30
mai
2011
Falta de opção prejudica produtores

 

Em Assaí e Santa Cecília do Pavão, no Norte Pioneiro, a situação não é diferente. De acordo com o engenheiro agrônomo da Cooperativa Integrada, Vanildo José Paes Pinto, em anos anteriores as lavouras de trigo ocupavam 90% da região. ''Hoje 50% da área da regional está plantada com trigo e os outros 50% com milho safrinha'', revela.

O agricultor Mário Hatori planta trigo desde 1975, mas nesta safra, pela primeira vez, optou por cultivar o milho safrinha. Agora, o trigo ocupa apenas 45,98 hectares de sua propriedade, em Assaí, enquanto os 50,98 hectares restantes estão tomados pelo milho. ''No ano passado produzimos bem, mas a comercialização foi um desastre. Hoje, só o trigo não dá mais sobrevivência'', argumenta. Hatori afirma que só manteve o trigo porque possui contrato com a cooperativa que garante a troca da produção por insumos. Dessa forma, ele cobre os custos de produção, mas não obtém renda. Hatori conta que só conseguiu vender a safra passada por meio dos leilões de Prêmio para Escoamento de Produto (PEP).

''Tenho saudade de quando o comércio de trigo era bom. Precisamos de garantia de compra e venda e de melhora no preço. Hoje plantamos, mas é inseguro'', reclama. O produtor afirma que há cinco anos pensa na possibilidade de produzir milho, mas continuava ''teimando'' no trigo. Segundo o agrônomo da Integrada, nos casos em que há empate de rentabilidade entre trigo e milho, os produtores preferem o trigo por ser mais seguro no inverno. ''É uma opção triste ter que mudar para o milho. Sempre gostei de plantar trigo, mas hoje infelizmente está acontecendo isso e tive que mudar'', lamenta Hatori.

Sem opção

Para o triticultor Sergio Munhoz, o problema é mais grave. Sem a opção de plantar milho no inverno, devido às condições climáticas de Santa Cecília do Pavão, o produtor precisou deixar metade de sua área em pousio. Cultivando trigo há mais de 20 anos, Munhoz deixou cerca de 278 hectares de terra sem plantar. ''É a primeira vez que deixo sem plantar nada'', salienta. Para ele, o preço deveria estar em R$ 32 para compensar.

O produtor adotou a medida mesmo contrariando as orientações técnicas, tendo em vista que a terra desprovida de cobertura pode sofrer erosão, causar aumento de ervas daninhas e falta de palhada. ''Estou deixando de produzir e de gerar emprego. A cadeia produtiva deixa de funcionar'', ressalta. Sobre a possibilidade de cultivar outras culturas de inverno, como canola, Munhoz argumenta que não há empresas para as quais possa comercializar na região. ''O objetivo do agricultor é plantar, produzir, comercializar bem e continuar plantando. Mas com esse preço, não dá'', lamenta.

Em parte da propriedade, Munhoz está plantando aveia para a cobertura de solo. Sem intenções comerciais, ele arca com o custo, mas não tem rentabilidade. ''Vou ter uma redução de 50% na renda'' revela. Se a situação não mudar, Munhoz pretende manter a estratégia na próxima safra. ''Imagino o caos, porque solução em curto prazo não se vê. A sensação é de tristeza e frustração. O que fazemos é uma espécie de greve silenciosa para que o poder público sinta através da alimentação'', ressalta Munhoz.(M.F.)

Fonte: Folha Web

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