24
nov
2015
El Niño faz bagunça nas lavouras com poeira e lama em pleno auge do plantio

Enquanto os produtores dos estados de Minas Gerais e Goiás, no Centro-Oeste, estão plantando a safra de verão sem a umidade esperada, o excesso de chuvas interrompe as plantadeiras e também dificulta a colheita da safra de inverno no Paraná. O fenômeno climático El Niño, considerado um dos mais severos já registrados nos últimos anos, desajustou o calendário agrícola além do que se previa, apurou a Expedição Safra Gazeta do Povo, que cumpre roteiro de 2,5 mil quilômetros entre Sul e Centro-Oeste.

Apesar de, na média, o plantio do Paraná estar em dia, em cerca de 90%, as chuvas provocam atraso regional, com implicação na produtividade e nos resultados de 2014/15 e de 2015/16. Em Guarapuava, Centro-Oeste do Paraná, as lavouras de inverno já deveriam ter dado lugar à soja, mais ainda estão em pé, para desespero dos produtores.

“A soja já deveria ter entrado onde está o trigo e a cevada, mas o excesso de chuva dificulta. Chove dia sim, dia também”, lamenta Andreas Keller Junior, que já plantou os 140 hectares de milho, mas apenas 30% dos 560 hectares de oleaginosa. O ideal seriam 50%, relata.

Coordenador da assistência técnica da cooperativa Agrária, Leandro Bren conta que a alteração do calendário agrícola coloca em risco o resultado da safra, ainda mais em uma temporada de alta nos custos de produção e queda nos preços das commodities. “Quanto mais tarde plantar, menor é o potencial produtivo. Além de que a chuva em abundância pode gerar aumento de doenças e pragas [ nas lavouras de inverno]”, pontua.

Outra realidade

Se o solo do Paraná está encharcado, a poeira pinta o céu de marrom quando algum produtor mais ousado decide encarar o solo seco nos estados de Minas Gerais e Goiás. “O pessoal está plantando no seco confiando nas previsões de que vai chover”, diz Claudionor Nones, diretor do Sindicato Rural de Uberlândia, no Triângulo Mineiro. O executivo calcula que o atraso, dependendo da região, está entre 5 dias a 20 dias. Minas vem de duas secas consecutivas, fato que derrubou a média de produtividade do estado.

A baixa umidade faz com que os produtores cheguem a sentir falta de problemas antigos, quando as chuvas eram abundantes. “Tem muita gente com saudade do mofo branco (doença ocasionada pela alta umidade nas lavouras)”, brinca Ângelo José Assunção Silva, gerente comercial da empresa Protec em Uberlândia, que atende produtores num total de 400 mil hectares de soja.

Com o prazo do plantio se esgotando, o agricultor Gisenio José Duarte resolveu entrar com as plantadeiras na propriedade de 500 hectares no município de Cachoeira Dourada, em Goiás. “Eu já perdi parte da janela para o milho safrinha [que será plantado após a colheita da soja]. Os 200 hectares que ainda faltam só vão servir para sorgo no inverno”, diz, confiante de que pode repetir as 50 sacas de soja por hectare, média da temporada passada.

Roteiro

Ao longo desta semana, a Expedição Safra continua percorrendo as principais regiões produtoras de grãos do Centro-Oeste para avaliar as condições de plantio. Os próximos estados visitados pela equipe são Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

 

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