14
nov
2012
Mauá da Serra/PR inaugura Museu do Plantio Direto

A cidade de Mauá da Serra (75 km ao sul de Londrina/PR) ganha, no próximo dia 23, um espaço para guardar parte importante da história do município. O Museu do Plantio Direto será inaugurado numa cerimônia marcada para 10 horas e abrirá as portas para mostrar aos visitantes as primeiras máquinas e implementos agrícolas usados no sistema que mudou a história do município e serviu de exemplo para a agricultura no Brasil.

“A comunidade de Mauá da Serra foi a primeira do país a usar de forma coletiva o sistema, conseguindo mostrar claramente os seus benefícios para o solo e para a produtividade”, comenta Sérgio Higashibara, produtor integrante do Grupo de Desenvolvimento de Tecnologias, que encabeçou o projeto de construção do Museu junto com a Associação Cultural e Esportiva de Mauá (ACEM) e Prefeitura do município.

Os também produtores e membros do Grupo Carlos Kamigushi e Ademar Uemura ressaltam que hoje o Sistema Plantio Direto está espalhado pelo país e é adotado em todas as atividades agropecuárias. “Ajudou a controlar a erosão, recuperou o solo, proporcionou o aumento da produção e produtividade, viabilizou a agricultura em larga escala no Cerrado, levou mais renda ao pequeno e médio produtor, conciliou a atividade econômica com a preservação do ambiente e a viabilidade da agricultura familiar”, destacam.

Pioneirismo

Uma das importantes peças do Museu do Plantio Direto é a semeadora Allis Chalmers, doada pelo produtor Herbert Bartz, pioneiro do Sistema Plantio Direto no Brasil.

Ele comprou a semeadora nos Estados Unidos, para onde viajou em busca de informações sobre o sistema no-tillage (sem preparo do solo) no início dos anos 1970.

O produtor que vive em Rolândia (PR), conta que já estava “desesperado” com a situação na época. A cada chuva, ele via a terra correr rio abaixo, levando junto todo o investimento em sementes, adubos, herbicidas e, especialmente, o solo fértil. “Era preciso fazer alguma coisa”, diz ele.

Com o auxílio dos pesquisadores do então Ipeame - Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária Meridional, em especial o pesquisador Rolf Derpsch, Bartz soube que havia experiências fora do Brasil em que os produtores plantavam sobre palha.

Em maio de 1972, Bartz seguiu para uma viagem a vários países, mas foi nos Estados Unidos que ele encontrou a experiência que mais chamou sua atenção. Na Universidade de Lexington, em Kentuchy, foi recebido pelo pesquisador e extensionista Shirley Philips, que por sua vez o levou ao produtor Harry Young, em Herndon, Virgínia, que trabalhava no sistema no-tillage.

Após a visita, ele fez o pedido, nos EUA, de compra da semeadora Allis Chalmers, com oito linhas de soja e seis linhas de milho. Com ela começou o plantio de soja em uma pequena área de sua propriedade. Aos poucos, o sistema avançou, tomando toda a fazenda.

Falta de maquinário: a primeira dificuldade

Também faz parte do acervo do museu o protótipo da FNI de 100 polegadas, que deu origem à Rotacaster 80, a primeira semeadora feita no Brasil com a finalidade de servir ao Plantio Direto.

A falta de maquinários e implementos foi uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos pioneiros do Sistema Plantio Direto no Brasil. Aqueles que existiam eram apropriados para trabalhar a terra sem cobertura. “Eles não conseguiam abrir a palha e atingir uma profundidade suficiente para plantar a semente”, conta o produtor de Mauá da Serra, Carlos Kamigushi.

Sentindo as dificuldades para semear a terra coberta com palha, os produtores começaram a adaptar os maquinários existentes, com a ajuda das oficinas, da pesquisa e das indústrias.

Desta forma, ano a ano equipamentos mais modernos e apropriados foram chegando ao mercado, como a própria Rotacaster 80, a Semeato TD 300, o implemento denominado “Entrelinhas”, para aplicação do herbicida Gramoxone dirigido, entre outros.

Herbicidas, mais um desafio

Não foi apenas a falta de maquinário específico que dificultou a vida dos pioneiros do Plantio Direto.

Paralelamente ao desenvolvimento de máquinas e implementos agrícolas, a indústria química buscava soluções para controle das invasoras e um grande volume de informação era gerado pela pesquisa, que buscava novos conceitos de conservação do solo.

