09
jan
2013
Irrigação cresce e atinge 5% da área dedicada aos grãos
Carlos Guimarães Filho

Antes considerada um luxo, a irrigação artificial cobre área cada vez maior na agricultura brasileira, incluindo lavouras destinadas à produção de grãos. As mudanças climáticas – que ampliam as incertezas em relação ao tempo – e a alta nos preços das commodities ajudam a ampliar os investimentos dos produtores rurais em redes capazes de molhar terreno equivalente a 200 campos de futebol.

Os números da Agência Nacional de Águas (ANA), responsável pela outorga do uso da água de rios interestaduais, registram essa expansão. De acordo com o último levantamento, realizado em 2010, 5,4 milhões de hectares são irrigados no país. Essa área é 23% maior que a aferida em 2006 (4,4 milhões de hectares). Desse total, 2,6 milhões de hectares são usados na produção de grãos, principalmente arroz (1,13 milhão), soja (624 mil), milho (559 mil), feijão (315 mil) e trigo (58 mil).

“Os pedidos [para uso de irrigação] têm aumentado bastante. Por conta das mudanças climáticas, os produtores estão conscientes de que se não irrigarem não vão produzir tanto quanto gostariam”, ressalta Demetrios Christofidis, coordenador de Infraestrutura rural, logística da produção e agropecuária irrigada do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Potencial

Apesar do crescimento significativo dos últimos anos, o país está longe de atingir a sua capacidade de área irrigada. A ANA projeta que o sistema de uso de água de rios tem potencial para ocupar 30 milhões de hectares.

“A média de áreas irrigadas no Brasil cresce entre 120 e 200 mil hectares/ano. O ideal é que a taxa fosse o dobro para aumentar a oferta de alimentos sem precisar ocupar outras regiões”, diz Antônio Felix Domingues, coordenador de articulação e comunicação da ANA. “Neste ritmo, o Brasil terá 15 milhões de hectares irrigados em 2035. Temos potencial para crescer mais rápido”, projeta Christofidis.

Expansão

Nas principais culturas, as áreas irrigadas são pequenas. No caso da soja, fica 2,3% e no milho, 7,1%. Nessas áreas, no entanto, a produtividade ultrapassa em até 50% as médias regionais. Produtores baianos como Ricardo Basso alcançam até 80 sacas de soja por hectare. Ele planta soja irrigada neste ano pela primeira vez, depois de ter alcançado R$ 81 por saca em média em 2011/12.

“Via de regra, a produção de grãos no Brasil não é sob irrigação. O pessoal opta por utilizar o sistema em culturas de alto risco como frutos, verduras, legumes e flores. Nestes casos, 99% da produção é irrigada”, relata Domingues, coordenador na ANA . Segundo dados da Agência Nacional de Aguas, a cana-de-açúcar e o arroz são os principais cultivos que utilizam o sistema com 3,8 milhões e 1,2 milhões de hectares, respectivamente.

“Se houver incentivo, é possível dar um impulso de ordem de grandeza semelhante a quanto a irrigação melhora o rendimento”, diz Christofidis, executivo do Ministério da Agricultura. Com o sistema, é possível elevar a produtividade em até três vezes.

Burocracia impede novas instalações

O tamanho da área irrigada no Brasil poderia ser ainda maior se os tramites para obtenção da liberação não fossem tão burocráticos. O Ministério da Agricultura (Mapa) reconhece que o processo de outorga atrasa os projetos de muitos agricultores.

“O procedimento de outorga é recente – consta na Constituição Federal de 1988, mas só virou lei federal em 1997. Ainda temos muitos gargalos, inclusive a falta de pessoal especializado para analisar os pedidos de licença”, diz Demetrios Christofidis, coordenador de infraestrutura rural do Mapa. “Estamos formando grupo de trabalho conjunto com a Agência Nacional de Águas (ANA) para apresentar alternativas”, complementa.

O produtor Paulo Ambiel sente na própria lavoura os efeitos da burocracia e da falta de infraestrutura para começar a irrigação. Com uma área de 1,3 mil hectares em Brianorte, distrito de Nova Maringá, no Centro-Norte de Mato Grosso, ele vê os R$ 950 mil investidos na aquisição de um pivô ficarem imobilizados no campo.

A estrutura está pronta para funcionar desde junho do ano passado, mas a demora na liberação da licença ambiental e a falta de carga na rede elétrica impedem seu funcionamento. “Se estivesse em uso, poderia ter pago a estrutura nesta safra, graças aos preços bons das commodities”, lamenta.

Colaboraram Igor Castanho e Cassiano Ribeiro


Fonte: Gazeta do Povo Online

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