Preço do trigo atinge pior nível do ano no Paraná
O produtor de trigo paranaense apostou na cultura na safra 2013/14. Porém, com o início da colheita no Estado, a preocupação com a queda drástica nos preços do cereal já começa a trazer dor de cabeça para aqueles que apostaram na cultura, e com razão. De acordo com os números do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado (Seab), o valor da commodity em agosto passado atingiu R$ 32,95 para a saca de 60 kg, o pior preço médio de 2014. Entre janeiro e agosto, a retração é de 19,7%.
Comparado a agosto de 2013, a queda é de 27,5%. É claro que o cenário da safra passada era diferente, principalmente devido às geadas que atingiram o Estado, mas o valor deste ano é preocupante, já que há algumas semanas está abaixo do mínimo estipulado pelo governo, de R$ 33,45. Em algumas regiões do Paraná, como nas praças de Cascavel e Jacarezinho, a saca já foi vendida a R$ 28 nos últimos dias.
A principal justificativa para o quadro de preços baixistas é o clássico, de oferta superando a demanda. A perspectiva é de safra nacional recorde e o Paraná deve atingir a marca de 3,97 milhões de toneladas, alta de 111% frente a safra passada. No acumulado de agosto, a baixa no preço do trigo estadual no mercado disponível chegou a 15,2%. Em São Paulo, o recuo no preço foi de 12,1%, em Santa Catarina, de 11,3% e, no Rio Grande do Sul, de 7,35%. Até a última terça-feira, 11% do trigo paranaense havia sido colhido e o ritmo da comercialização era lento, em torno de 4%.
O técnico do Deral, Hugo Godinho, explica que isso ocorre porque o triticultor não quer vender seu produto a valores tão ruins. "Antes do início da colheita a pressão já era muito forte sobre os preços. Apenas os produtores do Sul do Estado ainda estão conseguindo bons valores no cereal, de R$ 33,5 a R$ 34 a saca, já que ainda não há muito produto nessa região", relata ele.
Segundo um estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) divulgado essa semana, "nem mesmo as recentes altas nas cotações externas conseguem segurar a queda interna". Porém, esse quadro internacional deve mudar, pois a expectativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) é de produção recorde em todo o mundo, incluindo a Argentina, um dos fornecedores do Brasil, que deve colher 12,5 milhões de toneladas no final do ano. "Fatalmente, esse volume mundial vai forçar ainda mais os preços para baixo no último trimestre do ano", decreta Godinho.
Agora, os triticultores nacionais estão na expectativa de que o governo intervenha sobre o mercado, com a compra de parte da produção. O Ministério da Agricultura (Mapa) confirmou na semana passada que algumas medidas de apoio para a comercialização do trigo estão sendo discutidas. "Foi feito um pedido (por parte dos produtores) para que o governo adquira pelo menos 3 milhões de toneladas. Essa intervenção é necessária", complementa o técnico do Deral. O Brasil consome anualmente 12 milhões de toneladas de trigo e a expectativa é que importe 5 milhões de toneladas em 2014, principalmente dos Estados Unidos, Argentina e Paraguai.
Victor Lopes
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