Por causa da demora da chuva, o plantio da safra de verão em Goiás atrasou em média 20 dias e ficou 80% concentrado nas três primeiras semanas de novembro, criando uma situação boa e outra ruim para os produtores rurais. O lado bom é que a soja tardia costuma produzir um pouco mais, e a viçosidade das lavouras, devido à combinação de calor e umidade, é um indicativo de que as coisas andam nesse caminho.
O lado ruim é que o atraso na soja cria uma janela muito apertada para o plantio do milho de 2ª safra no ano que vem. “Normalmente, chove somente até abril. Se deixar para plantar milho em março, arrisca parar de chover lá por abril e maio, quando o milho estiver pendoando. Eu prefiro não arriscar e vou reduzir a área com milho em 30%. Só vou fazer o que der para plantar em fevereiro”, diz o produtor Rogério Vian, que no atual ciclo cultiva 600 hectares de soja no município goiano de Mineiros.
Cristiano Palavro, consultor do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária Goiana (IFAG), confirma o bom andamento das lavouras, mas diz que, mesmo assim, não há como repetir a excelente produtividade de soja no ano passado – 56 sacas por hectare, a melhor média histórica. “Normalmente, a produtividade está numa média estadual de 51 a 52 sacas. Se as chuvas continuarem regulares, pode ser que a safra seja até maior do que a do ano passado, por que a área com soja aumentou”, prevê Palavro. Segundo o técnico, houve migração de lavouras do milho para a leguminosa, o que elevou a área plantada de soja em 3,4%, totalizando 3,39 milhões de hectares no ciclo atual. A área de milho diminuiu de 270 mil hectares para cerca de 210 mil hectares.
Tradicionalmente, destaca Palavro, todas as atenções em Goiás estão voltadas para o clima. “As pragas e doenças até limitam um pouco a safra, mas o grande temor é sempre com a seca. E atualmente tem chovido bastante, então não temos problemas significativos com as lavouras”.
Apesar de não se configurar ainda uma infestação, a presença de nematoides tem sido detectada por colegas do produtor Rogério Vian, e isso, segundo ele, afeta inclusive os planos para o próximo ciclo. “Tem muita gente que vai deixar de plantar milho e fazer apenas plantio de cobertura, porque tem muito nematoide para controlar, e também porque o custo da semente está um absurdo”, afirma.
Segundo o IFAG, o uso extensivo da soja Intacta RR2 – cerca de 60% do total – tem sido eficiente para o controle da largata-da-soja, helicoverpa e falsa-medideira, entre outras pragas, mas já preocupa o aumento da incidência das lagartas do grupo Spodoptera, não controlado pela variedade transgênica.
Na avaliação do engenheiro agrônomo da Secretaria de Agricultura de Goiás Juarez Bucar, não houve, até agora, registro significativo de pragas e doenças nos cultivos de milho e soja da região. “Mas com a presença de alta umidade relativa e temperatura, podem ocorrer problemas de sanidade nestas culturas”, ressalva Juarez.
Quanto à comercialização, os produtores estariam com o pé no freio, acreditando em preços melhores em 2018. “Estamos com a comercialização travada em 28 a 29%, enquanto em outros anos, nesta época, já estávamos com 40%. O produtor está de olho na política, de como esse ou aquele candidato poderão influenciar o câmbio”, avalia Cristiano Palavro, do IFAG. O produtor Rogério Vian é ainda mais incisivo: “zero de comercialização. O preço está muito ruim. Se for vender por preço ruim, é melhor esperar quando tiver o produto em mãos”.
Segundo a Conab, Goiás é o quarto produtor de grãos no país, com 9,4% do total. Lideram a produção o Mato Grosso (26,2%), Paraná (17,2%) e o Rio Grande do Sul (15,1%).
Fonte: Gazeta do Povo
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