No início, o Gramoxone, da ICI (atualmente Syngenta), era o único herbicida disponível no mercado. Era importado e aplicado com dupla finalidade: no manejo, para dessecação de ervas antes do plantio; e na eliminação de ervas entre as linhas de soja. Na época não existiam os herbicidas pós-emergentes.

As limitações do Gramoxone estavam no fato de ser um herbicida de contato não seletivo e na resistência de determinadas ervas à sua atuação. Assim, as plantas daninhas que sobravam após a aplicação muitas vezes tinham que ser eliminadas na enxada.

Já em 1978, O Roundup, da Monsanto, começou a ser comercializado no Brasil. Ele surgiu como uma alternativa eficiente de combate ao mato. Sua ação era sistêmica, matando completamente as ervas. Porém, o preço desse produto era ainda impeditivo para boa parte dos produtores.

Entre os anos de 1977 e 1978 vieram os herbicidas seletivos, como o Basagran e o Poast, da Basf, sem os quais o sistema de Plantio Direto teria se inviabilizado no Brasil.

Outro marco aconteceu com a quebra de patente do Roundup, da Monsanto. Isso viabilizou a chegada ao mercado do similar Glifosato, que tinha como principal vantagem o preço mais acessível.

“Com o Museu, nós queremos preservar essa importante história e mostrar para os nossos descendentes e a todos que visitarem este espaço a luta de toda uma classe de trabalhadores para recuperar o solo e preservar sua atividade”, comenta Ademar Uemura, produtor e também presidente da Associação Cultural e Esportiva de Mauá (ACEM).

Como tudo começou

A experiência que estava sendo desenvolvida em Rolândia, na fazenda Rhenânia de Herbert Bartz, foi levada para Mauá da Serra pelo tio de Ademar Uemura, Cândido Uemura, e por seu pai, Yukimitsu Uemura.

O produtor Cândido ainda tem claras as lembranças de uma época em que quase tudo que se plantava era facilmente levado pelas águas das chuvas. Retrabalho e prejuízos faziam parte da rotina dos produtores rurais de toda a região.

O município de Mauá da Serra, que era grande produtor de batata, não só perdeu o título – devido ao aparecimento da doença “mancha do chocolate” - como quase viu a agricultura ser inviabilizada devido às grandes erosões provocadas pelo excesso de chuva sobre um solo descoberto e cultivado dentro dos conceitos da agricultura convencional.

Um dos momentos marcantes para Uemura ocorreu em 1970. A terra estava preparada, o herbicida incorporado, aguardando apenas a chuva para iniciar o plantio de soja. “Mas ela veio tão forte, que levou tudo embora”, conta Uemura. Era só mais um episódio de uma história que se repetia constantemente.

Desistir não fazia parte do dicionário da família, que, diz Uemura, “lutava diariamente para sobreviver”. A terra foi toda preparada novamente, mas ele sabia que era preciso fazer alguma coisa. Foi então que ele e o irmão Yukimitsu souberam da experiência de Bartz.

“Começamos plantando numa pequena área. Notamos que no sistema convencional a planta crescia mais rápido, mas que no final da colheita a produção era a mesma. Mas tinha uma diferença que chamou a atenção: no Plantio Direto o solo ficava mais sadio”, lembra Cândido Uemura.

Em 1975, grande parte dos produtores de Mauá já adotavam o Sistema, tornando assim, a colônia japonesa da região a primeira a implantar de forma coletiva o Plantio Direto.

Reunião da Câmara Temática

A inauguração do Museu acontece num momento em que a Federação Brasileira do Plantio Direto na Palha comemora 20 anos desde sua criação e o Sistema de Plantio Direto, por sua vez, chega aos 40 anos de implantação no país.

Além da abertura do Museu em Mauá da Serra, uma outra ação que marcará a data será a realização de uma reunião da Câmara Temática da Agricultura Sustentável e Irrigação, ligada ao Ministério da Agricultura, em Londrina, dia 22 de novembro, no Centro de Difusão de Tecnologias (CDT), salas A e B do Iapar (Rod. Celso Garcia Cid km 375, Londrina, PR).

A reunião será aberta às 14 horas pelo presidente da Câmara, Ivo Mello. Entre os assuntos da pauta estão a inclusão no Iapar na Câmara, a Regulamentação do Decreto de Barramento para Utilização de Irrigação para Fins de Utilidade Pública e Interesse Social; palestra sobre " O Plantio Direto e a Biodiversidade do Solo", com a professora. Dra. Marie Bartz; e debate sobre a proposta de projeto de lei que Institui o Dia do Plantio Direto.

Fonte: Assessoria de Imprensa

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