A mancha amarela é uma das principais doenças do trigo na Região Sul do Brasil, favorecida pelo plantio direto que garante alimento para o fungo entre os cultivos. Na última década, a mancha amarela tem aparecido com maior frequência também nos cultivos da Europa e Canadá. O cenário de mudanças climáticas deixa em alerta importantes centro de pesquisa do mundo para o aumento na incidência de doenças no trigo, com a formação de parcerias na avaliação de novas tecnologias para controle de doenças emergentes no cereal mais plantado no mundo.
A mancha amarela do trigo é uma doença foliar que acomete lavouras em, praticamente, todas as regiões produtoras do cereal no mundo. Os danos têm sido crescentes na última década devido às oscilações climáticas que aumentam a frequência das chuvas e elevam as temperaturas durante os cultivos de inverno e primavera. Com ampla distribuição geográfica, a mancha amarela no trigo foi registrada em países da América do Sul, África e Europa, além do Canadá e Austrália.
No Brasil, a mancha amarela é mais frequente na Região Sul, causada pelo ataque do fungo Pyrenophora tritici-repentis que sobrevive nos restos culturais de gramíneas utilizadas no sistema plantio direto na palha. O fungo causa lesões na folha, reduzindo a área de fotossíntese que responde pelo rendimento de grãos na cultura. As perdas em lavouras de trigo e cevada podem chegar a 50%.
Para controle da mancha amarela têm sido utilizadas estratégias químicas (fungicidas), manejo (rotação de culturas – duas safras sem trigo ou cevada) e genéticas (cultivares resistentes). Contudo, a agressividade do fungo tem desafiado os pesquisadores na oferta de cultivares resistentes e na total eficiência dos fungicidas, resultando em falhas no controle em diferentes locais do mundo.
Em busca de um melhor controle da mancha amarela em trigo, a Embrapa e a Universidade de Aberystwyth (Reino Unido) criaram uma rede de colaboradores, com a participação da Universidade de Curtin (Austrália), Universidade de La Plata (Argentina) e a Epamig (Minas Gerais, Brasil). O projeto vai estudar a doença visando o desenvolvimento de ferramentas de identificação e detecção precoce da doença. Serão utilizadas tecnologias de fenotipagem rápida com sensores para captura de imagens dos sintomas de estresse por doenças nas plantas em tempo real, uso de toxina para avaliar a sensibilidade das plantas à doença, caracterização de genótipos de trigo e de isolados do fungo, entre outras técnicas.
“A mancha amarela é uma ameaça emergente à produção de trigo mundial, que apresenta grande resistência aos fungicidas. O projeto visa somar estratégias de campo com resultados de laboratório permitindo o controle precoce do problema, identificando material genético mais resistente e a redução no uso de fungicidas”, conclui o pesquisador da Embrapa Trigo, Flávio Santana.
Equipamentos detectam sinais emitidos por plantas estressadas
De acordo com o Diretor de Pesquisas da Universidade de Aberystwyth, Luis Mur, as “tecnologias ômicas” (omics technologies - que envolvem conhecimentos de genômica, proteômica, metabolômica, fenômica, etc), têm sido utilizadas para integrar abordagens de biologia de sistemas no desenvolvimento de ferramentas de base, incluindo a bioinformática e bases de dados relevantes. “A planta estressada produz sintomas (chamados de metabólitos) que podem estar associados à defesa da planta. Entender como funcionam estes mecanismos de defesa é possível hoje através das novas tecnologias que estão sendo avaliadas pelos institutos de pesquisa em busca de soluções de longo prazo para controle das doenças no trigo”, explica o pesquisador britânico que trabalha em colaboração com a Embrapa Trigo no controle da mancha amarela.
Novas tecnologias que integram biologia e informática também estão sendo utilizadas para avaliar doenças de espiga no trigo, como giberela e brusone. Técnicas de fenotipagem estão avaliando compostos químicos em sinais emitidos por plantas infectadas por fungos de espiga no trabalho coordenado pelo pesquisador do Instituto Rothamsted (Reino Unido), David Withall. O objetivo, segundo ele, é detectar doenças nas culturas antes mesmo que os sintomas apareçam, possibilitando maior eficiência na seleção genética ou eficiência dos fungicidas.
Fonte: Agrolink
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