16
out
2012
Paraná perde a liderança em grãos

A exceção virou regra e, a partir de agora, a agricultura paranaense dificilmente voltará a liderar a produção nacional de grãos, mostrou o primeiro levantamento da safra 2012/13 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado nessa terça-feira (9). A expansão das lavouras em Mato Grosso fez com que o Centro-Oeste ultrapassasse a Região Sul. Porém, isso não significa retrocesso para a economia do Paraná, que se volta para a industrialização e a diversificação das atividades rurais, com o objetivo de elevar o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, avaliam os especialistas.

A safra nacional deve render até 182,2 milhões e toneladas de grãos, 10% a mais do que o volume recorde de 2011/12, e a produção de Mato Grosso deve ser 5,6 milhões de toneladas (15%) maior que a do Paraná, informou a Conab. Até o ano passado, a agricultura mato-grossense assumia a liderança apenas quando havia quebra climática nos campos paranaenses.

Será “difícil o Paraná recuperar a posição de maior produtor de grãos”, disse a economista Gilda Bozza, analista da Federação da Agricultura do Paraná (Faep). A partir de agora, isso só deve ocorrer em caso de catástrofe climática no Centro-Oeste, apontou. “Em termos de PIB, continuaremos a ser o segundo estado, com 16%, perdendo apenas para São Paulo”, acrescentou.

Conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada Esalq/USP, a produção do campo é responsável por apenas um quarto do PIB agrícola. O setor de insumos responde por 10%, a indústria por 35% e a rede de distribuição por 30%, mostram as contas referentes a 2011.

Apesar de não ter espaço como Mato Grosso para expandir as lavouras, o Paraná tenta elevar a produção de commodities ampliando o rendimento por hectare e desenvolvendo outras cadeias, conforme a técnica de alimentos Andréia Claudino, coordenadora do Programa de Agronegócio do Sebrae. Os técnicos do projeto estimulam o beneficiamento da produção nas propriedades de menos de 50 hectares – 85% dos estabelecimentos rurais do estado.

Entre as alternativas que estão dando resultados, Andréia cita leite, queijo, aves, mel, embutidos, vinhos, cachaças e pães. “Em muitas propriedades, o que era uma alternativa virou a principal atividade em geração de renda.” A soja continua sendo o principal produto do agronegócio do Paraná. A estrutura de agregação de valor ao grão vem sendo ampliada pelas cooperativas e indústrias isoladas.

Na safra 2011/12, Mato Grosso já havia ultrapassado o Paraná, mas o quadro foi atribuído à seca que afetou a produção de verão em todo o Sul. A produção sulista ficou em 57,8 milhões de toneladas e a do Centro-Oeste chegou a 70,8 milhões. Até 2010/11, o Sul tinha a liderança, com placar de 67,7 x 56,8. A vantagem do Paraná sobre Mato Grosso era pequena, de 31,6 x 30,9 – sempre em milhões de toneladas.

A expansão das lavouras em Mato Grosso vem sendo contínua. Na última safra de milho de inverno, o cereal avançou 800 mil hectares (44%) e rendeu 15 milhões de toneladas (o dobro do volume colhido no mesmo ciclo de 2011). Esse teria sido o passo decisivo para a liderança mato-grossense na produção de grãos. Agora, a previsão é que a soja, em fase de plantio, avance entre 490 mil (7%) e 890 mil (12%) hectares, conforme a Conab.

Motivo para expansão vem dos EUA

A quebra de safra causada pela maior seca em meio século nos Estados Unidos é que motiva o Brasil a expandir a produção de soja e a alcançar safra de grãos recorde. Houve elevação sem precedentes nos preços das commodities e, mesmo nos EUA, a regra é elevar a produção assim que for possível. Essa tendência vem sendo confirmada nesta semana pela Expedição Safra Gazeta do Povo, que percorre o Corn Belt com uma equipe de reportagem. Enquanto a colheita avança rapidamente para a reta final, os produtores norte-americanos já preparam a terra para a safra 2013/14.

Em um percurso de 400 quilômetros de estrada, os repórteres encontraram apenas uma lavoura de soja em pé. Os jornalistas Luana Gomes e Christian Rizzi relatam que as máquinas estão varrendo também as plantações de milho entre os estados de Illinois e Iowa. Em parte das lavouras, só restam grãos que, por desperdício, ficaram para trás. Isso em regiões onde a colheita deveria se estender até o final de novembro.

Produção continua concentrada

Apesar da expansão das lavouras em todo o país – a área cultivada deve aumentar 3%, para a extensão recorde de 52 milhões de hectares –, a produção de grãos continua concentrada, mostrou o levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Paraná, Mato Grosso e Rio Grande do Sul devem ser responsáveis por 57,89% da colheita em 2012/13. Considerando Sul e Centro-Oeste, a participação é de 78,4% no volume da safra.

Existe concentração também de cultivo. A soja ocupa 52,3% da área plantada, ou 27,3 milhões de hectares. A previsão da Conab é que a oleaginosa renda até 82,8 milhões de toneladas, número que reforça as projeções mais otimistas das consultorias privadas divulgadas nos últimos meses.

Mesmo sem muito espaço para ampliar o cultivo, o Paraná deve aumentar a área de soja entre 2% e 6%, para até 4,73 milhões de hectares, aponta o levantamento. Para isso, terá de reduzir o cultivo de milho de verão entre 13% e 8%, para o mínimo de 850 mil hectares. O plantio do cereal atingiu 69% e o da oleginosa 20%, informou ontem o Departamento de Economia Rural (Deral).

Algodão e trigo

Mato Grosso praticamente não planta milho no verão. A expansão da soja ocorre, teoricamente, sobre áreas de pastagens e de algodão, cultura que está perdendo de 123 mil (17%) a 180 mil (25%) hectares, conforme a Conab. O estado do Centro-Oeste poderá colher 24,2 milhões de toneladas da oleaginosa.

Paraná e Rio Grande do Sul concentram a produção de trigo. No último inverno, a agricultura paranaense apostou no milho e, com isso, perdeu o posto de maior triticultor para o estado gaúcho. O placar dos dois estados deve ficar em 2,4 x 2,1, ante uma produção nacional de 5 milhões de toneladas.

Feijão

Os produtores paranaenses mantêm a liderança na cultura do feijão, podendo atingir 700 mil toneladas nos três ciclos da cultura que fazem parte da temporada 2012/13. O segundo maior produtor da leguminosa deve ser Minas Gerais, com 629 mil toneladas, aponta a Conab.

82,8 milhões de toneladas de soja deverão ser produzidas pelo Brasil em 2012/13, conforme a Conab. A projeção considera condições climáticas favoráveis do plantio à colheita. O volume é o suficiente para que o país assuma a liderança mundial no cultivo e na exportação da oleaginosa.

Fonte: Gazeta do Povo

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