O Ministério da Agricultura do Brasil receberá orçamento de 150 milhões de reais para gastar com programas para garantir o preço mínimo do trigo nesta temporada, o que poderá representar apoio à comercialização de 1,2 milhão a 1,7 milhão de toneladas do grão, disse nesta quarta-feira à Reuters o secretário de Política Agrícola da pasta, Neri Geller.
Segundo ele, uma portaria interministerial autorizando as medidas deverá ser publicada no Diário Oficial da União até sexta-feira, o que deve ser visto como uma boa notícia pelos produtores do cereal no Sul do país, que têm enfrentado preços abaixo do mínimo estabelecido pelo governo, em meio a uma grande safra.
O volume de 1,7 milhão de toneladas de trigo, que pode receber apoio do governo, representa cerca de 27 por cento da safra total esperada pelo Brasil. A colheita recorde em desenvolvimento, oficialmente estimada em 6,3 milhões de toneladas no país, está colaborando com a queda nos preços do cereal.
Segundo Geller, que esteve reunido no Ministério da Fazenda na manhã desta quarta-feira, a liberação de recursos já teve parecer favorável das equipes técnica e jurídica daquela pasta, aguardando apenas uma assinatura do ministro Henrique Meirelles. "Assim que sair no Diário Oficial, no mesmo dia já lanço os editais", disse o secretário.
Segundo ele, deverão ser usados principalmente dois mecanismos, conhecidos como Pepro e PEP. No primeiro, os produtores participam de um leilão para disputar um prêmio que é a diferença entre os valores de mercado e o preço mínimo definido pelo governo. No segundo instrumento, a disputa é por uma subvenção paga às empresas que fizerem a compra e a venda do produto.
O preço mínimo do trigo está definido atualmente em 38,65 reais por saca. Analistas reportam que a média dos negócios realizados está em 35 reais no Paraná e pouco mais de 31 reais no Rio Grande do Sul. Os dois Estados são os principais produtores de trigo do país.
"Os mecanismos de PEP serão principalmente para abastecer moinhos do Nordeste e de São Paulo", destacou o secretário. Segundo ele, os leilões de oferta de subvenção serão realizados gradualmente, com reavaliações à medida que os preços pagos ao produtor evoluírem.
Os preços do trigo estão tão baixos que nesta temporada o grão, mesmo o de alta qualidade, próprio para a fabricação de pão, vem sendo adquirido por indústrias de ração animal, que buscam alternativas aos altos valores do milho.
A consultoria Trigo & Farinhas estima que as compras por indústrias de ração nesta temporada deverão chegar a 120 mil toneladas no Paraná e mais 300 mil no Rio Grande do Sul.
"Se as indústrias de ração enxugarem 420 mil toneladas do mercado e o governo mais 1,7 milhão de toneladas, isto poderá, sim, elevar os preços", disse o diretor da consultoria, Luiz Carlos Pacheco.
MILHO
Segundo Neri Geller, a destinação de grandes volumes de trigo para a ração ajuda a reduzir neste momento a necessidade de oferta de milho de estoques públicos para amenizar a escassez da matéria-prima no país.
O último leilão de milho de reservas estatais ocorreu em 15 de setembro.
O secretário de Política Agrícola descarta novas ofertas de milho no curto prazo, tendo em vista que em breve a safra de verão chegará ao mercado no Sul do país, além da disponibilidade de milho do Paraguai e da Argentina.
Atualmente, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tem estoques de 720 mil toneladas de milho, armazenados majoritariamente em Mato Grosso e Goiás.
Para Geller, este volume é pequeno e deverá ser reservado para eventuais intervenções no mercado do Centro-Oeste no primeiro semestre de 2017, antes da entrada da chamada "safrinha" do grão.
"Você já pensou se faltar milho para indústria de Mato Grosso e Goiás? Se o preço subir, nós vamos entrar (com vendas de milho), mas neste momento não precisa", destacou.