30
nov
2009
Mercado da soja exige produtor estrategista
Apesar da colaboração do clima, preços da soja podem ser menores na próxima safra em função do aumento na produção nos Estados Unidos e América do Sul
Depois de um ano difícil, com intempéries, crise econômica mundial e preços desfavoráveis, produtores aguardam situação mais confortável na próxima safra. Porém, a agricultura lida com o impoderável e a exatidão de taxas, juros e preços futuros tem valor diminuído diante do efeito de um evento climático que pode afetar a produção. Por outro lado, o agricultor também sofre com a volatilidade do mercado interno e do exterior, que interfere diretamente nos seus ganhos.
Este ano, os produtores de commodities agrícolas estão relativamente tranquilos com relação aos eventos climáticos. O El NiÀo, de acordo com as previsões, deve garantir boa distribuição e quantidade de chuvas - embora o plantio de soja tenha se ressentido do excesso de precipitações de algumas semanas atrás. Mas os produtores de soja, por exemplo, terão a concorrência da safra recorde dos Estados Unidos - em torno de 90 milhões de toneladas - e da Argentina, que deverá colher cerca de 53 milhões de toneladas.
Atualmente, os preços se sustentam na casa dos US$ 10,00 o bushel, graças a uma demanda aquecida e aos estoques mundiais baixos. De acordo om Leonardo Menezes, técnico de uma empresa de consultoria de Uberlândia (MG), os estoques de soja dos Estados Unidos na safra 2008/2009 estavam em 38 milhões de toneladas, o que representava 4,5%. "A média dos últimos cinco anos é de 9,1%", compara o consultor. Uma das principais demandas é o mercado asiático, com aumento de consumo da China.
Porém, os fatores físicos não são os únicos componentes do mercado. "Os preços sofrem os reflexos da "fraqueza de outras commodities" e daqueles que investem em papéis", diz. Segundo ele, estes são fatores de curto prazo. O mercado, num segundo momento, vai sofrer os efeitos do desempenho das lavouras da América do Sul.
Gilda Bozza, técnica da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), vislumbra preços menores na próxima safra, em função do aumento na produção nos Estados Unidos e América do Sul. "O mercado sofreu retração e os produtores estão reticentes em fechar negócios internamente", afirma. Segundo ela, os contratos têm alcançado entre R$ 33,00 e R$ 36,00 saca para o mês de março do ano que vem.
A técnica da Faep afirma que o agricultor deve ter um olhar amplo sobre a produção e mercado. ""Antigamente, o produtor só avaliava a produção, o estoque e o consumo"", diz. Mas para ter êxito, destaca, deve considerar outras variáveis. "Deve estar antenado com o mercado financeiro, Bolsa de Chicago, petróleo e previsões climáticas", afirma. Segundo a técnica, a partir das avaliações, o produtor terá como definir os patamares de rentabilidade e traçar uma estratégia de comercialização.
Esta prática é adequada no caso do milho, por exemplo, que passou por uma condição desfavorável no último ano - com perdas na safra principal e na safrinha, causadas pela estiagem. Nas últimas semanas houve reação na Bolsa de Chicago, mas não promoveu reflexos internamente. De acordo com Gilda, a colheita norte-americana atrasou e há problemas com a qualidade. No início do mês, o produto foi negociado em Chicago a US$ 8,66 a saca; no dia 17 chegou a US$ 9,50 e na última terça-feira baixou para US$ 9,25. Nesse dia, segundo a técnica, os investidores migraram para o dólar.
fonte: Folha de Londrina - Raquel de Carvalho