29
jul
2013
Embrapa investe em nova estrutura para a quarentena de plantas
O crescimento constante do fluxo de turistas e do comércio mundial aumenta os riscos da entrada de novas pragas no Brasil. Para se ter uma idéia dos prejuízos que a introdução de uma praga pode causar à agricultura e à economia brasileira, basta avaliar o exemplo de uma lagarta recém-introduzida no país: a Helicoverpa armigera, que surgiu nesta safra de 2013, e já causou prejuízos superiores a R$ 2 bilhões, principalmente em lavouras de soja e algodão.

Não se sabe ao certo como ela entrou no Brasil, a hipótese mais provável é que tenha sido em flores ou plantas ornamentais. Mas o fato é que a praga agora está aqui e pode causar danos a mais de 30 culturas, incluindo: soja, laranja, algodão, quiabo, cebola, melão, morango, batata doce, alface, tomate, maçã, feijão, batata e milho, entre outras.

Para enfrentar os prejuízos ocasionados por essa e outras pragas, que dizimaram lavouras brasileiras em um passado recente, como o bicudo do algodoeiro e a ferrugem da soja, são gastos bilhões e bilhões de reais em produtos químicos e, na maioria das vezes, os danos são irreversíveis, levando milhares de produtores à falência. Por isso, o ideal é investir na prevenção para evitar que pragas exóticas – que não ocorrem no Brasil – entrem e causem estragos aos cofres nacionais e coloquem em risco a segurança alimentar.

Essa prevenção tem nome: chama-se quarentena vegetal e conta com a participação efetiva da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – há quatro décadas. Desde a sua criação em 1973, a Embrapa desenvolve procedimentos de importação e quarentena dos materiais genéticos vegetais destinados aos programas de melhoramento do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA) por delegação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

85% das plantas que chegam para fins de pesquisa estão contaminadas

Segundo a pesquisadora Abi Marques, que trabalha na quarentena vegetal há mais de 20 anos, cerca de 85% das plantas que chegam ao país para fins de pesquisa estão contaminadas com pragas. Ela explica que a quarentena é parte do procedimento de “exclusão” de uma ação de controle, ou seja, cumpre a tentativa de manter as pragas fora de determinada área onde não ocorrem. “A exclusão é, tecnicamente, a melhor opção para evitar a disseminação de pragas”, explica Marques.

Para isso, a Embrapa mantém, em uma de suas 47 unidades de pesquisa, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, DF, uma Estação Quarentenária que analisa a condição sanitária do material vegetal de pesquisa que entra no Brasil. Ao longo dos 40 anos de atuação da Empresa, cerca de 80 pragas que não existem no Brasil foram detectadas e eliminadas no ponto de entrada, em decorrência da atividade quarentenária da Embrapa. Levando em consideração que os prejuízos causados pela entrada de uma praga em apenas uma safra podem chegar a R$ 2 bilhões, dá para calcular o quanto as atividades de quarentena realizadas pela Embrapa já representaram em termos de economia para os cofres brasileiros.

O processo de quarentena prevê a análise das plantas por técnicas integradas para o diagnóstico do seu estado fitossanitário (ou seja, se estão saudáveis ou não). Visa detectar a presença de plantas infestantes e parasitas, insetos, ácaros, vírus, viróides, fitoplasmas, fungos, bactérias e nematóides, prioritariamente daquelas que constam das listas de pragas quarentenárias ausentes (A1) e de pragas quarentenárias presentes (A2) para o Brasil, definidas em Instrução Normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

As pragas constantes da lista A1 são exóticas, ou seja, nunca foram relatadas no Brasil. As pragas da lista A2 estão presentes em áreas delimitadas e sob controle oficial. Se forem identificadas contaminações dessa natureza no material, ele é incinerado ou enviado de volta ao país de origem.

Mapeamento de pragas quarentenárias aponta 10 espécies como ameaças iminentes às lavouras brasileiras

As ações de quarentena desenvolvidas pela Embrapa envolvem o acompanhamento constante das pragas quarentenárias. Um mapeamento recente, realizado em parceria com a SBDA – Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária, identificou 10 novas pragas com reais possibilidades de entrar no Brasil. O estudo levou em consideração a proximidade geográfica de ocorrência das pragas e a importância econômica das culturas agrícolas que podem ser infectadas. São elas: pulgão da soja; mosca-branca “raça Q”; necrose letal do milho; monilíase do cacaueiro; amarelecimento letal do coqueiro; Striga; ferrugem do trigo; mosaico africano da mandioca; ácaro chileno das fruteiras e Xanthomonas do arroz.

Mas, de acordo com o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Marcelo Lopes da Silva, que participou do mapeamento, esse número é, na verdade, muito maior. “As dez apontadas pelo estudo são as de risco iminente, mas há cerca de 600 pragas quarentenárias ameaçando as lavouras brasileiras”, ressalta.

Para enfrentar esses desafios, a Embrapa criou uma nova unidade exclusivamente voltada à quarentena de plantas. O objetivo é modernizar a análise das sementes e outros materiais de propagação que são introduzidos no país ou intercambiados com outras instituições de pesquisa.

A nova Unidade, denominada Embrapa Quarentena Vegetal, está sendo gerenciada pela pesquisadora Abi Marques, e funciona por enquanto dentro da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, até que as novas instalações estejam prontas.

A sede da Embrapa Quarentena Vegetal, também localizada em Brasília (na área onde hoje está localizada a Fundação Casa do Cerrado, ao lado da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia) terá uma área de aproximadamente 2.200 m², além de 1.400 m² para quarentenários, que são casas de vegetação com características especiais, nas quais plântulas, mudas, estacas, etc. ficam em observação até poderem ser liberadas.

Na parte edificada, serão construídos laboratórios que abrigarão oito especialidades (fungos, vírus, bactérias, nematóides, insetos, ácaros, plantas infestantes e cultura de tecidos), nos quais o material vegetal em trânsito será examinado para verificar se está contaminado com organismos nocivos à agricultura brasileira. Aí também estão incluídos espaços para a parte administrativa da Unidade, assim como espaços adequados para a operacionalização e gestão documental do intercâmbio de espécies vegetais.

A pesquisadora enfatiza que o novo prédio, que já começou a ser construído, tem uma concepção prioritariamente funcional. “O prédio foi planejado para atender ao fluxo de material e amostras, ou seja, começa por salas de recebimento, documentação e registro, inspeção, contagem e separação de amostras. Depois, as amostras passam pelos laboratórios e, ao final de todo o processo, as sementes ou outros materiais de propagação, isentos de contaminação ou já tratados são embalados para serem remetidos ao solicitante”, explica Marques.

Dessa forma, as sementes que estão sendo examinadas e as que já estão liberadas não ficarão no mesmo espaço. Esse procedimento atende não somente às normas para instalações quarentenárias, como às Normas do Sistema de Qualidade adotado pela Embrapa para os laboratórios que emitem laudos de análise. “É a forma atendendo à função”, complementa a gerente-geral da nova Unidade.


Fonte: Agrolink com informações de assessoria

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