Apesar de um cenário um pouco mais cômodo no sentido de acomodação dos grãos da safra recorde do Paraná, estoques continuam bem acima do esperado para o período na região de Cascavel. A comercialização, praticamente um mês após o fim da colheita, equivale a cerca de 35% da produção, que em Cascavel chegou a 1,739 milhão de toneladas - 82% a mais do que na safra de verão passada.
No mesmo período de 2009, os produtores já haviam vendido metade da safra. “O produtor só vende se tiver preço e quando precisa de dinheiro.
Neste momento, aguarda reação do mercado. Continuamos com falta de espaço, mas a soja armazenada de forma improvisada está sendo industrializada, medida que ajuda no escoamento”, explicou o presidente da Coopavel (Cooperativa Agroindustrial de Cascavel), Dilvo Grolli.
Segundo ele, associados que entregaram soja venderam apenas o mínimo necessário para o pagamento de dívidas e despesas com a própria colheita.
Com isso, 65% dos grãos deverão permanecer nos silos até o segundo semestre. Alternativa confirmada pelo analista de mercado Camilo Motter, que aponta comercialização média de 33% dos estoques até o momento, quando R$ 1 no preço do lote se torna expressivo na formação de renda do produtor. “Em média, a venda no mercado de lotes oscila entre R$ 33 e R$ 34 [a saca de 60 kg].
Quando isso ocorre, as vendas aquecem. Na segunda-feira, por exemplo, quando estava em R$ 32,5, ninguém vendeu nada. Não percebemos uma continuidade.
Mas na terça, o cenário foi melhor.Há solavancos que impulsionam a comercialização num dia e a derrubam no dia seguinte. Isso deve continuar por mais algum tempo”.
A conta é fácil de entender. Ano passado, logo após a colheita, houve quebra na safra argentina e os preços internacionais eram atrativos. A lei da oferta e procura dita a regra.
Assim, este ano, com oferta abundante de grãos em âmbito mundial, os preços despencaram. Sobram grãos, falta preço. Ontem a saca de 60 quilos era vendida no balcão a R$ 30,60, pouco mais de R$ 1 acima dos valores praticados nos últimos dez dias.
Em abril do ano passado a saca chegou a R$ 45. A rentabilidade afeta o ânimo do produtor. “O que se nota é que muita gente vendeu o que precisava e vai esperar reação de mercado para o segundo semestre.
Mas como tudo é incógnita no mercado, isso também pode mudar”, destacou Motter. O Paraná, segundo a Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná), tem capacidade de armazenamento para 25 milhões de toneladas.
Balanço próximo do fim já soma mais de 21 milhões de toneladas colhidas na safra de verão (soja e milho), mas que se somam nos silos aos grãos de duas safras de trigo, encalhados nas cooperativas devido à falta de mercado para o grão. O problema que está longe de ser resolvido.
Fonte: Jornal Hoje
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