23
jul
2014
Moinhos do Brasil se preparam para comprar mais trigo nos EUA, diz indústria

 

Roberto Samora

SÃO PAULO - Os moinhos de trigo do Brasil preveem volumosas compras do cereal nos Estados Unidos no segundo semestre do ano, apesar da expectativa de uma safra recorde no país, diante de incertezas sobre a oferta da Argentina e da qualidade do produto nacional, disseram representantes da indústria nesta terça-feira.

O Brasil é um dos maiores importadores globais de trigo, e tradicionalmente realiza a maior parte de suas importações no Mercosul.

No entanto, as previsões indicam que as compras brasileiras nos Estados Unidos em 2014 poderão ser novamente elevadas, após importações de atípicas 3 milhões de toneladas em 2013 --no primeiro semestre, as aquisições nacionais somaram 1 milhão de toneladas nos EUA.

Com a manutenção das restrições a exportações na Argentina, tradicional fornecedor do Brasil, as previsões são de que o Brasil compre pelo menos 1 milhão de toneladas adicionais fora do Mercosul, especialmente dos EUA, no segundo semestre. Os maiores volumes serão importados pelos moinhos do Nordeste, mais próximos dos EUA, mas as indústrias do Sudeste também tomarão parte dos carregamentos.

"As importações de trigo extra Mercosul (quase tudo norte-americano) com isenção da TEC (Tarifa Externa Comum) continuam a todo vapor", disse o presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih, acrescentando que o Brasil precisará comprar no segundo semestre, nos EUA, um volume superior à cota de 1 milhão de toneladas isenta de taxa.

O governo brasileiro isentou uma cota de 1 milhão de toneladas extra Mercosul da tarifa de 10 por cento, ao final de junho, com o objetivo de evitar impacto dos custos do trigo na inflação no país.

Mas o prazo para comprar o volume da cota, até 15 de agosto, é curto, e ela não será toda utilizada, segundo as indústrias. "A minha estimativa é (de uso da cota) no máximo 700 mil toneladas", acrescentou Pih, ressaltando que mesmo sem isenção de tarifas as importações do produto norte-americano vão continuar nos próximos meses.

"O trigo mais caro é o trigo que não existe", disse ele, opinando que a commodity no mercado global, que atingiu uma mínima de quatro anos na bolsa de Chicago, atingiu um piso e deverá subir a partir de setembro. "A demanda mundial está em linha com a oferta. Não há muito excesso e qualquer contratempo climático pode causar um stress nos preços."

Para Pih, embora as previsões oficiais apontem uma safra recorde de trigo no Brasil este ano, acima de 7 milhões de toneladas, a qualidade do produto nacional está sob a ameaça de chuvas na colheita e de eventuais geadas. Ele argumenta ainda que o Brasil plantou mais trigo "brando", não adequado para panificação, o que resulta em mais importações.

Um diretor de um outro moinho paulista, que prefere não ser identificado, afirmou que o governo deveria discutir a possibilidade de impor uma nova cota de importação de trigo de fora do Mercosul sem tarifa, com o objetivo de reduzir os custos das importações.

"Acho que deveria ter nova cota principalmente por conta dessa dificuldade do Nordeste. Eles vão ter que comprar mais. O que eles compraram cobre até setembro... vão ter que voltar ao mercado ao final de julho e início de agosto para fazer a contratação do trigo para setembro", afirmou.

O executivo, que costuma trabalha mais com o trigo importado da Argentina, lamentou as indefinições no país vizinho e o impacto da crise para os negócios.

"Os exportadores na Argentina não têm trigo, os produtores não estão vendendo, eles se retiraram do mercado para não ficar com dinheiro em banco, eles preferem ficar com a mercadoria, que é cotada em dólar", afirmou.

O executivo, no entanto, afirmou que se a safra brasileira tiver qualidade poderá aliviar a necessidade de importações.


Fonte: Reuters

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