16
dez
2013
Helicoverpa armigera e a paranóia do produtor
É muito fácil dar conselhos quando você não se está obrigado a segui-los. E pior, dar conselhos a quem não pediu. Talvez seja o nosso caso, embora não pretendamos aconselhar ninguém, apenas alertar sobre casos de excesso de preocupação com o controle das lagartas de Helicoverpa armigera, resultando em equívocos nas medidas de controle, o que leva produtores a realizar várias pulverizações desnecessárias.
Não faz sentido, por exemplo, pulverizar uma lavoura com inseticida, com a presença de lagartas de H. armigera abaixo do nível de ação (4 lagartas pequenas = ou < do="" que="" 1,5cm/m="" linear).="" o="" manejo="" integrado="" de="" pragas="" indica="" que,="" na="" fase="" vegetativa,="" a="" planta="" de="" soja="" suporta,="" em="" média,="" sem="" causar="" prejuízos,="" desfolhas="" superiores="" a="">
Estudos em andamento realizados pela Embrapa Soja no Paraná chegam a indicar que mais de 70% das lagartas H. armigera coletadas em lavouras não tratadas com pesticidas estavam infectadas por fungos, bactérias ou parasitadas por nematóides, vespas e moscas, sem considerar que possivelmente muitas lagartas não puderam ser contabilizadas por haverem sido devoradas por predadores, sempre presentes em lavouras manejadas sustentavelmente.
Se estes inimigos naturais da H. armigera não fossem eliminados com a pulverização de pesticidas não seletivos, eles possivelmente matariam as Helicoverpas ou boa parte delas, dispensando inúmeras pulverizações ou a maior parte delas. Mas há produtores fazendo várias aplicações, em muitos casos na ausência da praga, e matando mais inimigos naturais do que a própria praga.
O temor pelo prejuízo assusta mesmo. E assusta, mais ainda, quando você aposta na quase certeza de um bom faturamento com a comercialização da próxima safra e, de repente, uma pedra é colocada no seu caminho, ameaçando o sonho do lucro já contabilizado.
Nas últimas cinco safras a produção de soja foi boa e os preços animadores, após décadas de carestia no campo, período durante o qual muitos produtores acumularam pesadas dívidas. Portanto, é até compreensível que os produtores, escaldados com a penúria do passado e vislumbrando a possibilidade de zerar suas dívidas no presente, não queiram arriscar no controle da nova praga que ameaça acabar com a festa.
Mas, talvez assustados com a experiência da Bahia na safra 2012/13, onde o desequilíbrio foi preocupante e os prejuízos, idem, muitos agricultores podem estar exagerando na quantidade de pulverizações que, se bem controlam a praga, também matam seus inimigos naturais, causando desequilíbrio ambiental, o qual promove a ressurgência da praga com maior intensidade e maior resistência aos produtos.
Inseticidas biológicos e fisiológicos são os mais indicados para controlar a praga, razão pela qual o Mapa autorizou a importação emergencial da Austrália do inseticida biológico HzNPV, extremamente eficiente no controle da H. armigera naquele país.
Fique alerta produtor porque o seu temor exagerado da praga pode engordar o bolso do vendedor de inseticidas, não o seu.
Amélio Dall’Agnol e Arnold Barbosa de Oliveira são pesquisadores da Embrapa soja
Não faz sentido, por exemplo, pulverizar uma lavoura com inseticida, com a presença de lagartas de H. armigera abaixo do nível de ação (4 lagartas pequenas = ou < do="" que="" 1,5cm/m="" linear).="" o="" manejo="" integrado="" de="" pragas="" indica="" que,="" na="" fase="" vegetativa,="" a="" planta="" de="" soja="" suporta,="" em="" média,="" sem="" causar="" prejuízos,="" desfolhas="" superiores="" a="">
Estudos em andamento realizados pela Embrapa Soja no Paraná chegam a indicar que mais de 70% das lagartas H. armigera coletadas em lavouras não tratadas com pesticidas estavam infectadas por fungos, bactérias ou parasitadas por nematóides, vespas e moscas, sem considerar que possivelmente muitas lagartas não puderam ser contabilizadas por haverem sido devoradas por predadores, sempre presentes em lavouras manejadas sustentavelmente.
Se estes inimigos naturais da H. armigera não fossem eliminados com a pulverização de pesticidas não seletivos, eles possivelmente matariam as Helicoverpas ou boa parte delas, dispensando inúmeras pulverizações ou a maior parte delas. Mas há produtores fazendo várias aplicações, em muitos casos na ausência da praga, e matando mais inimigos naturais do que a própria praga.
O temor pelo prejuízo assusta mesmo. E assusta, mais ainda, quando você aposta na quase certeza de um bom faturamento com a comercialização da próxima safra e, de repente, uma pedra é colocada no seu caminho, ameaçando o sonho do lucro já contabilizado.
Nas últimas cinco safras a produção de soja foi boa e os preços animadores, após décadas de carestia no campo, período durante o qual muitos produtores acumularam pesadas dívidas. Portanto, é até compreensível que os produtores, escaldados com a penúria do passado e vislumbrando a possibilidade de zerar suas dívidas no presente, não queiram arriscar no controle da nova praga que ameaça acabar com a festa.
Mas, talvez assustados com a experiência da Bahia na safra 2012/13, onde o desequilíbrio foi preocupante e os prejuízos, idem, muitos agricultores podem estar exagerando na quantidade de pulverizações que, se bem controlam a praga, também matam seus inimigos naturais, causando desequilíbrio ambiental, o qual promove a ressurgência da praga com maior intensidade e maior resistência aos produtos.
Inseticidas biológicos e fisiológicos são os mais indicados para controlar a praga, razão pela qual o Mapa autorizou a importação emergencial da Austrália do inseticida biológico HzNPV, extremamente eficiente no controle da H. armigera naquele país.
Fique alerta produtor porque o seu temor exagerado da praga pode engordar o bolso do vendedor de inseticidas, não o seu.
Amélio Dall’Agnol e Arnold Barbosa de Oliveira são pesquisadores da Embrapa soja
Fonte: Folha Web