A Secretaria estadual da Agricultura e do Abastecimento divulgou nessa terça-feira (01.09) a primeira estimativa de safra de grãos de verão para o período 2015/2016, a principal plantada no Estado. O primeiro levantamento da safra de verão aponta a tendência do cultivo da soja continuar em alta no Paraná, devendo avançar ainda mais sobre as áreas de milho e feijão, que estão repetindo o mesmo fenômeno com a transferência do plantio principal dessas culturas para a segunda safra de grãos.
De acordo com levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral), na safra de grãos de verão 2015/16 a área plantada e o volume de produção deverão se manter estáveis em 5,85 milhões de hectares e 22,1 milhões de toneladas nesse período do ano.
Na temporada 2015/16 o cultivo da soja reflete concentração no plantio, devendo ocupar 89% da área plantada e previsão de 81% na produção total de grãos de verão. Ela avança 2%, passando de 5,08 milhões de hectares na safra passada para cerca de 5,2 milhões de hectares, um crescimento de 116,6 mil hectares. Em compensação, a área cultivada com milho de verão cai ao menor nível de sua história, com 440.220 hectares, uma retração de 29% em relação à área plantada no mesmo período do ano passado, que foi de 541.829 hectares. A queda no cultivo de milho é de 101,6 mil hectares.
FEIJÃO - O feijão é outra cultura importante nesse período do ano que perde espaço para a soja, também devendo ser a menor área da história. A área plantada cai 4%, de 192.639 hectares na safra passada para 185.438 hectares na safra 2015/16, com 7,2 mil hectares de plantio a menos de uma safra para outra.
Se forem mantidas as condições regulares de clima, a produção desses grãos segue a mesma tendência: a soja avança 5% na produção, rumo a mais uma safra recorde, passando de um total de 16,9 milhões de toneladas colhidas na safra 2014/15 para um total de 17,8 milhões de toneladas na safra 2015/16.
A produção de milho recua 19%, a mesma proporção da área plantada, devendo cair de 4,6 milhões de toneladas colhidas na safra 14/15 para 3,8 milhões de toneladas na safra 15/16. E o volume de produção de feijão de primeira safra cai 4%, passando de 14,4 mil toneladas na safra passada para 13,8 mil toneladas na próxima safra de verão.
SOJA - Para o secretário estadual da Agricultura, Norberto Ortigara, a busca da liquidez no mercado e maior rentabilidade oferecida pelo grão são os fatores que explicam a opção do produtor em plantar a soja. Segundo ele, o Paraná está divulgando novamente uma boa safra de grãos, tendo a soja como produto de ponta.
Mas ressaltou que sua preocupação e atenção se volta agora para as condições do clima durante o desenvolvimento das culturas. “Os produtores paranaenses estão apostando numa única cultura. Se o clima não ocorrer com regularidade como esperamos, aí sim poderemos vir a ter problemas”, alertou, pois os ganhos esperados poderão ser menores.
Ortigara reconhece que de um lado a intenção dos produtores é boa porque estão apostando na cultura com maior rentabilidade, mas por outro eles correm o risco de qualquer evento climático atingir não só o processo produtivo como toda a cadeia do agronegócio, observou.
Segundo o diretor do Deral, Francisco Simioni, o Paraná está iniciando o plantio de grãos numa área de quase 6 milhões de hectares, com a expectativa de boa colheita. Para ele, o desafio será o agricultor ter amparo no período da comercialização dessa produção, com demanda e câmbio ainda em ebulição devido aos ajustes da economia nacional e mundial.
O plantio da primeira safra de grãos já começou no Paraná, com 3% da área prevista para o milho e 5% para a área esperada com feijão já plantada. A soja, cuja temporada de plantio se inicia a partir de 21 de setembro, por causa do zoneamento agrícola, já vendeu 25% de sua produção antes mesmo de começar a ser plantada.
Em comparação com o ano passado, as vendas antecipadas do grão nessa mesma época eram de apenas 2%. Considerando as três últimas safras, a venda média de soja, de forma antecipada, foi de 9%. Entre os fatores apontados para essa aceleração na comercialização de soja está a demanda internacional ainda aquecida e o aumento do dólar, que deixou o real desvalorizado e deu mais competitividade à produção nacional.
