19
ago
2013
Helicoverpa armigera: novo desafio da agricultura
Lagartas já se encontram espalhadas pelas principais regiões produtoras do País; manejo integrado de pragas pode amenizar os prejuízos

Para o pesquisador Adenei Bueno, o monitoramento e a aplicação de inseticida na época certa são soluções contra a lagarta
O clima é de preocupação nos campos do Brasil. O motivo é a identificação de uma praga que promete dar muita dor de cabeça para os produtores nas próximas safras. Identificada no final de 2012 no oeste da Bahia, a Helicoverpa armigera é uma lagarta que já confirmou presença nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sul do País. A praga possui um cardápio variado, atacando as culturas de soja, milho, algodão, feijão, milheto e sorgo. Segundo informações da Embrapa, há relatos também do aparecimento da lagarta em tomate, pimentão, café, citros, entre outros tipos de plantas.

A explosão da população da lagarta pegou de surpresa cientistas e produtores. Adenei de Freitas Bueno, pesquisador da Embrapa Soja, explica que ainda é difícil saber a origem dessa praga, mas afirma que a instituição já começou a estudá-la. "É muito provável que a armigera já esteja inserida no ecossistema há algum tempo, isso porque ela é muito parecida com as demais espécies da Helicoverpa, sendo difícil identificá-la", salienta Bueno.

O pesquisador observa que um ano é muito pouco tempo para que uma praga se espalhe por todo País. Contudo, ele lembra que a mariposa da espécie possui uma grande extensão de voo. Além disso, esses animais podem entrar em carros, caminhões ou até mesmo em aviões, o que facilita sua locomoção. Mas a hipótese mais considerada pelo pesquisador a respeito da explosão da população da lagarta é o manejo inadequado no controle de pragas e doenças.

Bueno afirma que o uso deliberado de agrotóxicos pode ter desestabilizado o ecossistema. "O manejo inadequado, somado a um clima propício, resultou no aumento da população da lagarta", salienta o pesquisador. De acordo com ele, o monitoramento contínuo da área e a aplicação do produto certo na época certa são as únicas ferramentas para o combate à praga. "Os prejuízos ocorrem se o produtor não monitora", observa Bueno.

Além de tudo, segundo informações divulgadas pelo Ministério da Agricultura, o uso contínuo e inadequado da tecnologia Bt em algumas regiões do País também pode ter favorecido o ganho de força da lagarta, já que há relatos de que ela possui uma certa resistência à tecnologia, o que preocupa ainda mais os pesquisadores da área.

Infestação
O especialista da Embrapa explica que essa espécie de Helicoverpa é mais agressiva e destrutiva em comparação às demais. O motivo é porque a praga não ataca só as folhas das plantas, como outras espécies, mas também os frutos. No caso da soja, a vagem. Ao atingir esses locais, alerta Bueno, os prejuízos são ainda maiores. No algodão, o relato dos produtores da região Centro-Oeste é de que

elas se alojam na maçã do algodoeiro, consumindo tudo.

"Na soja, se não houver uma rápida intervenção, 100% da produção pode ser perdida", lamenta o pesquisador. Por isso, Bueno reforça que o monitoramento e a aplicação do inseticida na época certa são algumas das principais soluções. Ele explica que a intervenção química só deve ocorrer quando há uma população de três ou mais lagartas por metro.

Na fase de floração, esse índice de infestação cai para duas lagartas por metro. Acima desse número, lembra o especialista, é permitido fazer a aplicação química. Ele lembra que em lagartas de até 1,5 centímetro, o agricultor deve dar preferência a produtos biológicos ou fisiológicos. Acima desse tamanho, a recomendação é pelo uso de produtos mais fortes.

Ricardo Maia


Fonte: Folha de Londrina

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