O Painel “Estratégias para convivência com adversidades climáticas”,
apresentado no dia 19 de maio, trouxe à tona os desafios enfrentados pelos
agricultores devido às adversidades climáticas e apresentou tecnologias que
contribuem com a mitigação dos impactos na produção agropecuária.
O evento, realizado no auditório do Sindicato Rural, durante a 57ª Expoagro,
contou com a presença de produtores rurais, técnicos da assistência rural,
pesquisadores, professores e estudantes.
O chefe geral da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados/MS), Harley Nonato
de Oliveira, destacou a importância das pesquisas que buscam gerar
informações que possam impactar, não só para a obtenção de ganhos
produtivos, mas também, aquelas que permitam a convivência e mitigação de
dos impactos negativos das adversidades climáticas, que são uma constante em nossa região. Ele disse ainda que “as tecnologias para lidar com as adversidades estão disponíveis e as estratégias para convivência com as adversidades devem ser debatidas em atividades como esta”.
O diretor do Sindicato Rural de Dourados, Michael Araújo, agradeceu a presença de todos. Segundo ele, a Expoagro tornou-se a maior feira de agropecuária do Mato Grosso do Sul, pois contou com várias parcerias, com destaque da Embrapa, desde suas primeiras edições, realizando debates que fornecem direções e apresentam caminhos para os agricultores. Segundo ele, “a Embrapa desenvolve um papel importante, não só na região de Dourados, mas em todos os locais onde ela chega”.
Painelistas - O primeiro palestrante do painel, foi o pesquisador da Embrapa Soja (Londrina/PR), Salvador Foloni, que falou sobre “Ecofisiologia da Soja e Mitigação dos Efeitos Climáticos" e ressaltou que as adversidades climáticas têm penalizado severamente os agricultores. Ele falou que o manejo da estiagem não é incluído na gestão de riscos, embora a tecnologia esteja disponível. Foloni enfatizou que existem estágios do desenvolvimento da cultura da soja mais sensíveis aos estresses hídricos, como a fase vegetativa e o enchimento dos grãos.
Segundo Foloni, 95% das lavouras de soja do país são em regime de sequeiro, ou seja, não são irrigadas, o que faz com que o déficit hídrico e as variações de temperatura diurna e noturna sejam os responsáveis pelos principais impactos negativos observados nas safras. “Sob estresse climático, a fisiologia da soja é amplamente afetada, e é essencial acompanhar o balanço hídrico para entender os efeitos da perda de água nas plantas”, acrescentou ele..
Novo Zarc Soja - Falando sobre a evolução do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), o pesquisador da Embrapa Agricultura Digital (Campinas/SP), Eduardo Botelho, destacou a importância da gestão de riscos climáticos como um ciclo contínuo. Ele ressaltou a necessidade de identificar os principais riscos e suas possíveis consequências, além de implementar medidas para minimizá-los e ajustar os processos de produção. Botelho mencionou a frequência de eventos climáticos adversos extremos e as perdas drásticas associadas a eles.
Em sua apresentação, ele explicou detalhes da nova metodologia do ZARC. A primeira cultura contemplada com a mudança foi a Soja, por isso, a tecnologia recebeu o nome ZARC Soja 06 ADs. A nova metodologia busca conciliar estratégas de manejo aprimorado de solo, levando em consideração os impactos do déficit hídrico nas lavouras de soja.
Assim, a nova abordagem da metodologia consiste em incorporar seis categorias de disponibilidade de água, determinadas com base na textura do solo, em vez de apenas três categorias baseadas principalmente no teor de argila. A estimativa da água disponível (AD) para cada área de produção será calculada levando em consideração os teores de silte, areia e argila do solo, por meio de uma equação (conhecida como função de pedotransferência) que foi devidamente ajustada para atender às diferentes características dos solos brasileiros.
Ele disse ainda que a mudança no ZARC deste ano, para a safra 23/24, já vem com mudanças na Portaria do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), clique aqui e acesse a Portaria SPA/MAP nº 76, de 26 de abril de 2023. “Esta alteração foi realizada devido a uma demanda do setor produtivo, que estão adicionando um nivel de detalhamento mais especificos para cada região produtiva da soja”, informou ele.
Segundo Eduardo, quanto mais cobertura do solo, maior a taxa de infiltração de água e maior a resistência hidráulica das lavouras, além de inúmeros benefícios ao sistema produtivo como um todo. Ele salientou ainda que a publicação da Série Embrapa, intitulada “Níveis de manejo de solo para avaliação dos riscos climáticos na cultura da soja” reúne informações completas e detalhadas sobre o tema.
O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados/MS), Julio Cesar Salton, falou das principais estratégias de manejo que podem ser adotadas para evitar os prejuízos causados pelas adversidades climáticas que geraram perdas nas últimas safras de soja no Mato Grosso do Sul. Em média, a soja necessita entre 450 a 800 mm para cada safra, estes números variam em função do ambiente e do ciclo da cultura. Ele apresentou ainda informações do mapa de água disponível (AD) no solo do MS. Saiba Mais: Mapa inédito aponta a capacidade de retenção de água nos solos de Mato Grosso do Sul.
Em suas análises, Julio avaliou resultados de produtividade da soja em três sistemas de manejo: Plantio Convencional (PC), Sistema Plantio Direto (SPD) e Integração Lavoura Pecuária (ILP) ao longo das últimas safras. “O ILP permite maior estabilidade e capacidade produtiva, resiliência e proporciona respostas positivas às lavouras, mesmo diante de anos com amplas adversidades climáticas como foram enfrentadas nas últimas safras no Estado”.
“Além disso, as pesquisas realizadas ao longos dos últimos anos, nos possibilitam estabelecer algumas orientações simples que podem contribuir com a qualidade do solo, ampliando a capacidade das lavouras de tolerar eventos climáticos adversos, tais como estiagens e/ou veranicos”, disse Salton.
Para o pesquisador adotar algumas atitudes simples, tais como: cobertura do solo (erosão não é mais admissível); boa taxa de infiltração da água (possibilita aproveitamento máximo das chuvas e previne a lixiviação); raízes de soja profundas sem limitações químicas e/ou físicas (favorecem a nutrição das plantas e facilitam a busca por água); boa estrutura de solos, evitar movimentações do solo (gradagens, escarificação, entre outras) são atitudes que, segundo Salton, os produtores devem ter em mente ao longo de todo processo produtivo de suas lavouras.
O produtor rural Otávio Vieira de Melo compartilhou suas experiências com os participantes. Segundo ele, enquanto na safra 20/21, o MS enfrentava excesso de chuvas, o RS passava por um processo de estiagem severa. “Desta forma é fundamental que o produtor compreenda conceitos básicos de meteorologia. A diferença entre tempo e clima, é uma delas”. Ele explicou que o tempo é caracterizado por condições climáticas que ocorrem por um curto período de tempo que variam de um a sete dias. Já clima são as condições climáticas duradouras de uma região.
Ele relatou a sua experiência exitosa na integração da produção agrícola, no caso soja e milho, com a suinocultura, onde o mesmo aproveita a água gerada pela pecuária e, após decantada dos resíduos sólidos nas lagoas, é utilizada em processo de irrigação por sistemas de gotejamento para as culturas, principalmente nas fases críticas dessas, assegurando ótimas produtividades. “Cada vez mais, o produtor tem que ficar atento com as possibilidades tecnológicas e utilizá-las a seu favor, de forma a garantir uma estabilidade de produção e renda” disse Otávio.
Por fim, o evento contou com uma interação com o público através da participação através de perguntas aos palestrantes.
Fonte: Embrapa.
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