Com a maior cotação desde julho de 2009, o dólar comercial pode favorecer triticultores brasileiros. A expectativa é que preço do grão nacional torne-se mais atrativo frente ao importado, já que metade do que é consumido no país (10 milhões de toneladas) vem dos moinhos da Argentina.
Segundo o analista da Safras e Mercados Michael Prudêncio, em agosto, com o dólar a R$ 1,60, o cereal argentino chegou a São Paulo por R$ 551,46 a t. Com a alta da moeda americana, a "mesa virou" e o grão do país vizinho está chegando a R$ 671,00/t.
Segundo o consultor, o mercado começa a dar sinais de recuperação, depois de uma estagnação de mais de dois meses. A lentidão tem origem na timidez dos compradores, que ainda aguardam a consolidação da safra argentina, atingida por uma estiagem.
Mas a marcha-lenta também é determinada pela pressão de oferta de trigo de safras passadas oferecida em leilões públicos. Neste cenário, Rio Grande do Sul e Paraná estão vendendo o grão abaixo do preço mínimo, de R$ 477,00/t. Isso fez com que o governo federal anunciasse mecanismos de apoio à comercialização, que ainda não ocorreram.
O economista e consultor da Fecoagro, Tarcísio Minetto, também acredita que a valorização do dólar irá dificultar as importações da indústria. Apesar da projeção de melhora, há entraves para os produtores gaúchos como o custo logístico e a guerra fiscal, além da concorrência. "Nós evoluímos bastante. Atualmente, há investimento em pesquisa e temos trigo de qualidade. A torcida é que isso se reflita no preço."
Apesar das dificuldades, a confiança paira sob o Estado, que inicia a colheita no mês que vem. Produtores devem colher 11% a mais do que em 2010, aumentando a safra para 2,1 milhões de t. Principal produtor, o Paraná vai diminuir a colheita de 3,4 milhões de t em para 2,5 milhões de t devido a problemas climáticos.
A estiagem na Argentina também afeta o cultivo, provocando quebra da safra 2011/12. Ontem, relatório divulgado pelo o Ministério da Agricultura do país estimou que a produção fique entre 11 a 13 milhões de t, volume inferior aos 14,7 milhões de t do ciclo anterior.
A elevação do dólar é alentadora também para o setor suinícola, que sofre com o embargo russo há três meses e tenta substituir o cliente perdido com ampliação dos destinos de embarque. "Em um primeiro momento, quando se analisa as exportações, há uma sinalização de melhora", avalia o diretor executivo do Sips, Rogério Kerber.
A preocupação do executivo, no entanto, é com o comportamento dos preços do milho e de insumos importados. "Resta saber como se a evolução do dólar será consistente e duradoura, pois as importadoras terão que revisar a tabela de valores."
Ontem, a alta do dólar fez com que os preços de trigo, milho e soja recuassem na Bolsa de Chicago, acompanhando a queda dos mercados americanos e europeus. O bushel de milho para entrega em dezembro terminou a quinta-feira a 6,50 dólares, o que representa uma perda de 35,75 cents em relação à véspera.
Fonte: Correio do Povo
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