Preço do transporte está 25% mais caro este ano no Estado
De cada dez sacas de soja colhidas nesta safra no Estado de Mato Grosso, quase cinco serão consumidas pelo frete. Os custos do transporte até o porto representam 8 milhões de toneladas, quase a metade da produção do Estado que responde por 62% da soja produzida no Brasil. O frete está 25% mais caro este ano, e ainda faltam caminhões. Os produtores culpam a precariedade das estradas de Mato Grosso e o aumento no custo do pedágio no Paraná e em São Paulo pelo que chamam de "apagão logístico".
Quem leva a soja para o Porto de Santos paga R$ 1.095,50 por viagem só de pedágio, média de R$ 2 por saca. É como deixar 42 sacas nas praças de cobrança. "Temos o frete mais caro do mundo", reclama o empresário Eraí Maggi Scheffer, de Rondonópolis, um dos maiores produtores do País.
O Estado já colheu mais da metade das 18,4 milhões de toneladas previstas. Como grande parte da produção foi negociada no mercado futuro, os produtores têm pressa de embarcar a produção. Muitos estão com os silos abarrotados com o milho que não foi vendido por causa dos preços baixos. O aumento na produção da soja e a coincidência da colheita com outras regiões produtoras fizeram crescer a demanda pelo transporte. Na semana passada, apenas na região de Rondonópolis cinco mil carretas circulavam.
A Rodolíder, que opera na região, tinha 300 caminhões rodando na semana passada. "Para atender a todos os pedidos, precisávamos de mais 300", disse o operador Gilson Silva Tenório. O frete alto e a certeza de conseguir carga atraíram os caminhoneiros Tadeu Alves Bezerra, de 47 anos, Renildo Marco de Moura, 41, e Djalma Alves, 33, de Bauru (SP). Estão fora de casa desde o sábado de carnaval. Depois de transportar milho para Rondonópolis, esperavam para carregar a soja para Santos. Bezerra pegou o frete por R$ 190 a tonelada, mas arcaria com os custos. Prevê uma receita bruta de R$ 7 mil. No pedágio, o gasto é de R$ 576 para ir e R$ 519 para voltar. "Em São Paulo, tem pedágios novos na rodovia Marechal Rondon e na Castelo Branco", lembra.
O produtor ainda arca com os cerca de 100 quilos de soja que se perdem no caminho de cada viagem. Uma opção seria a ferrovia: a Ferronorte possui terminais de embarque em Alto Araguaia e Alto Taquari, no sul do Estado, mas produtores reclamam do preço. "O trem deveria ser uma solução, mas virou um problema, pois o preço do frete está colado no do caminhão", diz Scheffer. A estrada de ferro continua distante das maiores regiões produtoras. "É uma situação absurda. Produzimos bem da porteira para dentro, mas na hora de pôr no navio, o valor da soja evapora."
Segundo o diretor do Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola (Imea), Sereni Paludo, o frete na principal produtora do Estado subiu 12% desde janeiro. Já o preço da soja, de R$ 26 para o produtor, é um dos mais baixos dos últimos anos. O agricultor recebeu semana passada R$ 450 por tonelada, enquanto o custo do frete até o porto é de R$ 220. Há quatro safras o governo não subsidia o escoamento da soja, medida prevista em lei para manter a competitividade.
Fonte: Estadão - Agrolink
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