O mês de dezembro também foi de precipitações bem abaixo do esperado, com exceção apenas de áreas no extremo Nordeste do RS. O pior cenário foi na Zona Sul, onde os acumulados ficaram abaixo dos 25 mm. As anomalias de precipitação ficaram negativas na maioria das regiões. O impacto da deficiência hídrica é observado nas lavouras de milho e soja, em rotação, que não fazem uso da irrigação. Na cultura do arroz, em algumas regionais, já falta água para a manutenção da lâmina d’água.Sabe-se que, anos com influência da La Niña, tendem a ser mais secos, devido aos menores volumes de precipitação. Pesando nisso, calculou-se a evaporação da água, utilizando a Equação de Linacre (LINACRE et al. (1993). A evaporação é definida como o processo físico pelo qual um líquido, como a água, é transformado em estado gasoso, como vapor de água. Este processo é influenciado por outras variáveis meteorológicas, como a temperatura e a umidade relativa do ar, a ocorrência de ventos e a radiação solar.
Pelos mapas da Figura 3, observa-se que a evaporação observada em setembro de 2022 foi baixa, entre 90-120 mm, e praticamente dentro dos valores da NC, embora o acumulado de precipitação neste mês tenha sido abaixo da NC, com valores entre 60-90 mm. E, mesmo assim, os valores da evaporação foram maiores que os da precipitação ocorrida em setembro, ou seja, houve déficit de 30 mm.
Já quando se analisa o mês de dezembro de 2022, a evaporação já é bem maior, acima de 240 mm na Fronteira Oeste (abaixo da NC que é de 120-150 mm) e bem acima dos valores de precipitação ocorridos naquele mês, que ficaram em 30-60 mm. Ou seja, o déficit ficou em 210 mm na região.
A evaporação ocorrida em 2022 é bastante semelhante à observada no mesmo período de 2021, um agravante importante para a situação da forte estiagem que atinge o RS em mais uma safra agrícola. Aos se fazer uma análise provocativa, pense que: mesmo se tivesse chovido acumulados semelhantes ao da NC da região da Fronteira Oeste, que varia de 120-150 mm, haveria um déficit de 120 mm. Claro que, em uma situação em que as chuvas ocorrem, todas as variáveis meteorológicas utilizadas no cálculo da evaporação, seriam menos favoráveis aos altos valores de evaporação. Mas, mesmo assim, é algo a se levar em consideração quando se pensa em culturas de sequeiro.
Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño - Oscilação Sul) e perspectivas
A temperatura da água da superfície do Oceano Pacífico Equatorial continua mais fria que a média, desde meados de 2020, porém, vem apresentando sinais de enfraquecimento nas últimas semanas. A anomalia da temperatura da superfície do mar na região Niño3.4 baixou para -0,8 °C em dezembro e, para apenas -0,3 °C, na região Niño1+2. A temperatura da água na região Niño1+2 possui grande correlação com a quantidade de chuvas no RS. Quando as anomalias de temperatura são negativas, a tendência é de que haja diminuição nas chuvas por aqui, tendo relação com as estiagens entre a primavera e o verão. Pode ser que agora, com as temperaturas das águas na região Niño1+2 mais próximas da normalidade, as precipitações venham a ocorrer com maior frequência no RS, comparada aos últimos meses. Outro fator importante e que as águas do Oceano Atlântico também aqueceram um pouco nos últimos meses. Estes dois fatores aliados podem favorecer as chuvas no RS nos próximos meses, mas, acredita-se que a regularidade nas precipitações ainda longe de ocorrer.
De um modo geral, em dezembro o sistema acoplado oceano-atmosfera permaneceu consistente com a atuação da La Niña. O relatório publicado pela NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), em 12 de janeiro de 2023, prevê com 73% de probabilidade, de a fase Neutra iniciar no trimestre Fev-Mar-Abr/2023. Porém, o padrão atmosférico (consistente com La Niña) se manteve, o que faz pensar que essa Neutralidade ainda pode demorar mais que o esperado para chegar.
Nas águas subsuperficiais do Oceano Pacífico também se observa enfraquecimento do bolsão de águas com anomalias negativas de temperatura, principalmente no mês de janeiro de 2023. A velocidade deste enfraquecimento é o que ditará quanto tempo a La Niña ainda se fará presente no Oceano Pacífico.
Fonte: Agrolink
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