LIQUIDEZ E RENTABILIDADE - Na avaliação do economista Marcelo Garrido, chefe da conjuntura agropecuária do Departamento Economia Rural, a safra de grãos de verão está repetindo os anos anteriores, com os produtores optando por plantar a soja no plantio de verão.
Um levantamento feito pelo técnico do Deral sobre as três principais culturas plantadas no período do verão no Estado, nos últimos 10 anos, especificamente de 2007 a 2016, demonstra os motivos pelos quais o produtor paranaense fez pela soja: ele está em busca da liquidez e de rentabilidade maior.
O estudo mostra que o produtor de soja está ganhando mais. A rentabilidade no período avaliado é de 104% e do milho, caiu 54%. A rentabilidade mede os custos de produção em relação aos preços de venda do grão.
Nesse período, a área de soja plantada no Paraná cresceu 33%, passando de 3,9 milhões de hectares para 5,2 milhões de hectares. Em contrapartida, a área cultivada com milho na primeira safra caiu 66%, saindo de um total de 1,3 milhão de hectares cultivados para 440 mil hectares plantados no mesmo período. O feijão, seguindo o milho, também perdeu 52% da área plantada, caindo de 388,7 mil hectares para 185,4 mil hectares plantados na primeira safra.
A rentabilidade da soja também foi a melhor no período avaliado, de 10 anos. Em 2007, a rentabilidade foi de 47,52% e na última safra (14/15) alcançou 97,16%, praticamente o dobro, apontou Garrido.
No mesmo período, a rentabilidade do milho caiu 52,7% em 2007 para 24,3% acima do custo de produção variável em 2015. O feijão, cultivado na primeira safra, também teve uma perda de rentabilidade de 11%, caindo de 56,7% em 2007 para 50,8% em 2015.
Para Garrido, o mercado de soja é mais atrativo porque a commodity tem demanda mundial, oferecendo liquidez a todos os países produtores. Já o milho, abastece mais o mercado interno e ainda sofre com a concorrência da produção norte-americana, que é mais rentável em sua produção, impulsionada por uma logística mais eficiente.
Por isso, a opção de cultivo vem se invertendo e transferindo para a segunda safra o plantio principal de culturas para atender o mercado interno, como está acontecendo com o milho e feijão. Só em caso de quebra de safra nos Estados Unidos é que o milho cultivado no Brasil na primeira safra ganha competitividade, explicou o técnico.
PRODUTIVIDADE E CUSTO DE PRODUÇÃO - O estudo feito pelo Deral demonstra ainda que os custos de produção do feijão e milho aumentaram mais que o preço do grão. Com a soja, ocorreu movimento contrário: o aumento de preço foi maior do que o custo de produção, o que diferencia a rentabilidade e novamente a opção do produtor pela soja.
O aumento no rendimento do milho, com sucessivas incorporações de tecnologia no plantio, fez saltar a produtividade do grão cultivado no Paraná. Segundo o estudo, o milho avançou de uma produtividade de 6.500 quilos por hectare em 2007 para uma estimativa de 8.600 quilos por hectares na safra 2015/16, um avanço de 32%.
O feijão também elevou em 29% a produtividade, saindo de 1.400 quilos por hectare em 2007 para 1.800 quilos por hectare esperados na próxima safra. A soja não teve alteração semelhante, crescendo apenas 14%. O rendimento, que era em torno de 3.000 quilos por hectare há 10 anos, evoluiu para 3.430 quilos por hectare.
O estudo feito no Deral abordou também os custos de produção, tendo como parâmetro o mês de fevereiro. No período avaliado, o custo da soja subiu 64%, saindo de R$ 17,34 o custo para se produzir uma saca de soja, para R$ 28,50 em fevereiro de 2015. No mesmo período o preço recebido pelo produtor aumentou 120%.
O milho, que custava R$ 8,30 para produzir uma saca do grão em 2007 aumentou seu custo para R$ 16,74, um aumento de 102%. Já o preço aumentou 64% no mesmo período, saindo de uma média de R$ 12,67 a saca para R$ 20,80 a saca.
O custo de produção do feijão preto também aumentou 101%, saindo de R$ 41,04 para se produzir uma saca em 2007, para R$ 124,51 em 2015. Já o preço avançou 94% no período, saindo de R$ 64,31 a saca para R$ 124,51 a saca.
Fonte: Agrolink
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