A implantação dos cultivos de inverno exige uma série de cuidados pré-semeadura, como tratamento de sementes, controle de plantas daninhas, avaliação da área para conservação do solo (semeadura em contorno, terraços e controle de enxurradas), ajustes na semeadora e compra de insumos para conduzir a lavoura ao longo do ano. Contudo, um dos principais cuidados nesta fase tem sido esquecido: a análise de solo. Um procedimento de baixo custo que pode resultar em economia na condução da lavoura.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, José Pereira da Silva Junior, a análise serve para avaliar a fertilidade química do solo, orientando para a reposição de nutrientes ou para a correção da acidez. O número de amostras vai depender do tamanho da área, mas a média é de 20 amostras para cada gleba. No sistema plantio direto, as amostragens são feitas em duas camadas, até 10 centímetros e de 10 a 20 centímetros, retirando porções de 300 gramas.
Após a coleta, as amostras são encaminhadas a um laboratório especializado que define a quantidade necessária de cada nutriente. Para os produtores com possibilidade de adubar a taxa variável, pode-se fazer amostragens geo referenciadas em grade de, no mínimo, uma amostra composta por hectare. “Fazer análise de solo não significa apenas olhar para a quantidade de nutrientes, mas analisar o contexto da lavoura. É preciso considerar os diferentes tipos de solo, posição no relevo, teor de matéria orgânica, cultura anterior ou adubação. Por isso, os dados precisam ser interpretados pelo técnico da lavoura”, explica Pereira.
Em teoria, a análise de solo pode ser efetuada a cada cinco anos, mas em função da estiagem da última safra, é indicado fazer o procedimento antes da semeadura de inverno. “Com a estiagem, e consequente baixa produtividade das lavouras, ficou sobra de nutrientes no solo, principalmente fósforo e potássio. Mas para saber o quanto de economia o produtor pode fazer, só com uma boa análise de solo”, explica o pesquisador da Embrapa Trigo, Fabiano Daniel De Bona. Segundo ele, a prática tem sido colocar um pacote de fertilizantes que já vem pronto, ou seja, sem considerar a análise de solo e as reais necessidades de cada cultura, e assim o produtor acaba repondo no solo nutrientes que a planta nem vai utilizar. “É possível gastar menos repondo somente o que está em falta no solo e aproveitar o que está sobrando, com uma adubação equilibrada”, diz De Bona.
“O cultivo de uma gramínea no inverno é a melhor forma de recompor o solo”, afirma o pesquisador da Embrapa Trigo, Anderson Santi. Em função da estiagem, explica Santi, houve pouca produção de palhada para a cobertura do solo, que fica exposto às enxurradas típicas de inverno e de primavera. “Se o produtor não quiser investir em lavouras comerciais, seria necessário semear, ao menos, uma cultura de cobertura. O solo necessita de plantas, especialmente gramíneas, com raízes capazes de romper o adensamento e promover a formação de palhada para os cultivos de verão”, diz Santi, lembrando que um resultado melhor ainda é reservar 1/3 da área de verão para o milho, promovendo uma recuperação em longo prazo, através da rotação de culturas. “Às vezes, pensar em economia neste ano pode acarretar problemas no ano seguinte. Precisamos estar preparados para amenizar os prejuízos que o clima tem imposto na produção de grãos”, conclui Santi.
Joseani M. Antunes
Fonte: Embrapa Trigo