Passados 50 dias do vazio sanitário em Goiás, quase 60% da área de soja foi semeada no Estado. Essa é a estimativa da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO), que calcula em 3,38 milhões de hectares as lavouras cultivadas com a oleaginosa na safra 2015/16. A expectativa do setor é colher mais de 10 milhões de toneladas no Estado, que é o quarto maior produtor de soja no País.
Devido à demora no início das chuvas, o plantio de soja em Goiás está atrasado. Na média dos últimos anos, aproximadamente 80% da área estava cultivada após a primeira quinzena de novembro. "Em 2015, o atraso é maior, pois além das chuvas terem começado mais tarde, neste mês estão abaixo da média, irregulares e localizadas, o que gerou novas interrupções no plantio em diversas regiões do Estado", afirma o consultor técnico da Aprosoja-GO, Cristiano Palavro.
Em comparação a outros anos, o atraso é maior em parte do Sudoeste, principalmente nos arredores de Rio Verde, e em municípios localizados na região da Estrada de Ferro. No Norte goiano, que se caracteriza por um plantio mais tardio, a semeadura também começa a atrasar.
Palavro explica que a maioria das cultivares utilizadas no Estado se adaptam melhor a plantios realizados até o dia 15 de novembro, por isso, esse atraso pode gerar perdas em produtividade. "Os períodos de florescimento e de enchimento de grãos são as fases que exigem os maiores volumes de água pelas plantas de soja (5 a 7 mm/dia)", informa Palavro. "Nestas fases, a falta de chuvas pode trazer perdas significativas, assim como o observado nas safras 2014/15 e 2013/14 em Goiás."
Ainda segundo o consultor técnico, lavouras já semeadas que tiverem poucas chuvas podem perder "stand" (população de plantas), ficando fora da recomendação para cada variedade, e consequentemente, afetando a produtividade. De acordo com o presidente da Aprosoja-GO, Bartolomeu Braz Pereira, o stand também tem reduzido devido ao ataque de pragas, como lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) e lagarta-rosca (Agrotis ipsilon). "Também nos preocupa muito a ferrugem da soja, que vem sendo detectada em outros Estados, porque sabemos que o controle dos defensivos é ineficiente", ressalta.
Bartolomeu afirma ainda que há muitos relatos de produtores que estão precisando replantar suas lavouras. Além da pouca umidade no solo, ele cita a baixa qualidade dos lotes de sementes. "Nós esperávamos que a germinação chegasse a 90%, mas às vezes nem conseguimos 80%. Assim, gastamos mais sementes para cultivar uma área", conta. "Agora estamos com dificuldades em obter novos lotes, porque há poucas empresas e elas aumentaram os preços por causa da procura maior."
Milho safrinha
Com o plantio de soja em andamento, há receio por parte dos produtores que o cultivo de milho safrinha fique comprometido. Mesmo assim, esse cenário precisa ser melhor avaliado daqui para frente. "Como a área de milho safrinha esperada (1,25 milhões de hectares) corresponde a praticamente um terço da área de soja, há possibilidade de o plantio do cereal ainda ficar na janela recomendada, pois normalmente a safrinha é plantada nas primeiras áreas de soja que vão sendo colhidas", afirma Palavro.