O cultivo do trigo é a principal alternativa no período de inverno para o Sul do Brasil, gerando renda e contribuindo para a manutenção do sistema plantio direto. No entanto, é preciso ficar atento quanto às pragas que podem ocasionar perdas significativas na produtividade da cultura. Neste texto abordaremos as pragas iniciais da cultura do trigo, isto é, pragas que podem atacar as plantas desde a semeadura até a fase de emborrachamento ou pré-espigamento da cultura.
Primeiramente, é preciso diferenciar os dois principais grupos de pragas iniciais: aquelas já presentes na área antes da semeadura, podendo ser de solo (ex: corós) ou de parte aérea (ex: percevejos); e aquelas que migram para a área logo após a emergência das plantas de trigo, como os pulgões.
Os corós representam a principal praga de solo. Tratam-se de larvas de coleópteros em forma de “C” e cor esbranquiçada, que habitam no solo previamente à semeadura. No entanto, nem toda espécie de coró é uma praga do trigo: é necessário realizar amostragens no solo, preferencialmente antes da semeadura, para identificar as espécies presentes na área. As espécies mais comuns são o coró-das-pastagens (Diloboderus abderus) e o coró-do-trigo (Phyllophaga triticophaga) (Figura 1).
Figura 1. Larva/adulto macho do coró-das-pastagens (Diloboderus abderus) à esquerda e larva/adulto do coró-do-trigo (Phyllophaga triticophaga) à direita.
Fonte: Paulo Roberto Valle da Silva Pereira. Confira a imagem original clicando aqui.
Essa praga é denominada rizófaga, ou seja, alimenta-se das raízes das plantas com alta voracidade, podendo causar danos severos sob condições de alta incidência. Ainda, após ocorrer o ataque da parte radicular, o coró pode puxar a planta em direção ao solo e se alimentar do restante de suas estruturas vegetativas. Um coró é capaz de atacar até duas plantas de trigo em apenas uma semana (Pereira & Salvadori, 2011). A principal recomendação de controle é a rotação de culturas e um tratamento de sementes eficiente, sendo que a densidade populacional média de corós, a partir da qual recomenda-se o controle, é de 5 corós-pragas/m2 (Salvadori & Silva, 2004).
A lagarta-rosca (Agrotis ipsilon) também é uma praga que merece destaque, diferenciando-se por possuir hábito noturno: as lagartas se abrigam no solo durante o dia e ocasionam seu dano durante a noite (Figura 2). Trata-se de uma espécie polífaga, ou seja, ataca diversas espécies de plantas, podendo estar presente na área como remanescente das culturas da soja e do milho. As lagartas maiores cortam a base das plantas de trigo, podendo abrir galerias na base dos colmos e levá-las à morte. O controle pode ser realizado com tratamento de sementes e aplicação de inseticidas em parte área, priorizando-se aplicações noturnas e com volume de calda suficiente para atingir a base das plantas.
Figura 2. Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon).
Fonte: Thaís Fagundes Matioli. Confira a imagem original clicando aqui
Outra praga que pode estar presente na área antes mesmo da semeadura é o complexo de percevejos, visto que estas espécies atacam outras culturas antecessoras, como a soja. Os mais comuns sugadores na cultura do trigo pertencem ao gênero Dichelops, popularmente conhecidos como percevejos barriga-verde: Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus. Somado a isso, esse percevejo tem sido encontrado desde a semeadura da cultura do trigo até a fase de espigamento, podendo ocasionar perfurações transversais nas folhas e conferir um aspecto de “charuto” às plantas, com folhas enroladas e deformadas (Figura 3).
Figura 3. Danos por percevejos nas hastes do trigo.
Fonte: Lucine & Pazzini (2019).
O controle preventivo, durante a fase vegetativa da cultura, é uma boa estratégia para reduzir a severidade do ataque de percevejos no período reprodutivo. Estudos da CCGL-Tec demonstram que a ocorrência de um percevejo/m2 reduz a produtividade do trigo em até 52 kg/ha
Já os pulgões se caracterizam por migrar para a lavoura de trigo logo após a emergência das plantas, que servem como fonte de alimento a essa praga. Ressalta-se que além do dano direto pela sucção da seiva, os pulgões podem atuar como vetores da doença VNAC (Vírus do Nanismo Amarelo da Cevada), dentre outras viroses (Figura 4). Os sintomas caracterizam-se por manchas cloróticas que evoluem para necrose dos tecidos foliares, causando a morte das plantas de trigo em estágios mais avançados de infecção (Pereira & Salvadori, 2011).
Figura 4. Amarelecimento das folhas de trigo causado por viroses.
Fonte: Embrapa trigo. Confira a imagem original clicando aqui
Dentre as diversas espécies de pulgões que atacam a cultura do trigo, algumas destacam-se pela maior frequência e severidade de infestação, como é o caso do pulgão-da-folha (Metopolophium dirhodum) e do pulgão-verde-dos-cereais (Schizaphis graminum). É preciso destacar que as joaninhas possuem um importante papel no controle natural dessa praga e, por isso, recomenda-se a aplicação de inseticidas seletivos a fim de preservar os inimigos naturais (Sartor, 2018).
Nesse contexto, percebe-se que o tratamento de sementes com inseticidas é uma prática de manejo eficiente visando o controle das pragas iniciais do trigo. Em estudo de Hossen et. al. (2014), o tratamento de sementes proporcionou plântulas mais vigorosas, com melhor estande e germinação em virtude da proteção contra as pragas. O tratamento com tiametoxam resultou em melhor desempenho quanto à germinação e acúmulo de massa fresca e seca, para a variedade de trigo Quartzo. No entanto, para variedade Pampeano ocorreu maior acúmulo de massa seca no tratamento de carboxina + tiram. Além disso, as duas cultivares apresentaram melhor desempenho, no teste de envelhecimento acelerado, na presença de tiametoxam + carboxina + thiram.
Portanto, a pressão de pragas iniciais na cultura do trigo pode ser ocasionada por espécies que já estavam na área e em cultivos anteriores, além de insetos de inverno que migram para a lavoura de trigo logo após a emergência das plantas. Desse modo, o monitoramento de pragas em consonância com o tratamento de sementes deve ser adotado como estratégia fundamental no controle de pragas iniciais na cultura do trigo.
Fonte: Mais Soja
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