19
jan
2010
PR: Oeste dá a largada na colheita de soja

 

Foi dada a largada para a colheita da soja no Paraná. O ponta-pé inicial da safra de verão foi na última sexta-feira na Região Oeste do estado. O fim de semana ensolarado depois de vários dias de chuva permitiu que o agricultor Luiz Mengarda, de Pato Bragado, tirasse suas máquinas do galpão.

Os trabalhos evoluem rápido. Em um verão chuvoso de El Niño como este não há tempo a perder. É preciso aproveitar qualquer abertura de sol. A colheitadeira que retira a soja do campo é seguida por uma plantadeira, que joga as sementes do milho que será colhido na metade do ano, conta Cévio, filho de Luiz.

A pressa é para semear a safrinha, mas também para evitar prejuízos na soja. O verão quente e úmido deixou as plantas mais suscetíveis ao ataque de fungos e pode comprometer a qualidade dos grãos colhidos. Na propriedade dos Mengarda, o problema foi a macrofomina, ou podridão cinzenta da raiz. “É uma doença que ataca a raiz das plantas e que não tem como controlar”, explica Cévio. Dependendo da severidade da infestação, pode causar maturação desuniforme da lavoura e até morte prematura das plantas. “Por isso apressamos a colheita. Por causa da macrofomina o ciclo foi antecipado em cerca de 10 dias. A soja que estamos colhendo agora foi plantada no início de outubro.”

Mesmo antecipando a colheita, Cévio relata que nos primeiros talões colhidos, que foram afetados pela doença, haverá redução de 20% a 30% na produtividade da lavoura. “Era soja com potencial para 3,5 mil quilos por hectare. Mas está rendendo apenas 2,5 mil quilos nas primeiras colheitas”, lamenta. Luiz e Cévio Mengarda cultivaram neste verão 484 mil hectares de soja e esperam fechar a temporada com rendimento médio de 3,1 mil quilos por hectare. No ano passado, a produção foi prejudicada pela seca e a produtividade média caiu a 1,2 mil quilos por hectare.

Em todo o Paraná foram cultivados neste ano 4,4 milhões de hectares com soja. O potencial é para recordes 13,1 milhões de toneladas, conforme apurou a Expedição Safra RPC em novembro. As chuvas do final do ano passado permitiram aos produtores antecipar o plantio de verão. A colheita, contudo, começa dentro do prazo normal. Geralmente, os trabalhos de campo da soja, que abrem a temporada de verão, têm início na segunda quinzena de janeiro no estado. A área colhida até agora ainda é pequena e não aparece nas estatísticas oficiais. Em algumas regiões do estado, ainda é preciso esperar por uma pausa nas chuvas para colocar o maquinário no campo.

Produtores temem que o excesso de umidade prejudique o rendimento e a qualidade da safra. “Por enquanto, a grande preocupação é com o feijão, pois a colheita já está em andamento. Mas se continuar chovendo assim daqui para frente o milho e a soja também podem começar a ter problemas”, considera Margorete Demarchi, agrônoma do Deral.

“A chuva já está atrapalhando a safra, principalmente a de milho. Quem plantou mais cedo está tendo problemas. As plantas precisam de sol”, relata Nelson Me­­negatti, presidente do Sindicato Rural de Cascavel (Oeste). Em 45 dias (de 01 de dezembro a 14 de janeiro), a região recebeu cerca de 300 mm de chuva. Os mapas do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe) mostram volumes ainda maiores para o extremo Norte do estado, onde as precipitações chegaram a 600 mm no perídodo, 70% a mais que a média. Em anos normais, as chuvas acumulam em média 350 mm entre dezembro e janeiro no Paraná (período de 60 dias).

As previsões para o verão indicam que o clima deve continuar preocupando os agricutores nas próximas semanas. “Ao menos até fevereiro, as precipitações tendem a se manter acima da média no estado.As chuvas serão frequentes, sem períodos mais longos de estiagem”, diz Jonathan Cologna, do Somar Meteorologia. Segundo ele, o El Niño, fenômeno climático que intensifica as chuvas de verão no Sul do país, irá continuar ativo durante todo o primeiro semestre de 2010.

Clima úmido aumenta custos de produção
Um dos principais problemas causados pelo excesso de chuva é o aumento dos casos de ferrugem asiática nas lavouras de soja. Até ontem, o Consórsio Antiferrugem da Embrapa Soja registrava 902 focos no país, 18% deles no Paraná. O estado já contabiliza 166 ocorrências e só perde para Goiás e Mato Grosso do Sul, que tem, respectivamente, 358 e 210 casos da doença nesta temporada. Nesta mesma época do ano passado, haviam 636 focos de ferrugem no país e 132 casos no Paraná.

O clima quente e úmido cria condições ideais para a proliferação do fungo, que se espalha mais rápido que o normal neste ano porque chegou mais cedo às lavouras paranaenses. No ciclo passado, o primeiro foco de ferrugem foi registrado em dezembro. Neste ano, o fungo chegou no final de setembro, quando muitas regiões do estado ainda nem haviam iniciado o plantio da soja.

Com o aumento da severidade dos ataques , os gastos para contenção da doença também tendem a crescer. Segundo a Seab, cada aplicação custa em média R$ 45 por hectare, o equivalente a 2% do preço atual de mercado da soja no Paraná. A conta considera a cotação de R$ 38 a saca (média do estado apurada pela Seab) e uma produtividade média de 50 sacas por hectare.

Luana Gomes

Umidade preocupa agricultores do Noroeste
Quinta do Sol - Na região de Campo Mourão, no Centro-Oeste do estado, o excesso de chuva nos meses de dezembro do ano passado e janeiro de 2010 está deixando produtores de milho preocupados. Com as lavouras em fase de maturação, os agricultores já começam a prever prejuízos caso continue chovendo.

“Nessa fase de desenvolvimento, o milho deveria receber mais sol para auxiliar na perda de água dos grãos. Como está chovendo muito, as espigas começam a ficar encharcadas e isso pode prejudicar a qualidade do grão”, explica o agricultor Valdecir Lopes de Araújo, que plantou 32,5 hectares do cereal em sua propriedade em Quinta do Sol.

Por conta dos resultados negativos em safras passadas, esse ano o agricultor Marco Roberto Strurion decidiu investir menos no milho. Plantou o cereal em apenas 2,9 hectares. “Livrei-me de um grande problema. Se tivesse plantado em todos os meus 16,94 hectares, estaria com os cabelos em pé por conta de tanta chuva”, diz. Segundo ele, em apenas um dia chegou a chover cerca de 120 mm na sua propriedade no ínício do ano. Na semana passada, foram mais 50 mm. “É muita chuva. Não tem milho que resista a essa quantidade de precipitações.”

Já o agricultor Antônio Olinto, que somente plantou soja na propriedade, se diz satisfeito com a quantidade de chuva dos últimos dias. “Para a cultura essas precipitações são excelentes. Se tivesse plantado milho estaria perdendo sono.”

Fonte: Gazeta do Povo - Página Rural

Volte para a Listagem