Mais suscetíveis às intempéries do clima, os campos de sementes de soja do Paraná registram problemas por causa da falta de umidade e altas temperaturas das últimas semanas. Estimativa da Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas (Apasem) aponta redução de 40% na produção sementeira.
Levantamento - O levantamento da entidade indica que a oferta deve cair de 250 mil toneladas previstas no inicio deste ciclo para 150 mil toneladas. O problema deve interferir nos custos da próxima temporada. O volume que não for classificado como semente deve ser aproveitado pela indústria, que dará o preço conforme a qualidade do produto.
Sudoeste - De acordo com apuração da reportagem, o clima só não castigou os campos sementeiros da região Sudoeste do estado. As demais áreas confirmam perdas e ainda estão sujeitas a problemas. Além da redução na oferta, há perda de qualidade das sementes colhidas até o momento. "Alguns lotes devem ser reprovados por causa da baixa qualidade", afirma Antônio Alberto Gomes da Silva, gerente comercial de semente da cooperativa Batavo, de Carambeí, nos Campos Gerais.
Perdas - Na região de atuação da cooperativa, as perdas são de 30%. A Batavo tinha a previsão de produzir 500 mil sacas de 40 quilos de sementes, sendo 25% para abastecer associados e o restante para venda no mercado. A vizinha Castrolanda, em Castro, também nos Campos Gerais, estimava colher 18 mil toneladas de cultivares. Porém, além da perda estimada em 15% na região, a área de 1,7 mil hectares ao Sul de São Paulo, nos municípios de Itapeva, Itaberá e Itararé, registram desclassificação ainda maior, de 80%. "Se conseguirmos colher 1 mil tonelada para semente [das 5 mil toneladas previstas para área em São Paulo] já será muito. A situação é caótica", define Charles Alan Teles, coordenador de produção de semente da cooperativa.
Multiplicação - Há cinco anos, o agricultor e sementeiro Edson Roberto Freire, do município de Ventania, dedica parte da sua propriedade para a multiplicação da oleaginosa. Ele foi atraído para o negócio por conta do bônus de até 10% em cima do preço da soja no mercado. Mas neste ano a estiagem deve levar parte do lucro esperado. "Cerca de 30% da área - 380 hectares - não está pronta e a quebra será de 50%. Multiplicar exige monitoramento constante, limpeza das máquinas para não misturar variedades e outros cuidados. Os gastos são maiores. A situação está difícil", afirma o produtor, que aumentou em 130 hectares a área em relação à temporada passada.
Aquém do esperado- Jean Bouwman, um dos 110 produtores de semente de soja no Paraná, previa colher 65 sacas por hectare quando planejou dedicar 450 hectares para multiplicação - 100 hectares no Paraná e outros 350 hectares em solo paulista. "Não sei se consigo tirar 15 sacas [de sementes] por hectare. O déficit hídrico é muito grande. O calor está derrubando as folhas e a planta não tem mais capacidade de enchimento", lamenta.
Área - Na temporada atual, o Paraná dedicou cerca de 5 milhões de hectares à soja, conforme indicador da Expedição Safra Gazeta do Povo. Se esta área for mantida no próximo ano, a demanda por sementes seria em torno 200 mil sacas. A tendência é que estados como Santa Catarina assumam maior fatia do mercado paranaense.
Situação preocupante- "A situação para próxima safra é preocupante", ressalta Eugênio Bohatch, diretor executivo da Apasem. "Estamos preocupados principalmente em função da qualidade do produto colhido", complementa o presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), Narciso Barison, que prefere não estimar a perda. A entidade mantém a projeção de produção nacional de 1,2 milhão de toneladas de semente no país.
Com oferta menor, preços tendem a subir - Grãos que perderam capacidade de germinação serão destinados à indústria. A escassez tende a inflacionar o mercado das sementes de soja. Com oferta reduzida e demanda em alta - principalmente em função dos bons preços da commodity, que estimulam o plantio -, o setor projeta reajuste no preço das cultivares mais disputadas antes do plantio de 2014/15, que começa em setembro.
Valorização - "As perdas impactam e geram valorização da semente", aponta o gerente comercial de Sementes da cooperativa Batavo, Antônio Alberto Gomes da Silva. "Acredito em, no mínimo, 15% de aumento no preço", faz coro o coordenador de Produção de Semente da Castrolanda, Charles Alan Teles.
Valor - De acordo com dados da Apasem, no plantio passado, o preço das cultivares na região Sudoeste ficou entre R$ 1,90 e R$ 3 o quilo. Nos Campos Gerais, a comercialização do quilo de semente foi entre R$ 2,50 e R$ 2,80.
Expectativa - Para o multiplicador Jean Bouwman, o produtor paranaense precisa estar preparado para gastar na compra de cultivares para o próximo plantio. "Haverá pouca semente na mão do produtor. Estimo preço mínimo de R$ 4,50 o quilo. Talvez chegue a mais", aponta.
Fonte: Gazeta do Povo / Ocepar
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