18
dez
2013
Nova vilã das plantações assombra produtores

Há muito tempo pragas como ácaro, percevejos, ferrugem e até mesmo uma vasta gama de lagartas preocuparam os produtores de soja que, com o auxílio de pesquisas, passaram a exercer o manejo adequado para cada uma das pragas e até mesmo conviver com elas.

Contudo, desde a safra 2012/2013 uma nova vilã vem preocupando agricultores de todo o país e desencadeando uma série de pesquisas. De um grupo de lagartas já conhecido, as Helicoverpas, a Helicoverpa armigera está deixando toda uma cadeia produtiva apreensiva e desencadeando uma busca grande por inseticidas para o seu combate.

Segundo o pesquisador da Embrapa Soja de Londrina, Adeney Bueno, o relato da safra passada na Bahia de que mesmo com a aplicação de inseticidas estavam sobrando lagartas nas lavouras chamou a atenção do instituto. "A coleta a campo aconteceu no início de 2013, porém, somente em março conseguimos fazer a identificação correta e a comunicação oficial ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)", afirmou o pesquisador se referindo às dificuldades de identificação das características da lagarta.

Confirmando a afirmação do professor e especialista em Entomologia (estudo de pragas) do curso de Agronomia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Edson Roberto Silveira, de que "já tínhamos na lavoura a presença de outras lagartas e com medidas de controle, porém, a presença da Helicoverpa armigera para nós é uma nova realidade que ainda precisa de estudo para entendermos o comportamento", uma rede de monitoramento da praga foi criada no Estado.

Em uma espécie de força tarefa, a Embrapa, com o apoio da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), demarcou pontos na grande maioria do Estado que está sendo monitorado pelos Fiscais de Defesa Agropecuária (FDA).

Na microrregião de Pato Branco, o monitoramento vem acontecendo há cerca de um mês em seis propriedades (três em Bom Sucesso do Sul, uma em Clevelândia, Mariópolis e Pato Branco), de acordo com a engenheira agrônoma e fiscal da Adapar Nilse Maria de Souza. "Nessas áreas que estamos monitorando na nossa região não encontramos nenhuma lagarta com as características indicadas pela Embrapa como sendo a Helicoverpa armigera", disse Nilse.
Segundo a fiscal, tal dificuldade tem uma explicação. "Quando fomos procurados pela Embrapa, nos foi pedido área com Manejo Integrado de Praga (MIP), o que não temos aqui na região, mas mesmo assim estamos realizando o monitoramento", afirmou ela, relatando que os agricultores estão assustados e estão reduzindo o intervalo de aplicação dos inseticidas, dessa forma os fiscais não estão encontrando lagartas no campo.

No entanto, Nilse não descarta a possibilidade das lagartas serem encontradas. "O ataque mais intenso compreende o período de dezembro e janeiro, então não está descarta a possibilidade de encontrarmos a lagarta do tamanho que precisamos para as pesquisas".

Ela também é enfática ao afirmar que "é possível afirmar que temos a Helicoverpa na região, mas como a armigera e a zea (comumente encontrada no minho) são muito similares, inclusive nas características físicas, precisamos ter cautela, portanto, é necessária a constatação de laboratório". A afirmação de Nilse ganha coro do professor Silveira.
"Estamos recebendo exemplares de lagarta de diversos pontos do Sudoeste, alguns com as características descritas para a Helicoverpa armigera, porém, o mais importante nesse momento é o acompanhamento da lavoura", pontua Silveira, apontando que os agricultores não devem se apavorar, uma vez que assim como outras pragas a lagarta vai estar presente nas culturas. "O que não pode acontecer é a aplicação abusiva e inadequada de tratamentos, mas, sim, deve-se manter a vigilância da lavoura e das pragas e ver os níveis de danos gerados, para só assim tomar a medida necessária".

Comportamento

O engenheiro agrônomo Sandro Italo Perusso, que atua em uma revenda de insumos de Pato Branco, confirma a preocupação dos agricultores. "Tivemos que nos adaptar a diversas pragas, contudo, neste caso, o que vem sendo relatado é um hábito vegetativo diferente. A Helicoverpa está atacando a planta como um todo, e não como outros tipos de lagartas que têm preferencia ou pelas folhas, ou pelas vagens", descreveu Perusso.

Ele ainda relata que as lagartas já conhecidas tinham como característica de ficar mais nas pontas das plantas, o que facilitava o controle. O que não acontece com as Helicoverpas, que não têm uma região da planta que ela ataca.
Prerusso também fala em atenção redobrada para o controle da praga. "Pela ação da lagarta precisamos ter um cuidado maior, uma vez que atingir a Helicoverpa vem sendo muito difícil, e o tratamento vem sendo na planta, para que ela venha a se alimentar para depois morrer. Então acabamos tendo um controle menos efetivo", comentou.

Falta de inseticidas
Conforme Perusso, a grande preocupação dos agricultores gerou a falta de inseticidas tanto em revendas como na indústria. "Com os produtos que temos hoje no mercado conseguimos controlar a lagarta no início do seu ciclo, porém, quando ela está em um estágio adulto, o controle fica mais difícil", afirma o agrônomo.

Segundo Perusso, que trabalha em uma revenda de insumos, não há inseticidas a pronta entrega atualmente. "A preocupação com as lavouras fez com que os estoque se esgotassem. Não se tem mais nada para a comercialização, e a própria indústria deve voltar a produzir e entregar os inseticidas para as revendas a partir de janeiro."

Ele comenta ainda que pode ter havido certo exagero pela procura de inseticidas em um primeiro momento, só que se criou um alarme que poderia faltar inseticida e o produtor foi em busca de comprar. Nossa preocupação hoje quanto revenda é ter o produto certo e na quantidade certa para quando precisar. E isso vai gerar um problema. Daqui a pouco não vamos ter o produto para entregar para os produtores".

Disseminação
Mesmo que as pesquisas de campo do escritório local da Adapar não sejam positivas para a presença da Helicoverpa armigera, o laboratório de Entomologia da UTFPR já possuiu alguns exemplares da praga, que foram coletados em diversos pontos do Sudoeste.

"Os agricultores estão recebendo bastante informações sobre a praga", disse o entolomogista e professor universitário Edson Roberto Silveira, descrevendo a lagarta: "o que diferencia a Armigera das outras lagartas já conhecidas é a presença de pelos no corpo, sua agressividade, uma vez que tocada ela se curva formando uma espécie de cabide com a cabeça, também tem a presença de cerdas no primeiro e segundo segmento abdominal, porém, no primeiro terço de seu corpo ela tem pelos pretos  que são diferenciados de outras lagartas".

As características descritas por Silveira também são destacadas por Adeney Bueno, que é enfático. "Ela [Helicoverpa armigera] está disseminada. É um inseto que voa, portanto não está apenas em pontos isolados", disse, completando que "mesmo tendo sido identificada em março, nada pode garantir que ela não estivesse nas lavouras antes desse período, já que é muito difícil separar ela das outras lagartas do mesmo grupo".

Principal recomendação
De acordo com Bueno, a principal recomendação repassada pela Embrapa é o monitoramento das lavouras. Ele também destaca a importância do já conhecido sistema de batida de pano para saber a atuação da praga no campo. "O produtor deve saber que não deve aplicar inseticida preventivamente, uma vez que atrapalha. Nesse momento a Embrapa não é contra, nem a favor de inseticidas, o fato é que necessita monitoramento. Aplicar o tratamento no momento certo, na quantidade certa, é sucesso para o resultado".

 

Fonte: Diário do Sudoeste

Volte para a Listagem
whatsapp