13
mar
2012
Mesmo com duas estiagens, Paraná colhe 17,8 milhões de toneladas de soja e milho
Perdas na soja foram maiores no início da colheita. Com área ampliada, milho terá leve aumento na produção

José Rocher

Soja e milho vão render 17,84 milhões de toneladas nesta safra de verão no Paraná, apesar do impacto das duas estiagens registradas desde novembro. As perdas são de 15,8% (3,35 milhões de toneladas) na comparação com a safra recorde do ano passado, quando a oleaginosa e o cereal atingiram 21,19 milhões de toneladas. O balanço acaba de ser finalizado pela Expedição Sa­­fra Gazeta do Povo, que fez duas viagens pelo interior do estado nesta colheita.

Proporcionalmente, as perdas são maiores na soja do que no milho, apesar de uma das principais regiões produtoras do cereal, o Sudoeste, ter sido atingida em cheio pela escassez de chuvas registrada na fase de desenvolvimento das plantas – entre a última semana de novembro e a primeira de janeiro. O milho dos Campos Gerais, também forte nessa cultura, limitou o impacto da falta de umidade.

A produção da oleaginosa foi largamente prejudicada, primeiro do Sudoeste ao Oeste, com registros de perda total na região de Toledo. Entre 28 de janeiro e 18 de fevereiro, voltou a faltar chuva. Dessa vez, a estiagem prejudicou principalmente municípios do Centro-Oeste, onde a soja estava enchendo as vagens.

As chuvas chegaram tarde para muitos produtores, mas estancaram as perdas a tempo de o estado sustentar produtividade de 2,53 mil quilos por hectare de soja e de 6,4 mil quilos por hectare de milho, relatou o agrônomo Robson Mafioletti, analista da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) que integra a equipe técnica da Expedição. “A primeira estiagem durou 50 dias em muitas lavouras. Diante disso, os resultados que estão sendo alcançados são melhores do que se imaginava”, afirmou.

O Centro e o Centro-Sul, in­­cluindo os Campos Gerais, estão confirmando bom desempenho, com raros registros de quebra, acrescentou. A colheita foi concluída em mais da metade na so­­ja e no milho nos últimos dias.

No cereal, o que garantiu es­­ta­­bilidade na produção – apesar da queda de 18,3% na produtividade, a colheita deve ser 2,8% maior – foi justamente o au­­men­­to de 25,9% na área plantada. O bom momento dos preços registrado na época do plantio es­­timulou a retomada do cultivo, que vinha caindo há dois anos.

A safra de verão foi negativa para Valdir Sass, de Nova Aurora (Oeste), que cultiva 130 hectares de soja. No início da colheita, o rendimento era de 800 quilos por hectare. No final, melhorou cerca de 50%, mas o suficiente apenas para cobrir os custos dessas áreas. A saída foi acionar o seguro e começar a pensar nas próximas temporadas.

Por outro lado, muitos produtores apresentaram suas lavouras com orgulho. Caso de Manfred Becker, de Guarapuava. Ele colhe 4,2 mil quilos por hectare de soja e 12 mil quilos por hectare de milho. Numa região de clima privilegiado, vem investindo cada vez mais em tecnologia para driblar as oscilações das chuvas e elevar o rendimento dos 230 hectares que cultiva.

O levantamento de dados da Expedição Safra abrange dois terços dos 5,6 milhões de hectares cultivados com soja e milho no Paraná. Além dos dados de produtores, técnicos, pesquisadores e profissionais do agronegócio, foram analisados os relatórios das cooperativas, que originam a maior parte da produção.

La Niña permite recuperação parcial no inverno

Quando ainda faziam avaliações sobre as perdas da safra de verão, os produtores começaram a planejar o plantio de inverno. A meta era deixar a quebra climática para trás e recuperar renda com o cultivo contínuo da terra. A segunda safra de milho e feijão, no entanto, também sentiram um pouco a falta de chuva registrada em fevereiro. Um terço das lavouras já semeadas mostra-se regular e dois terços apresentam bom estado, conforme avaliação do Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná. O impacto do clima nessas lavouras começa a ser medido.

“A falta de chuva levou embora a margem de lucro que o produtor teria no verão. Quem paga arrendamento e teve perdas, empatou ou ficou no prejuízo. A saída é continuar plantando”, disse Vilson Munaretto, de Bom Sucesso do Sul, Sudoeste do Paraná. As perdas chegaram a 30% no milho de verão e a 20% na soja em sua microrregião, apontada como uma das mais produtivas do estado.

Em Bom Sucesso do Sul, ao contrário do que ocorre do Oeste ao Norte do estado, os produtores não apostam no milho de inverno. Se­­guindo o histórico agroclimático, plantam feijão e, até maio, definem área para o trigo. A quebra cli­­mática pressiona os agricultores das redondezas a seguirem na contratendência estadual e investirem no cereal de inverno, relata Muna­­retto. Isso apesar de a região ainda não ter vendido um terço do trigo colhido no ano passado e das reclamações sobre as cotações oferecidas pelo mercado, entre R$ 23 e R$ 25 por saca de 60 quilos de trigo.

Segundo os produtores, o problema para as culturas plantadas durante o período seco foram as precipitações esparsas. Se não tivesse chovido nada, as sementes ficariam guardadas no solo. Mesmo fraca, a umidade desencadeia o processo de germinação. Em seguida, as plantas passam a depender de uma sequência de chuvas para se desenvolver, mas os registros não foram regulares. Até sexta-feira, o tempo não foge à regra das últimas semanas, com céu parcialmente nublado e pancadas de chuva nas principais regiões agrícolas do estado, conforme o Simepar.

Fonte: Gazeta do Povo
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