12
mai
2011
País deve ter dificuldade para comprar trigo

Daniel Popov

São Paulo - O Brasil pode ter dificuldades em importar trigo este ano devido a possível redução de safra dos principais países produtores e aos baixos estoques registrados no mundo, segundo especialistas ouvidos pelo DCI. As importações de trigo da Argentina devem se manter nas 3,6 milhões de toneladas registradas em 2010, apesar do país vizinho ter liberado mais 1,5 milhão de toneladas para exportação esta semana. Por outro lado, as exportações brasileiras do produto podem atingir a marca de 2 milhões de toneladas este ano, que representa um incremento de 51% ante o ano anterior. Isso se deve aos baixos preços do grão no mercado interno e aos valores elevados registrados no exterior.

Mesmo com o recente anúncio da Argentina, que é o principal mercado brasileiro para a compra do cereal, de ampliação em 1,5 milhão na quantidade de trigo destinado a exportação, o Brasil não deve ampliar os volumes de importações este ano, acredita o setor. No primeiro trimestre deste ano, o Brasil importou 1,495 milhão de toneladas, o menor volume desde o 1,174 milhão importado em 2005 no mesmo período. No primeiro trimestre de 2010, a importação de trigo foi de 1,805 milhão de toneladas.

Dois fatores foram destacados como principais agravantes para a redução das importações, o primeiro se refere ao preço internacional do produto e a alta volatilidade deste mercado. O segundo ponto é por conta do maior volume de entrada da farinha Argentina no País. "Acredito que o mercado não está comprando muito por conta da volatilidade nos preços. Quando o mercado está assim e os preços estão altos, normalmente os moinhos recuam em suas compras. Quando importamos menos trigo é por causa dos preços internacionais mais altos, e ao mesmo tempo temos uma demanda menor por conta da invasão da farinha Argentina no País", ressaltou Lawrence Phi, presidente do Moinho Pacífico no Estado de São Paulo.

O chefe-geral da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Trigo), Sérgio Dotto lembrou que a expectativa para este ano é de uma safra de trigo menor no Brasil, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que prevê uma queda de 9,6%, atingindo 5,3 milhões de toneladas este ano, ante os 5,8 milhões de toneladas colhidas na safra passada. "A previsão para esta safra é de redução de 15% na safra do Paraná, substituindo o trigo pelo milho safrinha que está pagando melhor, e por conta dos preços e comercializações da safra passada de milho, o pessoal acabou optando pela safrinha nessa região. Mas em compensação a safra do Rio Grande do Sul ficará 15% maior. O problema é que todos os produtores de trigo acabaram escolhendo o milho por pagar melhor, então a safra será menor mesmo", garantiu.

Segundo o 8° levantamento de safras da Conab a lavoura de trigo 2011 que compõe a safra 2011/12, está em fase de implantação. No Paraná, a semeadura já passou dos 30% da área prevista. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina a semeadura deve se concentrar entre 10 de maio e 10 de abril. Em Goiás, a semeadura está praticamente concluída, salientando-se que neste estado a maior parte da lavoura é irrigada. Em Minas Gerais e São Paulo, a área destinada à cultura do trigo está com a semeadura bastante adiantada. "Continua a apreensão do produtor na hora de decidir o tamanho da área a semear com trigo, devido aos problemas de comercialização ocorridos nas safras anteriores, embora no momento os preços praticados no mercado estejam um pouco superiores aos praticados anteriormente. Em praticamente todos os estados produtores, está prevista redução de área, apenas no RS haverá aumento da área".

Pih afirmou, que não só o Brasil terá essa quebra de safra, mas países como, os Estados Unidos, Rússia e até o Canadá. "Estamos preocupados com os problemas climáticos na Alemanha, na Rússia, na França, na Polônia, nos EUA, e no Canadá, e não sabemos o que vai acontecer. O estoque mundial de passagem foi muito menor que no ano passado, e o milho está tomando áreas de trigo em todo o mundo, e chegou a superar o preço do trigo. Nos meus mais de 40 anos nessa área eu nunca vi isso acontecer. Normalmente a diferença é de 30% a favor do trigo", disse ele.

Por conta disso o setor acredita que a partir desse mês os preços do trigo tendem a subir no mercado brasileiro, e seguir mais elevados até o inicio da colheita, que acontece em agosto. Para Dotto, mesmo com essa tendência de alta os produtores brasileiros deste cereal, ainda irão priorizar as vendas externas do produto, dada a maior rentabilidade. "Se o preço continuar ruim no Brasil, mesmo com essa alta o pessoal optará por exportar, e podemos chegar a quase dois milhões de toneladas de exportação, pois como o mercado externo está bom, o pessoal está exportando", afirmou ele.

Classificação

Pih comentou que com o adiamento, para o próximo ano, da entrada em vigor das novas classificações para o trigo pão, passando de 180 de força de glútem para 250, o trigo que será produzido este ano não atenderá ainda as qualidades mínimas para os moinhos brasileiros, e com isso após a entrada da safra os preços devem voltar a despencar. "A nova classificação foi adiada, então ninguém está com muita pressa pára produzir trigo de boa qualidade, mesmo porque o governo acaba por intervir e comprar esse trigo que não usamos, para enviar para o nordeste ou para exportar.


Fonte: DCI - Diário do Comércio & Indústria

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