios de cautela em relação ao clima e observando os efeitos do fenômeno El Niño, com a atividade ainda limitada nos campos devido a chuvas consideradas escassas para as atividades.
O dia 15 de setembro marca o fim do período de vazio sanitário em Mato Grosso, Paraná e alguns outros Estados, durante o qual é proibida a presença de plantas vivas nos campos que podem perpetuar a presença de doenças, especialmente a ferrugem da soja.
Em Mato Grosso, houve algumas pancadas de chuva na primeira metade do mês, mas elas foram insuficientes para dar segurança aos agricultores.
"Na secura que estava, foi como colocar água na esponja", descreveu o diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) de Mato Grosso, Nery Ribas.
"Todo mundo está com as máquinas em revisão final, em programação, estão fazendo o planejamento, e aguardando o clima", completou.
A região de Sapezal, no oeste de Mato Grosso, foi a que começou o plantio de forma mais acelerada em 2014, mas nestes primeiros dias da segunda metade de setembro a atividade deverá ser praticamente nula.
"Tem que dar uma chuva geral, com umidade de 60, 80 a 100 mm. Tem que ter umidade para uma semana, mas está seco ainda. Não tem ninguém plantando ainda, não", afirmou o presidente do Sindicato Rural de Sapezal, José Guarino.
Segundo o serviço Agricultura Weather Dashboard, da Thomson Reuters, o acumulado de chuvas previsto para Mato Grosso de quarta-feira até o final do mês é de apenas 4,8 milímetros.
Em 2014, o início do plantio também foi retardado em Mato Grosso devido a um período mais seco que o normal. Houve agricultores que apostaram no plantio logo nas primeiras chuvas, que não se sustentaram, afetando as produtividades.
"Com o alto custo de produção deste ano, não dá para ninguém correr risco", destacou Ribas, lembrando a elevação dos preços de insumos como fertilizantes e defensivos, na esteira da desvalorização do real ante o dólar. "O pessoal está muito atento."
O segundo semestre de 2015 está sendo caracterizado por uma forte ocorrência do fenômeno climático El Niño.
"Este ano, devido ao El Niño, não haverá a seca de outubro de 2014 (no Centro-Oeste), mas apesar de uma frequência maior de chuvas, elas continuarão irregulares, porque os maiores volumes ficarão concentrados no Sul do Brasil", disse o agrometerologista Marco Antônio dos Santos, da Somar Meteorologia.
PARANÁ
O Paraná, que fica atrás apenas de Mato Grosso na produção de soja, também deve registrar pouca atividade de plantio nos primeiros dias após o fim do vazio sanitário.
Os trabalhos geralmente começam pelo oeste do Estado, onde muitos produtores buscam antecipar o ciclo para garantir uma boa janela de plantio para uma segunda safra com milho.
"Em outros anos, é trator para todo lado saindo para plantar, nessa época. Mas os produtores falaram que está um pouco seco, não tem umidade suficiente", disse o coordenador técnico da Ocepar, organização que reúne cooperativas do Paraná, Robson Mafioletti.
Na avaliação da cooperativa C-Vale, uma das maiores do Brasil, com forte atuação no oeste paranaense, o clima é de cautela entre os produtores.
"Existe alguma coisa (sendo plantada), mas muito pouco. O produtor está aguardando um pouco mais em relação ao ano passado, porque quem plantou muito cedo colheu um pouco menos", disse o gerente do departamento agronômico da cooperativa, Ronaldo Vendrame.
Segundo ele, a expectativa é de chuvas que permitam aceleração do plantio nos últimos dias do mês.
"A partir do dia 25 vai ter muito plantio. Se tivermos condições, vamos ter plantado 50 a 60 por cento da área na região até o fim do mês", projetou.
Segundo o Weather Dashboard, as chuvas na regiões oeste do Paraná terão acumulado de 76 milímetros na segunda quinzena de setembro, com concentração na última semana do mês.
A tendência para o período de cultivo da soja no Sul do Brasil, em função do El Niño, é de chuvas mais abundantes, garantindo um bom potencial para a safra da região.
Fonte: Agrolink
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