Na safra passada foram lançadas oito cultivares de soja, todas com excelente potencial produtivo, perfil de adaptação às diversas regiões e com resultados muito positivos no campo, dentre as quais destacamos: BRS 1061IPRO, BRS 543RR (Block) e BRS 544RR.
De acordo com o pesquisador e melhorista da Embrapa Soja, Carlos Lasaro Pereira de Melo, o programa de melhoramento sempre procura lançar, junto com os parceiros, como é o caso de 20 anos com a Fundação Meridional, cultivares de excelência, que vão atender as demandas do mercado, do produtor e do sistema de produção como um todo. “O principal objetivo é o constante ganho em produtividade, com rentabilidade e sustentabilidade!”, garante o melhorista.
BRS 1061IPRO
A variedade BRS 1061IPRO é um material que superou todas as expectativas. “Temos observado que quem testou na safra passada e que já fez alguma área maior em áreas de lavoura neste ano, confirmou que é um material com desempenho superior, produzindo acima de 80 sacos por hectare”, garantiu ele. Isso tudo se alinha ao conceito Top 5.000, que a Fundação Meridional preconiza como "régua" da seleção.
É um material indicado para toda a macrorregião sojícola (MR) 2, que engloba o norte, noroeste e oeste do Paraná; centro-sul, sudoeste e médio Paranapanema de São Paulo; e sudoeste e centro-sul de Mato Grosso do Sul. Esse ano, contudo, ela está sendo estendida também para a MR 1, região que abrange o sul e sudoeste do Paraná até Santa Catarina e sul de São Paulo. Para a próxima safra (21/22), já se avalia também a extensão para a MR 3 e MR 4.
O ciclo dessa variedade é precoce, com grupo de maturidade (GM) 6.1, sendo uma boa opção nessa região um pouco mais alta e fria. “Nos ensaios da última safra ela apresentou uma excelente produtividade frente às principais cultivares do mercado, superando esses materiais. Então, por conta disso, estamos indicando também para a MR 1”, afirma o pesquisador.
É importante, porém, que os produtores sigam toda a recomendação técnica estabelecida para cada um dos materiais, em termos de posicionamento, população e melhor época para plantio. Isso pode variar de ano para ano ou safra para safra, devido também às questões de variações climáticas, o chamado “fator imponderável”. “Como forma de mitigar isso, a gente sempre indica a melhor época e a melhor população para aquela determinada região”, constata Carlos Lasaro.
E, além de ser uma cultivar Intacta, ou seja, que possui resistência a algumas lagartas, ela agrega ainda uma moderada resistência a Meloidogyne javanica, que é um dos nematoides de galha com frequente ocorrência nas áreas onde ela é indicada. “Se o produtor tem este problema em sua área, uma boa opção é utilizar a BRS 1061IPRO”, indica.
BRS 543RR (Block)
Um pouco mais precoce, esse material possui GM 6.0. A BRS 543RR está indicada para a MR 2. Além de seu potencial de produtividade para atingir cerca de 80 sacos por hectare, o pesquisador da Embrapa Soja afirmou ainda que ela possui a Tecnologia Block, ou seja, apresenta maior tolerância ao complexo de percevejos, que podem causar danos severo nas plantas e grãos de soja. Com esta característica especial, a cultivar garante ainda uma maior sustentabilidade da lavoura.
Assim, se em uma determinada condição acontecer um surto da praga e o produtor, por algum motivo, não conseguir controlar adequadamente com controle químico, esse material vai apresentar uma menor perda de rendimento e qualidade. “Por isso dizemos que a tecnologia Block oferece maior tolerância ao ataque do percevejo, pois não se trata de resistência”, explica ele.
A Tecnologia Block não é transgênica, ou seja, ela pode estar tanto na variedade convencional, quanto na RR ou Intacta (IPRO). Esse é um processo de melhoramento de vários anos, que foi agregando e selecionando características importantes. “ BRS 543RR é um material indeterminado que, além da questão da Tecnologia Block, agrega também uma boa resistência à podridão-radicular de Phytophthora”.
