29
ago
2013
Entrevista: “No campo, jovem precisa ser protagonista”
Luiz André Soares, gerente do Instituto Souza Cruz e especialista na educação e permanência do jovem no campo

Carlos Guimarães Filho

O campo está envelhecendo, sem a reposição necessária de mão de obra. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os filhos de produtores deixam o campo cada vez mais cedo. Antes, jovens entre 20 e 24 anos eram maioria na evasão rural. Mas, desde a década passada, prevalecem adolescentes de 15 a 19 anos.

Para o especialista Luiz André Soares, o problema precisa ser combatido com políticas especiais de educação e lazer. Só a garantia de renda não segura o jovem no meio rural, defende o profissional, que participa da 5.ª Jornada Nacional do Jovem Rural, evento que começa hoje, em Bocaiuva do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, com a presença de 300 agricultores adolescentes de diversas partes do país.

Quais os desafios para a permanência do jovem no campo?

São muitos, pois não existe causa única. Há décadas ocorre a saída do jovem para a cidade pela falta de oportunidade para permanecer no campo de forma digna. É preciso criar circunstâncias favoráveis para combater a hostilidade e fazer com que o jovem rural permaneça na qualidade de empreendedor.

De que maneira a evasão pode ser combatida?

O lema de que o jovem só pode dar certo se sair do meio rural é ultrapassado. A responsabilidade [de mudança] é compartilhada e envolve governo, associações e sociedade. A base é a família. Mas só isso não é suficiente. O jovem será chamado a fazer coisas que seus pais e avós não faziam. Assim, é preciso levar educação qualificada para o campo.

Hoje, o que falta para o jovem permanecer no campo?

Ele precisa ser autor, não só ator das iniciativas. A falta de autonomia na propriedade é um grande problema, pois, muitas vezes, os pais apresentam resistência em relação a uma atividade inovadora ou na aplicação de tecnologia no campo.

Deveria existir uma política pública específica?

As políticas públicas que existem hoje colaboram, mas não são suficientes. O alcance é baixo se comparado às políticas voltadas para a juventude urbana. No campo, falta política pública voltada para o conhecimento e educação.

Qual o índice de evasão rural no Brasil?

É difícil mensurar e não existe tal índice. Mas um dado chama bastante atenção. Na década de 90, jovens na faixa dos 20 a 24 anos engrossavam o êxodo rural. Na virada do século, passou a predominar a faixa dos 15 a 19 anos. Esse movimento deixa claro que o jovem pega o canudo do ensino médio e segue para a cidade. Isso acarreta no grave problema de envelhecimento do campo e da perda precoce de talentos. Isso preocupa bastante.

É ilusório o jovem pensar que as melhores condições estão na cidade?

Na maior parte das vezes, o jovem se sujeita a subempregos e a condições de vida precárias.

Qual a renda mínima necessária para o jovem ficar no campo?

Não existe esse número. O jovem quer muito mais coisas além da renda. Eles querem autonomia, sociabilidade e lazer.

Qual o peso da educação e do lazer neste cenário?

Fundamental. Antes, o governo tratou o problema [da evasão] como se fosse só questão de capitalização. O jovem simplesmente quer o que a pessoa da mesma idade tem na cidade. A educação é a principal área que devemos investir. Lazer e esporte também são pontos importantes.

A evasão é um dos temas da Jornada?

Esse e outros assuntos fazem parte da programação. Além das palestras, vamos mostrar exemplos de que é possível integrar a agricultura com outras atividades como agroturismo ou hospedagem rural. Também teremos momentos onde os jovens vão apresentar danças e a cultura da sua região para o grupo, além das Olimpíadas.


Fonte: Gazeta do Povo

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