Entrevistamos com exclusividade a meteorologista Amanda Balbino Cardozo, colaboradora da Meteored. A especialista fala sobre o que esperar ainda do fenômeno climático La Niña até o ano que vem, além de como serão as chuvas na reta final do plantio de soja e as projeções do tempo para a agricultura em 2021.
Agrolink – Como você está analisando a intensidade do fenômeno La Niña neste momento no Brasil?
Amanda Balbino Cardozo – Os indicadores oceânicos e atmosféricos divulgados por alguns centros como a Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA), o Instituto Internacional de Pesquisa para o Clima e a Sociedade (IRI) e Bureau of Meteorology (BOM), refletem um La Niña com força moderada neste momento. Em resumo, as projeções mostram que o fenômeno deve continuar durante o verão, com aproximadamente 95% de chance de janeiro a março. As perspectivas dos modelos climáticos ainda sugerem que o evento deve retornar a uma fase neutra durante o final do verão ou outono.
Agrolink – O que os agricultores das principais regiões produtoras do País (Centro-Oeste e Sul) podem esperar para o final do ano e início de 2021?
Amanda Balbino Cardozo – O final de ano irá apresentar episódios de chuva, mas ainda de maneira irregular e com volumes não tão expressivos quanto o esperado nas regiões Centro-Oeste e Sul do país. Mesmo com os eventos de chuva é esperado anomalias negativas de precipitação, ou seja, chuva abaixo da média nesta segunda quinzena de dezembro, em grande parte da região Centro-Oeste. De acordo com os mapas de anomalias de precipitação, em janeiro as condições serão mais favoráveis, com perspectivas de acumulados de chuva acima do esperado nas áreas produtoras da região noroeste do Mato Grosso e em boa parte do Mato Grosso do Sul. Nas demais áreas do Centro-Oeste ainda ficará abaixo da média no início do ano.
Na região Sul houve um retorno das chuvas que trouxe alívio para o período de estiagem prolongada em que a região estava vivendo. No entanto, é esperado mais um período de chuvas irregulares e de anomalias negativas de precipitação no Rio Grande do Sul, com destaque para a região sul do estado, entre o final deste ano e início do próximo. De acordo com as previsões, há risco de estiagem até maio de 2021 no estado gaúcho.
Nos demais estados do Sul do Brasil as condições serão mais favoráveis, os modelos de previsão indicam anomalias positivas de precipitação, ou seja, acumulados de chuva acima do esperado em grande parte do Paraná e na faixa leste catarinense, até o início do próximo ano.
Agrolink – Onde haverá chuvas mais abundantes nesta reta final de plantio de soja?
Amanda Balbino Cardozo – As chuvas mais abundantes devem se concentrar no noroeste do Rio Grande do Sul, no meio-oeste de Santa Catarina e em grande parte do Paraná, considerando as previsões de médio a curto prazo. Chuvas mais intensas também devem se concentrar no Sudeste do país, com previsões de anomalias positivas de precipitação nas regiões produtoras de São Paulo, nas últimas semanas do mês.
Agrolink – No longo prazo, como prevê o clima para agricultura em 2021?
Amanda Balbino Cardozo – Várias regiões do país devem continuar sentindo os impactos do La Niña nos próximos meses. Analisando o trimestre janeiro-fevereiro-março, os maiores volumes de chuva ficarão concentrados na região Norte do país. Boa parte da região Sudeste, incluindo também Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina, terão chuvas acima da média considerando todo o trimestre. Por outro lado, quase todo Nordeste, incluindo todo MATOPIBA, sudeste do Pará, grande parte do Mato Grosso e sul do Rio Grande do Sul, irão registrar acumulados de precipitação abaixo do esperado para o trimestre JFM.
Lembrando que as regiões com possível estiagem podem coincidir com ondas de calor, ao longo do verão, e acabar gerando um estresse maior para a cultura nas áreas produtoras.
De acordo com as previsões até o momento, no trimestre de março a maio não haverá grandes mudanças na faixa Norte do país, onde os maiores acumulados de chuva continuarão. Porém, há chances de que a estiagem avance abrangendo grande parte do Paraná e também interior de São Paulo.
Fonte: Agrolink
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