BRS 544RR
A BRS 544RR, é uma cultivar que tem GM 6.2 e que também está indicada para a MR 2. É, portanto, uma excelente opção de portfólio, por ser um pouco menos precoce que a BRS 543RR, com alta produtividade e estabilidade, também apresentando resistência à podridão-radicular de Phytophthora.
A BRS 544RR, segundo o pesquisador, é um material que chamou muita atenção pelo seu ótimo desempenho no campo. “É uma cultivar RR, que mostrou um alto potencial produtivo, quando comparada aos principais padrões Intacta, que estão no mercado há duas safras”, constata Lasaro.
Muitos técnicos e produtores questionam sobre a resistência aos nematoides de galha, tanto na BRS 543RR, quanto na BRS 544RR. No entanto, um dado interessante é que a maior área de produção hoje no Brasil é com cultivares que não têm resistência aos nematoides, nem de galhas, nem de cisto. “Então, apesar de nos concentrarmos fortemente na obtenção dessa resistência, isto comprova que nem sempre é negativo lançarmos um material sem resistência. O foco central está no alto potencial de rendimento e nas inovações tecnológicas, como Shield e Block. Então, temos sempre uma cultivar para cada perfil de agricultor!”.
Refúgio
Segundo o melhorista, tanto a BRS 543RR, quanto a BRS 544RR, são excelentes opções para o produtor que deve fazer suas áreas refúgio para garantir uma maior longevidade da tecnologia Intacta. “A Embrapa continua desenvolvendo e gerando cultivares RR para dar essa opção de escolha para o produtor que precisa fazer o refúgio. São cultivares com potenciais produtivos, tão bons quanto as Intactas, de acordo com a indicação em cada região”, coloca ele.
O pesquisador afirmou que uma das dificuldades do refúgio é que, às vezes, o produtor alega que a RR produz menos que a Intacta. “Isso não é verdade. Constantemente frisamos aos produtores que, no caso das opções que a Embrapa tem hoje, são materiais, no mínimo, com mesmo potencial produtivo da Intacta”, reforça.
As variedades "não Intacta" servem também para aquele produtor que quer reduzir seus custos. As sementes de soja convencional ou RR, são mais baratas do que as de soja Intacta, pois essa última tem embutido o preço da taxa tecnológica. Então, o produtor que perceber que vale a pena fazer um manejo adequado e que compensa pelo maior potencial produtivo da região na qual ele está produzindo, pode também optar para semear a área total com uma cultivar RR ou uma convencional.
Ele especifica que esse rendimento superior é uma característica que vale para BRS 543RR e BRS 544RR. Elas são boas opções de refúgio para o produtor que vai usar uma maior área de Intacta. É muito importante ele ter uma opção de refúgio dentro de ciclos próximos e que possa ser utilizado com alto potencial produtivo.
Sucessão com o milho "safrinha"
As novas cultivares, assim como boa parte das lançadas nos últimos cinco anos, podem ser plantadas já no início da época de semeadura, ou seja, se encaixam muito bem na sucessão com o milho "safrinha". Todas essas variedades apresentadas estão indicadas para a MR 2 e o sistema de produção que predomina é a sucessão soja/milho. Lembrando que todas essas variedades são de tipo de crescimento indeterminado e todas possuem indicação de plantio para segunda quinzena de setembro. Significa dizer que, nesta situação, elas não apresentam limitação de porte e possuem também um alto potencial produtivo, o que depende, é claro, das condições climáticas, não só na semeadura, mas também durante todo o ciclo.
Safra 2020/2021 terá ainda mais novidades
De olho nas demandas do mercado das diferentes regiões de atuação da Fundação Meridional, o programa de melhoramento passou a concentrar esforços na obtenção de genótipos com características mais específicas e que trouxessem opções produtivas e inovadoras aos sojicultores. Assim, o leque de cultivares se ampliou e fortaleceu com cultivares diferenciadas e que serão lançadas na safra 20/21. Serão quatro novas variedades: BRS 537e BRS 573, além de BRS 1054IPRO e BRS 539, que destacaremos a seguir.
