04
out
2012
PR: colheita do trigo arranca com qualidade no Oeste

Item considerado um pré-requisito para garantir a comercialização do trigo, a qualidade do produto não deve ser problema nesta colheita. A ausência de intempéries climáticas em fases decisivas da cultura preservou as lavouras, resultando em otimismo quanto às perspectivas de negociação.

A notícia é um alento aos produtores, que voltam a enfrenta falta de liquidez, mesmo com redução de 10% na colheita nacional.

Na Região Oeste do Para­ná, onde a colheita foi praticamente encerrada, os produtores celebram o resultado favorável. E fatores como a redução da área plantada no estado e a quebra de safra em grandes players como Rússia, Argentina e Austrália devem garantir preços superiores aos de 2011.

Com perto de 310 mil hectares colhidos (40% da área plantada), o Paraná conclui que tem condições de atender as exigências dos moinhos. O sol que adia o plantio da soja favorece a colheita do trigo, conforme a Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab).

A Cooperativa Agrária, localizada no distrito de Entre Rios, em Guarapuava (região central do Paraná), recebe os primeiros lotes da safra atual para moagem. A produção vem das Regiões Norte e Oeste do estado. “As cargas que chegaram até agora apresentaram uma qualidade muito boa”, relata Jeferson Caus, gerente de negócios da cooperativa.

Cerca de 20% das 400 toneladas processadas diariamente no moinho da Agrária são adquiridas em outras regiões. A empresa atende principalmente seus cooperados, que devem iniciar a colheita nas próximas semanas. O gerente confirma que os preços devem ser sustentados em um patamar superior ao da última safra. “[Os preços] estão mais altos do que no ano passado, mas ainda há um descompasso entre produtores e compradores pelo início da colheita. Em aproximadamente 20 dias deve haver um equilíbrio”, pontua. Outro fator que intefere na comercialização neste momento são os leilões de estoques públicos, que reduzem o interesse dos moinhos pelo trigo privado.

Na C. Vale, cooperativa localizada em Palotina (Oeste), o desempenho do cereal também foi favorável. Os técnicos relatam que o peso hectolítrico (PH), um dos principais itens para a mensuração da qualidade, está entre os melhores nos últimos anos. Cerca de 7 mil toneladas, ou 34% da produção, foram negociadas.

O Sindicato da Indústria do Trigo (Sinditrigo), entidade representativa do setor no estado, confirma que a maior parte da produção vai atender as exigências dos moinhos. “Com o desenvolvimento da colheita em lavouras semeadas e colhidas mais tarde, a qualidade é de razoável para boa, atendendo à maioria das indústrias”, avalia o vice-presidente da instituição e diretor dos Moinhos Globo, Giancarlo Venturelli.

O otimismo também pode ser notado no campo. Modesto Daga, produtor e consultor em Cascavel (Oeste), está animado. “A qualidade do trigo é extraordinária e a produtividade aumentou, garantindo um bom resultado”. Com isso, a classificação também deve ser alta, dentro dos novos critérios que passam a valer nesse ano. “A qualidade é tão boa quanto a do produto internacional, pois o clima foi favorável”, complementa.

Nelson Dalgalo, também de Cascavel, investe na cultura há mais de 30 anos e terminou recentemente a colheita de 150 hectares. Ele acredita que não faltará comprador. “Estou aguardando o mercado”, diz. No ano passado, a qualidade da produção não lhe garantia a mesma confiança.

O fato de grandes fornecedores mundiais terem enfrentado quebra na produção também colaborou para uma evolução dos preços, explica Gilson Martins, assessor técnico e econômico da Ocepar. “Criou-se um cenário de oferta escassa e os preços subiram”. A condição deve se manter para a próxima safra. Os três países devem produzir 76,5 milhões de toneladas na safra 2012/13, contra 100 milhões em 2011/12, conforme relatório do governo dos Estados Unidos.

Importações seguem por necessidade

Ainda que o trigo colhido até agora tenha boa qualidade, a importação do cereal deve continuar ocorrendo. No caso da Agrária, o gerente de negócios Jeferson Caus explica que a compra ocorre pois a produção tem diferentes destinos. “A questão não é qualidade, mas uso. O trigo argentino, por exemplo, é bom para certa finalidade à qual o produto local não serve”, diz. Cerca de 20% do matéria-prima utilizada na unidade vêm do exterior.

O país terá de manter as importações pelo próprio déficit no abastecimento. A colheita nacional não cobre metade do consumo estimado em 11 milhões de toneladas de trigo ao ano. Neste ano, o recuo no plantio traz corte na produção de 15% no Paraná e de 10% no Brasil, para 2,1 milhões e 5,2 milhões de toneladas, respectivamente.

Mas, ainda que a demanda interna seja superior à oferta, parte da produção local é exportada, dependendo das cotações e do interesse dos compradores, aponta Gilson Martins, agrônomo da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). “O mercado é livre”, resume. O Brasil exportou 1,9 milhão de toneladas de trigo neste ano, conforme a Secretaria de Comércio Exterior do governo federal.

 
Chuva traz alívio aos Campos Gerais, após dois meses de seca

Líder em produtividade nas lavouras de trigo do Paraná, os Campos Gerais passaram dois meses sem chuva. Mas as plantas começam a matar a sede desde a semana passada. “O trigo da região de Palmeira é o último plantado no estado e precisava dessa chuva. Ela melhora a formação e dá mais peso ao grão”, explica José Roberto Tosato, técnico da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) em Ponta Grossa.

Segundo Tosato, a região consolidou na safra passada o melhor desempenho do estado em termos de qualidade e produtividade, mas nesse ano devem ocorrer perdas. “Como a área é grande, temos apenas 15% já colhido. Nossa projeção é que ocorra um prejuízo de 10% a 15% na produtividade, devido à longa estiagem”, complementa.

Elmir Groff, que plantou o cereal na região, confirma os efeitos da seca. “O trigo semeado mais tarde foi prejudicado, teve seu desenvolvimento atrasado”, relata. Ele tem uma área de cultivos de inverno de 250 hectares, que além do cereal também inclui aveia.

Fonte: Gazeta do Povo

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