BRS 1054IPRO
A BRS 1054IPRO é um material super-precoce com GM 5.4, específico para a MR 1 - Região sul e sudoeste do Paraná, Santa Catarina e sul de São Paulo. Nos ensaios da VCU e em áreas pré-comerciais, essa variedade mostrou produtividade elevada, ficando inclusive acima de padrões muito fortes, indicados para região. “É um material que, para as condições da MR 1, pode ser plantado antecipadamente, pois possui um bom crescimento”, explica e acrescenta Carlos Lasaro, referindo-se ao fato de que pode ser plantado já no final de setembro e início de outubro.
A Fundação Meridional, junto com a Embrapa, vai promover um expressivo número de áreas pré-comerciais para comprovar em áreas de produtores de referência, o grande potencial que a pesquisa já mostrou. “É um material que tem capacidade de produção acima de 90 sacos por hectare, especificamente desenvolvido para essa região mais alta e de clima mais ameno”, destaca o pesquisador.
Ela possui ótima resistência à podridão-radicular de Phytophthora, que para a MR 1 é mais importante ainda, pois este fungo ocorre com maior frequência nos solos dessa região. “É um material que pode ser utilizado sem medo de ter algum, problema de morte de planta por esse motivo”, explicou.
Quem plantou, aprovou
O engenheiro agrônomo Luiz Tarcísio Behm, de Pato Branco-PR, conduz ensaios de VCU na região e já está testando a variedade BRS 1054IPRO há duas safras, desde quando ainda estava como linhagem. “Realmente é um material que apresentou uma performance muito boa em relação a todos os aspectos agronômicos. Ele fica bem de pé, não acama e é muito produtivo”, constata. De acordo com Behm, essa é uma variedade que também se diferenciou em relação ao bom comportamento em condições de estresse hídrico.
Segundo Behm, os agricultores de referência, que plantaram áreas pré-comerciais e colaboraram na avaliação do material antes de seu lançamento, também aprovaram com louvor essa variedade. “A gente está de fato acreditando que teremos uma excelente contribuição dentro das características de soja precoce”, explica Luiz. Ele destaca que existe uma demanda específica na MR 1 por esse tipo agronômico. “São cultivares que o agricultor consegue plantar em uma época ideal e ainda assim permitem fazer uma segunda safra, que é um dos grandes objetivos da maioria dos produtores da região”.
“Por essas muitas razões, estamos muito felizes em participar, junto com a Fundação Meridional e com a Embrapa, do lançamento da BRS 1054IPRO. Ao meu ver é uma alternativa excelente e acreditamos muito em toda a potencialidade que ela tem”, comenta o especialista. Uma característica interessante que essa variedade apresenta em relação aos principais concorrentes é que ela permite fazer um plantio mais antecipado. “Nós comparamos com outras variedades do mesmo padrão e ela foi bem superior. Alcançou patamares de rendimento realmente surpreendentes”, conclui Behm, que também realiza as ações de desenvolvimento de mercado em toda região.
BRS 539
Muito além de trazer uma variedade de soja convencional, precoce (GM 6.1), indicada para MR 1 e MR 2, o lançamento desta nova cultivar, da parceria da Embrapa com a Fundação Meridional, estabelece um marco histórico em inovação do melhoramento genético de soja. Isto porque a BRS 539 é a primeira variedade que tem a incorporação da Tecnologia Block e da Tecnologia Shield no mesmo material. “Nós tivemos a grata satisfação de ter uma cultivar que agregou essas duas tecnologias simultaneamente”, disse o pesquisador e melhorista, Carlos Lasaro Melo.
Resultados do grande esforço da pesquisa, a Tecnologia Block, como já citamos, confere tolerância diferenciada ao complexo de percevejos e a Tecnologia Shield promove a resistência à ferrugem. Esta genética de vanguarda desenvolvida pela Embrapa, em parceria com a Fundação Meridional, certamente contribuirá de forma expressiva no manejo integrado de pragas e doenças, resultando em sustentabilidade do sistema produtivo e em rentabilidade para o agricultor!
Volte para a Listagem